Uma das características arroladas ao pós-modernismo é o
pastiche, cópia celebratória de estilos passados, bem ao gosto de nossa época
que quer tudo hiper-real, na esperança de recriar/viver “experiências”. Essas
discussões vieram à mente quando ouvi 2 álbuns lançados em setembro.
Deliciosos, procuram imprimir a laser 2 vertentes musicais norte-americanas dos
anos 60, sem brecha pra intromissões contemporâneas.
St. Paul And The Broken
Bones é um sexteto de soul music do
sulista Alabama. Em 2012, Paul Janeway (vocais), Browan Lollar (guitarra),
Jesse Phillips (baixo), Andrew Lee (percussão), Al Gamble (teclados) e Allen
Branstetter (trompete) fundaram a banda, que já tem 2 álbuns, 2 EPs, é elogiada
pela crítica e faz turnês internacionais com saxofonista e trombonista, pra
emular ainda melhor o som vintage que
realiza. Sea Of Noise mente no título, porque é um mar de soul à Marvin Gaye, cantado com aquela voz suave característica de
muitos clássicos do subgênero, desde Smokey Robinson ao oitentista Roland Gift
ao contemporâneo Dornik. Confira se a sexy Flow With It não faz jus ao título;
puro Gaye early 70’s; já valeria o
álbum. Mas, tem mais. Midnight On The Earth tem o baixo rebolante e a melodia
circular que originaram a disco music, mas
no fim tudo é engolfado pela luxuosa orquestração. Não faltam R’n’Bs intensos,
lentos, que podem ser dramáticos com I’ll Be Your Woman ou sensuais, como
Sanctify. Brain Matter tem pegada mais pop, ao passo que Is It Me e Waves
enveredam pelo gospel e La Bruit resvala pra psicodelia anos 60, única faixa
que se aproxima do barulho do título.
The Excitements oferece prato teórico mais cheio ainda
pra estudiosos da pós-modernidade. Seu som explosivo, calcado em feras como
Wilson Pickett, Etta James e Ike & Tina Turner, reprodução perfeita e
original do R’n’B mais visceral de fins dos 1950’s/primeira metade dos 1960’s é
feito por catalães e uma vocalista moçambicana, cantado em fogoso inglês. The
Excitements é Koko-Jean Davis (vocais), Adrià Gual (guitarra), Daniel Segura
(baixo), Albert Greenlight (guitarra), Jose Luis Garrido (percussão), Nico
Rodríguez Jauregui (sax barítono) e Jordi Blanch (sax tenor). Na ativa desde
2010, seus EPs e álbuns incendiários, aliados a turnês europeias constantes e
contagiantes, o The Excitements conseguiu devotos seguidores e respeito no
nicho R’n’B. Breaking The Rule deu sequência à emulação da sonoridade mais
rústica de selos como Atlantic, Chess, Stax e a Motown do começo.
O título do LP também não deixa de ser mentiroso, porque
nenhuma regra é quebrada; o som é revivalista até nos detalhes. As canções
escolhidas pra covers entregam o ouro
incandescente das influências: Fire, R’n’B proto-funk, de Gino Parks; Back To
Memphis, de Chuck Berry, um dos pais do rock e Chicken Pickin’, blues
eletrificado do Lonnie Mack. The Excitements é do sul espanhol e bebe do sul
norte-americano; delta do Mississippi na cabeça e nos quadris, fustigados com
locomotivas energéticas, tipo Wild Dog e apimentadamente dançáveis, como
Everything’s Better Since You’re Gone, onde James Brown meio que desce em Koko.
Também há exemplos de lentas intensas com influxo gospel, como a faixa-título, material que o belga (!) Vaya Com Dios
ensinou a geração anos oitenta a curtir, com seu sucesso de 1990, What’s a
Woman. Mas o The Excitements é melhor, porque mais orgânico.
No Bandcamp, dá pra ouvir/comprar os 2 álbuns do grupo:
Nenhum comentário:
Postar um comentário