terça-feira, 31 de janeiro de 2017

TELINHA QUENTE 244

Resultado de imagem para 3% netflix
Roberto Rillo Bíscaro

Claro que deve despertar orgulho a gigante Netflix ter encampado a ideia de uma série brasileira. Dá gosto ver 3% comentada no IndieWire e em jornais britânicos. Papito usa camiseta do Mickey vestido com as cores de sua bandeira e acha piegas brasileiro saudando seus produtos?
Os 8 capítulos foram disponibilizados dia 25 de novembro e o buchicho online tem sido grande. Como sou youtuber muito especifico, jamais ouvira falar do piloto de Pedro Aguilera, que em 2011 bombou. Tentar controlar o máximo o que vejo/ouço/leio pra não sucumbir a tantas modas tem um preço. Mas continua valendo a pena. Pronto, agora não só sei que 3% existe há anos, como vi a primeira temporada dessa distopia sci fi situada no futuro, mas que dialoga tanto com certo discurso meritocrata atual.
Nesse porvir, 97% da população vive em megafavelas e os restantes 3% numa ilha de perfeição chamada Maralto. Ao completar 20 anos, os jovens do empobrecido Continente passam por bateria de provas que decidirão os 3% aptos a morar na ilha-paraíso. A temporada centra-se nesse Processo e nos antecedentes dalgumas personagens, assim como numa disputa interna de poder entre habitantes do Maralto, que então, não são tão perfeitos assim. Por fora bela viola, por dentro pão bolorento, como ensinou vovó? A falta de definição e diferenciação do Maralto pode ser desculpada nessa fornada inicial, mas terá que ser resolvida na segunda temporada, já oficializada pela empresa. Ou a diferença entre o continente e Maralto está apenas na tecnologia mais avançada? Se sim, terá que ser explicitado, porque nessa temporada ouvimos falar muito de Maralto, mas filmes e séries são audiovisiuais, o expectador precisa ver. Como a tal Causa age? Há agentes infiltrados no Processo, mas o que a Causa efetivamente faz fora dele?
As provas do Processo pareciam um O Aprendiz de vida ou morte e ainda que presentes em outras produções de diferentes estilos mantêm a atenção e enquanto o Processo se desenvolve até dá curiosidade pelo que vem. O problema são várias inconsistências de roteiro, tipo candidato dizer que os avós conheceram o Casal Fundador, mas sabemos que essa é a 104ª edição do Processo. Considerando-se que é difícil de crer que o tal casal já tinha estrutura pra montar processo assim que chega ao Maralto, deve ter demorado um pouco até que iniciaram a seleção. Como os avós de alguém de 20 anos poderiam tê-los conhecido? Se os organizadores do Processo e a tecnologia do Maralto são tão apurados, como Ezequiel consegue esconder o filho tão bem? Se até implantes falsos de chips são detectados, não há câmeras que detectem sua saída?  
A produção conseguiu fazer milagre com o baixo orçamento de que dispunha. 3% pode ser produto Netflix, mas esteve longe de receber o que The Crown amealhou, então há que se dar desconto, não no sentido de passar a mão na cabeça porque é prata da casa, mas porque o visual clean ficou bem legal, dá ideia da assepsia do Maralto, embora aquele Conselho trambiqueiro e viborizado pareça certo Supremo que conhecemos, nada asséptico e com comportamento tão explosivo quanto qualquer pessoa do tal Outro Lado.
Como preparação de terreno, 3% foi interessante, mas a segunda temporada tem muita coisa pra equacionar.

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