Roberto Rillo Bíscaro
Como professor, dificilmente deixo de avaliar qualquer
coisa que veja em relação a seu potencial pedagógico, na maioria das vezes
especificamente para outras disciplinas que não as por mim lecionadas
(português/inglês), porque não há muitos filmes por aí sobre análise sintática
ou present perfect como temas. Óbvio
que as produções podem ser usadas no ensino de língua, mas quando vejo Merlí,
por exemplo, primeiro me vem à cabeça projeto na área de filosofia, por ser
mais especifico.
Quando vi 7 Años (2016), primeira produção espanhola da
Netflix, imaginei sua serventia pralgum docente em curso de técnico em
administração ou adjacentes. Mas não apenas, nessa época de dinâmicas de grupo
pra selecionar estagiários/funcionários. O filme às vezes lembra uma dessas
dinâmicas descarriladas pro mal.
4 sócios duma empresa sonegaram o fisco, mas foram
descobertos e em breve um delegado virá à sede pra prendê-los. Daí, um
estratagema: que um assuma a culpa e vá pra cadeia por 7 anos. Um mediador é
contratado pra que os prós e os contras sejam pesados e o boi de piranha
escolhido.
O modesto orçamento não compromete 7 Años, que se passa
num só ambiente e parece peça de teatro. Pra quem aprecia filme com bastante
diálogo é prato cheio. Ao longo duns 70 minutos, vamos nos inteirando das
funções, qualidade e defeitos de cada sócio e aí residirá uma das possibilidades
de aproveitamento em sala de aula. Levando em conta os atributos profissionais
de cada um dentro da empresa, qual seria o prescindível? Com relação ao papel
do mediador; este foi realmente eficaz?
Apesar do final algo preguiçoso, 7 Años não faz feio em
seu desenvolvimento, revelando diversas facetas e segredos das personagens, bem
ao gosto de tantos dramas psicológicos que reúnem gente num local e soltam
demônios. Só, que neste caso, domesticados pela tentativa (hipócrita?) de
ética, polidez, profissionalismo e máxima relação custo-benefício corporativo.
Assim, há mais níveis de discussão em jogo do que à primeira vista.
Que bom ainda haver espaço
pra filmes mais quietos, dramaticamente intensos e que ainda interessem e
possibilitem discussões.
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