Roberto Rillo Bíscaro
Claro que deve despertar orgulho a gigante Netflix ter
encampado a ideia de uma série brasileira. Dá gosto ver 3% comentada no
IndieWire e em jornais britânicos. Papito usa camiseta do Mickey vestido com as
cores de sua bandeira e acha piegas brasileiro saudando seus produtos?
Os 8 capítulos foram disponibilizados dia 25 de novembro
e o buchicho online tem sido grande. Como sou youtuber muito especifico, jamais ouvira falar do piloto de Pedro
Aguilera, que em 2011 bombou. Tentar controlar o máximo o que vejo/ouço/leio
pra não sucumbir a tantas modas tem um preço. Mas continua valendo a pena.
Pronto, agora não só sei que 3% existe há anos, como vi a primeira temporada
dessa distopia sci fi situada no
futuro, mas que dialoga tanto com certo discurso meritocrata atual.
Nesse porvir, 97% da população vive em megafavelas e os
restantes 3% numa ilha de perfeição chamada Maralto. Ao completar 20 anos, os
jovens do empobrecido Continente passam por bateria de provas que decidirão os
3% aptos a morar na ilha-paraíso. A temporada centra-se nesse Processo e nos
antecedentes dalgumas personagens, assim como numa disputa interna de poder
entre habitantes do Maralto, que então, não são tão perfeitos assim. Por fora
bela viola, por dentro pão bolorento, como ensinou vovó? A falta de definição e
diferenciação do Maralto pode ser desculpada nessa fornada inicial, mas terá
que ser resolvida na segunda temporada, já oficializada pela empresa. Ou a
diferença entre o continente e Maralto está apenas na tecnologia mais avançada?
Se sim, terá que ser explicitado, porque nessa temporada ouvimos falar muito de
Maralto, mas filmes e séries são audiovisiuais, o expectador precisa ver. Como
a tal Causa age? Há agentes infiltrados no Processo, mas o que a Causa
efetivamente faz fora dele?
As provas do Processo pareciam um O Aprendiz de vida ou
morte e ainda que presentes em outras produções de diferentes estilos mantêm a
atenção e enquanto o Processo se desenvolve até dá curiosidade pelo que vem. O
problema são várias inconsistências de roteiro, tipo candidato dizer que os
avós conheceram o Casal Fundador, mas sabemos que essa é a 104ª edição do
Processo. Considerando-se que é difícil de crer que o tal casal já tinha
estrutura pra montar processo assim que chega ao Maralto, deve ter demorado um
pouco até que iniciaram a seleção. Como os avós de alguém de 20 anos poderiam
tê-los conhecido? Se os organizadores do Processo e a tecnologia do Maralto são
tão apurados, como Ezequiel consegue esconder o filho tão bem? Se até implantes
falsos de chips são detectados, não há câmeras que detectem sua saída?
A produção conseguiu fazer milagre com o baixo orçamento
de que dispunha. 3% pode ser produto Netflix, mas esteve longe de receber o que
The Crown amealhou, então há que se dar desconto, não no sentido de passar a
mão na cabeça porque é prata da casa, mas porque o visual clean ficou bem legal, dá ideia da assepsia do Maralto, embora
aquele Conselho trambiqueiro e viborizado pareça certo Supremo que conhecemos,
nada asséptico e com comportamento tão explosivo quanto qualquer pessoa do tal
Outro Lado.
Como preparação de terreno,
3% foi interessante, mas a segunda temporada tem muita coisa pra equacionar.
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