quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

TELONA QUENTE 180

Resultado de imagem para o atentado filme
Roberto Rillo Bíscaro

O doutor Amin Jaafari vive o sonho integracionista em Tel Aviv: palestino cercado de amigos judeus, bem-casado, recipiente do “Oscar da medicina israelita”, sequência de abertura de O Atentado (2013), dirigido por Ziad Doueiri. A coprodução França/Qatar/Bélgica/Egito está no catálogo brasileiro da Netflix, facinho de ver, portanto. E vale a pena.
Na manhã seguinte à premiação, Tel Aviv é abalada por ataque suicida a um restaurante, resultando na morte de uma dúzia de crianças, estratagema do roteiro para tornar a situação mais radical. E eis que o Dr. Jaafari descobre que a mulher-bomba é ninguém menos que sua idealizada esposa. A partir daí inicia-se peregrinação de descobertas político-pessoais. O médico tem que lidar com a demolição de seu mundo particular e de sua inocência social. Para que estrangeiros possamos agonizar com o ponto de vista do médico, o roteiro teve que pedir licença poética para construí-lo provavelmente inocente demais para quem vive no caldeirão fervente da contenda entre judeus e palestinos, que pressupõe atentados terroristas, massacres, rixas seculares e disputas territoriais às quais vemos com horror (até que em seguida se exibam os gols dalgum campeonato) pelos noticiários.
O ataque, então, acontece física, emocional e identitariamente a Amin. Como será de agora em diante, seu relacionamento com os amigos judeus? Até que ponto esses são realmente amigos? Como o viúvo receberá e lidará com as reações dos israelenses? Afinal, Amin é a exceção que não se enxerga ou é percebida como tal. Quantos outros palestinos bem-sucedidos e socialmente tolerados vemos no filme?
Procurando respostas, Amin viaja para a cisjordânica Nablus e lá percebe que nada entendia sobre sua posição em qualquer um dos lados rivais. Os roteiristas Doueiri e Joëlle Touma simplificam demais a conversão da bela Siham em terrorista e pedem demais do pobre Jaafari em seu relacionamento pessoal (como culpa-lo por não atender o celular, quando está prestes a subir ao palco para receber os louros?), mas como o fulcro da película está na (im)possibilidade de (co)exisitir sem tomar partido, há que se relevar esses traços.
O Atentado tenta apresentar argumentos de ambos os lados, ainda que não esteja em seu escopo situar o ódio étnico historicamente. Sem didatismo ou proselitismo explícitos, propõe questionamentos que cabem ser respondidos pelo espectador. Mas, será que existe solução? Será que todo judeu é um pouquinho árabe e nenhum árabe pode negar ser um bocadinho judeu, como diz Amin em seu discurso na premiação? 

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