Roberto Rillo Bíscaro
Ke$ha, Kimbra, Kiesza, Rumer, Lira, NAO, Iyeoka; os nomes
das cantoras de hoje dão trabalho pra resenhistas cinquentões acostumados com
Kate, Cindy, Lisa. De vez em quando aparecia uma Basia ou Sade, mas eram
poucas; agora é tudo difícil pra escrever, como AhSa Ti Nu. Não é reclamação, é
constatação. Tempos mudam, nomes artísticos também. Se o conteúdo for bom,
apanhamos um pouco, usamos “cola”, mas grafamos.
Queixas ficam pra dificuldade de encontrar informações
sobre artistas negras independentes, que fazem som old school, caso de AhSa Ti Nu. Atuando como atriz e cantora no
eixo San Francisco-Los Angeles, a norte-americana lançou seu primeiro CD, no
começo do ano passado. Reborn é pra quem curte jazz, R’n’B, soul e um bocadinho
de rock, tudo bem anos 60/70/80, ou seja, é indicado pra público mais maduro ou
pros jovens que apreciem sonoridades “clássicas” (aspas, porque esse som já foi
considerado moderno em relação a outro “clássico”).
O afrojazz Give What You Get abre à capela pra mostrar
que a moça tem gogó. Mas AhSa jamais exagera; temos no álbum todo uma voz forte
e segura, que às vezes até poderia ter se dado o luxo de fazer mais, como em
Glory, faixa derradeira, R’n’B rockado com jeitão de Come Together, dos Beatles
e solão de guitarra. A parte final poderia ser mais gritada um bocadinho, com
produção menos bem-comportada. E olhe que essas sugestões não querem dizer que
a canção seja ruim; apenas poderia ser ainda mais incendiária.
Boa parte de Reborn é composta por urban jazz sofisticado pra ouvir com vinho, namorada(o) ou
simplesmente dando carão. Love Jazz é lento com sax bem chique; I Can Feel You
também é jazz pop vagaroso, bem pra fãs de Maysa Leak; My Pharaoh é do tipo de
jazz funk do início dos anos 80 – Chakha Khan fazia isso – que a galera acid jazz aproveitaria depois.
As dez faixas de Reborn estão temperadas não apenas com
jazz, especialmente na segunda metade. Believe In You abre pop de bater
palminha ou estalar dedos; Keep a Positive Mind abre gospel com voz sobre
órgão, pra se transformar em jazz chique; Whole God tem aroma de reggae, clima
soul e lindo coro spiritual. By The
People é funk jazz muito gostoso, a única coisa estranha é a voz metalizada no
final, que soa como uma criança extraterrestre. Embora a letra engajada trate
de temas importantes para a consciência negra, dentre eles a homofobia dentro
da comunidade, o reggae Wade In The Water quebra o ritmo do álbum, porque
depois de algumas ouvidas, fica apenas uma faixa falada dentre canções tão
deliciosas.
Mesmo não sendo um álbum tão fácil pra se encontrar,
Reborn compensa o esforço da busca.
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