Roberto Rillo Bíscaro
Leitores mais assíduos sabem como gosto de notar a
presença de queridos velhos atores/atrizes nas séries antigas resenhadas. Virou
requisito anotar rostos conhecidos e mencioná-los como exemplos de episódios.
Sempre mais ligado no elenco do que em outros aspectos, tenho por hábito checar
filmografias no IMDB pra ver se acho o que falta pra assistir dos favoritos.
Nessas pesquisas sempre encontrava participação em
episódios de Murder, She Wrote. Astros velhuscos de Hollywood, personalidades
da TV; parecia que todo mundo passara pela série. Como dalguns anos pra cá policiais
captaram minha atenção, ano passado dediquei-me às 12 temporadas, exibidas
entre 1984-96, pela CBS. Ser anos 80 também influenciou muito em eu ter
dedicado meu tempo aos 264 episódios.
Sucesso nos EUA e muitos
países, Murder, She Wrote (MSW) passou despercebido no Brasil, onde dizem que
foi exibida um pouco pela Globo, com o nome Assassinato Por Escrito, mas não
tenho lembrança, embora no Youtube exista o começo dum episódio dublado pela
BKS:
Decalque da Miss Marple, de Agatha Christie, a detetive
diletante de MSW é Jessica B. Fletcher. Depois de viúva, a ex-professora de
inglês começa a escrever histórias de detetives sob o nome J. B. Fletcher.
Moradora da pequenina Cabot Cove, no Maine, a senhora Fletcher torna-se êxito
comercial, o que lhe proporciona amplas possibilidades de viagem e contatos com
gente da alta. Irresistivelmente simpática, penetrantemente observadora, com
jeitão de madrinha doce, a Sra. Fletcher, na verdade, é uma ave de mau agouro,
porque onde quer que esteja, ocorre(m) assassinato(s), que ela desvendará quase
sempre por haver percebido discrepância minúscula. Imagine que em 264
episódios, a pilha de defuntos é himalaica e como sempre parece que a simpática
senhora está trabalhando num livro, apenas cogita-se como teria tempo pra
tanto. Mas, MSW é daquela categoria onde elucidar um quebra-cabeça detetivesco
é pura diversão. É a morte como entretenimento depois dum dia cansativo de
trabalho e do jantar, antes de ir pra cama.
A estrutura dos roteiros permaneceu pétrea as 12
temporadas. Praticamente metade dos 50 minutos de exibição são ocupados pela
exposição, que ao longo da dúzia de anos se passou em cidades e ambientes bem
diversificados, de uma vinícola a um estúdio de gravação ou haras. É nesse
tempo que os conflitos são estabelecidos, informações técnicas de cada ambiente
fornecidas e a(s) vítima(s) mais ou menos cantadas. Jessica está sempre na hora
certa (?) no lugar certo (?) e conhece todo mundo, o crime ocorre, um inocente
é erroneamente culpado, Mrs. Fletcher trabalha amigavelmente ou não com o
detetive e mediante estímulo desconectado com o crime, deduz o culpado a partir
de detalhe, porque a Sra Fletcher não sabe dirigir, mas entende de tudo, desde
eletricidade a operações financeiras complexas, então é capaz de deduzir
qualquer coisa. No final, sempre confronta o culpado na cena da revelação, onde
estão apenas ela e o/a malfeitor/a. Mas, os policiais estão sempre a postos,
porque ela combinara a emboscada com eles. Ao final, mesmo após revelações
bombásticas de mãe mandando sequestrar filha pequena, tudo acaba em risadas
(literalmente). Exceto em uns poucos episódios, onde exigia-se mais exposição,
então os créditos finais aparecem imediatamente após a revelação, a imagem
congelando na expressão de pesar da detetive, meneando a cabeça.
Em 12 anos nada mudou e o bendito show funciona sempre! Porque Angela Lansbury é um poço de carisma e
simpatia, porque é tudo tão absurdo e inconsequente que embarcamos de coração
leve e mente aberta e também porque depois de pegar a manha, você começa a
atentar pros detalhes que podem levar a prever o assassino. Traquejados, a gente
começa a acertar cada vez mais. Se no elenco há um superastro de 15 minutos
atrás, há boa chance de ser o culpado (porque a cena da revelação sempre rende
holofote!). De meiguice/sonsice muito demais também desconfiamos. Enfim, há
marcadores nítidos, porque o roteiro é pura fórmula e vários episódios não
cansam de repeti-la, tipo o xerife/inspetor dizer que fulano tinha “motivo,
meios e oportunidade” pra cometer o delito.
Os episódios são tão fórmula, a duração de MSW tão longa
e o desfile de conhecidos é tão extenso que abri mão de mencionar, porque não
daria conta! Era um tal de aparecer gente de DALLAS, Dynasty, The Golden Girls,
Batman, Melrose Place e tantos mais que ficaria doido anotando.
Uma das coisas mais fascinantes de ter visto a dúzia de
temporadas em ordem cronológica foi perceber a ocupação do dia a dia pela
tecnologia que hoje nos é segunda natureza. E olha que falo de série que
terminou em 1996! Mas já dá pra notar a inserção de telefones celulares e
computadores (laptops, inclusive) no
cotidiano e tramas lidando com realidade virtual, internet e programas bugados.
A produção sempre foi caprichada, embora em vários
episódios dos 90’s, a trilha-sonora incidental tenha sido violentada por
aqueles saxofones e guitarras horripilantes da época. The 90’s suck!
Murder She Wrote está longe
da complexidade cinzenta (em mais de um sentido) das séries policiais atuais,
mas quem precisa apenas de coisas deprês e pesadas?
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