ENCONTROS E DESENCONTROS ELETRÔNICOS
José
Carlos Sebe Bom Meihy
Sinceramente, do fundo do meu coração: não tenho certeza
se gosto ou não do andamento das novas tecnologias e do impacto na vida social
moderna. Como professor, pesquisador, ou mesmo curioso, não há como desprezar
os avanços permitidos pela eletrônica. Nossa!... O que o Google facilita a
vida! E os GPSs e o Faceook? Os chamados telefônicos gratuitos e os efeitos do
WhatsApp, então, nem se fala. Isso sem falar da internet e dos desdobramentos
permitidos por ferramentas insondáveis que facilitam a vida, cortam caminhos.
Tudo é fantástico e parece perfeitamente integrado aos hábitos modernos. Entre
os jovens, um novo grupo surge e está circulando por todos os cantos se
reconhecendo como “geração digital” e nem imaginam como era o mundo antes. Dia
desses, visitava uma amiga que tem uma filhinha de dois anos de idade e que,
frente a um supercelular, já deslizava o dedinho pela tela como se buscasse
contatos. Fiquei inquieto e assustado com o ato mecânico da fedelha. A
realidade é que não há como deixar de lado essa parafernália toda, mas...
Mas, na altura de meus dias, não tenho como deixar de
lado algumas inquietações que andam me enlouquecendo. Confesso que há momentos
em que penso que estou fora do mundo, que sou ser de outro planeta ou pelo
menos de outras eras. Explico-me: não troco os contatos humanos por facilidades
maquinadas. Não mesmo. Gosto de gente, do tom de vozes audíveis, de troca de
olhares expressivos, de gestos, ruídos familiares. Sinto falta de toques, de
insinuações verbais, da oralidade expressa na navegação da fala livre.
Mesmo aposentado, o prazer de dar aulas me é vital.
Gostaria de morrer ensinando, ainda que saiba ser isso aterrador para os
eventuais alunos, para a direção da escola e mesmo para familiares. Mas nada
compensa o olhar atento dos estudantes, sentir efeitos de interações
construídas em torno do conhecimento. Perceber os resultados de aulas
preparadas é algo de dimensão inestimável, é como entrar no céu rodeado de
anjos. Acontece que atualmente, tem doído muito entrar em sala com todo o
script arrumadinho e... e deparar com alunos que trocam a dedicação do preparo pela
telinha, fria e quase sempre convidativa de distâncias. Por lógico, sou
daqueles professores que exercitam broncas. Não deixo de protestar e até
negociei alguma abertura, permitindo que os alunos/digitadores saiam da aula,
para resolver contatos fora da classe.
O pior, porém, é quando isso afeta o andamento familiar.
Não suporto ver pessoas à mesa deixando o prazer do convívio, e mesmo da comida,
em favor do desligamento exigido pela maquininha eletrizante. Nem menciono o
que sinto ao ver crianças à mesa com tablets,
vendo desenhos animados. Devo dizer que sou incontrolável quando me submeto a tais
situações. Peço atenção, fecho a cara, chamo à realidade da experiência direta,
enfim, aconteço até que se reestabeleça a base da pura e simples troca humana.
É verdade que às vezes, de retorno, não consigo muito mais do que caras feias,
mas elas são intensamente mais queridas do que as fugas virtuais.
Preocupa-me o futuro. Devo
dizer que estou alerta para ver o que há de acontecer. Vejo-me ameaçado como
professor pelos ameaçadores cursos ditos “à distância”, os tais EaD. Tomara que
ainda em vida eu nunca perca a alegria presencial da relação aluno-professor-sala
de aula. Tomara. Enquanto aguardo o futuro mediado pelas máquinas espero que
saiam novos manuais de boas maneiras, algo que fale de ética do convívio nos
dias atuais. Sim, acho que há de haver alguém mais que trate da mediação
eletrônica como caso de educação ou mesmo de saúde pública, pois, afinal, quem
será o doente? Os internautas ou eu?...
Nenhum comentário:
Postar um comentário