terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

TELINHA QUENTE 247

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Roberto Rillo Bíscaro

Como a escandinava, vez ou outra a TV israelense fornece aos norte-americanos inspiração pra adaptações. Os originais de sucessos como In Treatment, Homeland e Hostages são israelenses. O pequeno país asiático infelizmente é mais afamado pela perene e sangrenta luta contra palestinos, que inspirou o filme O Atentado, por exemplo. De 2015, a dúzia de capítulos da primeira temporada de Fauda acresce material ficcional de qualidade às narrativas sobre o conflito.
Doron é ex-agente de um grupo da elite antiterrorista israelense convidado a se desaposentar pra eliminar de vez Abu Ahmed, líder do Hamas que se acreditava morto por Doron, só que não. Típico de série, Doron faz doce no começo, mas assim que aceita, tudo e todos a seu redor e de Ahmed envolvem-se/complica-se numa espiral de violência e caos (fauda em árabe). Tem mulher-bomba, criança como mercadoria de troca em sequestro, traição; infidelidade conjugal num suspense crescente a cada episódio, atingindo clímax de roer unha no derradeiro, que deixa uma deixa perversa, perigosa e fanática pra confirmada segunda temporada. Esse Walid tá maluco de pedra, que que ele vai aprontar, Alá de Jesus!?
Fauda usa os elementos convencionais de thriller político/de espionagem em um ambiente propício pra ambivalências. Árabes e judeus estão grudados – pra nós estrangeiros nem dá pra distinguir – e mesmo dentre os grupos há rachaduras. Claro que sendo israelense, vemos mais as cisões no lado árabe, mas estes não são representados como animais selvagens sem motivação ou “amor”. Nem os judeus são ungidos sem defeitos. Em Israel houve quem reclamasse disso. No caso do Brasil, há quem reclamará que a dublagem da Netflix apenas do hebraico sub-repticiamente traz o espectador pro lado judeu, afinal o árabe falando sua língua com legenda soa como “o outro”. 
Conhecendo melhor Doron, difícil mesmo negar que a empatia fique com ele, até porque algumas atitudes do lado árabe não são nossas escolhas primeiras como ocidentais. Temos mais a ver com o lado israelense na informalidade das relações, na postura perante a mulher, até na tolerância com um baseadinho. Mas a série é sob o ponto de vista israelense, isso nunca pode ser olvidado.
Com um elencaço em ambos os lados – que ingrato fazer os papéis de Abu Ahmed e Walid, mas os atores conseguem projetar mais do que máquinas de vingança e fanatismo – Fauda prende a atenção não apenas pela trama eficiente, mas pela locação tão distinta das séries anglo-americanas/europeias. Também é muito legal perceber diferenças culturais tipo, como aqueles homens se tocam/beijam ao passo que as mulheres, não! Tão diferente da distância masculina nas séries ianques ou dinamarquesas...
Por isso é tudo de bom sair do circuito Nordic Noir/TV britânica de quando em vez: pra olhar o distinto. Aprender que quando alguém morre por Alá é chamado de shahid (mártir). Infelizmente, vivemos num mundo onde isso existe, por que não saber? Se essas informações e olhares sobre o diferente vêm numa série absorvente, melhor ainda. 

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