Roberto Rillo Bíscaro
Se “Então é Natal”,
inspiremo-nos em Simone e deixemos de lado um pouco os filmes de horror, dramas
pesados, ficções-científicas e atentemos pruma produção francesa deste ano
chamada Bem-Vindo a Marly Gomont. Numa França cada vez mais racialmente beligerante
e morrendo de medo de atentados, o filme de Julien Rambaldi é daquelas comédias
dramáticas que tratam da superação dum obstáculo pra que ao final nos sintamos
dispostos a seguir adiante nesse mundo tão injusto. Os protagonistas se dão bem
e temos a esperança de que no fundo a alma humana é generosa, basta nos
conhecermos. Quer mais indicado pra época natalina?
Baseado num fato já musicado por um de seus protagonistas, o rapper Kamini, Bem-Vindo a Marly Gomont narra a história de integração racial do médico zairense Seyolo Zantoko e sua família em um vilarejo da Picardia, no norte francês. Em 1975, depois de se formar em medicina e não-desejoso de trabalhar pro corrupto presidente de seu país, o Dr. Zantoko aceita emprego desafiador: ser médico numa aldeia que jamais vira um negro, quanto mais um doutor. Como a comédia-romântica Você É Tão Bonito, um dos trunfos de Bem-Vindo a Marly Gomont é apresentar uma França que nada tem a ver com o glamur fabricado de Paris. Em meados dos 70’s, mentalidade e higiene daquela gente nada tinham que ver com a urbanidade da capital (como se toda a Paris fosse chique...).
A narrativa traz os desafios da família acostumada a
clima quente e ensolarado, onde as relações sociais são mais vivazes, para
adaptar-se à frialdade não apenas climática do norte. Questões como realçar ou
sublimar traços identitários étnico-culturais e a dificuldade de um
eurocentrado branco para aceitar que um diferente possa saber mais são
tangencialmente abordadas. Mas, tudo bem emotivamente, em chave dramática ou
cômica, afinal, a vibe de Bem-Vindo a
Marly Gomont é nos fazer sentir bem com uma história de sucesso. Tipo, se eles
puderam, por que não você?
Poderíamos começar contra-argumentando que nem todo
zairense tem dinheiro pra estudar medicina na França, mas, pra que estragar o
espírito natalino? É nessa data que um acontecimento liga os imigrantes aos
autóctones, adquirindo valor simbólico de comunhão entre nações, entre etnias,
que podem ser distintas em termos de geografia e cor de pele, mas apresentam
denominador comum. E quando o diferente é percebido como não-totalmente
alienígena, a integração se faz possível, mesmo que alguns radicais idiotas não
aceitem.
Então, porque é Natal, vale emocionar-se e rir com
Bem-Vindo a Marly Gomont.
Nenhum comentário:
Postar um comentário