Roberto Rillo Bíscaro
Em setembro de 2015, ao resenhar Sharknado (2013),
inesperado sucesso cult da produtora
The Asylum, disse que me cansara após ver a sequência e então queria novidade.
Como uma função deste blog é pagar minha maldita língua (lembram quando afirmei
que jamais leria algum Nordic Noir, apenas pra, meses depois, resenhar mais de
um?), cá estou comentando os Sharknados de 2015 e 2016. Essa sandice fez tanto
sucesso, que o canal SyFy lança as sequências na Shark Week, semana apenas com
filmes de tubarões e animais devoradores, todo julho. É evento e é tendência
entre fãs de filmes B, C, D...
Sharknado 3: Oh Hell, No! Começa com a destruição de
Washington por uma chuva de pobres tubarões, que além de serem retirados de seu
habitat pelos ventos, ainda são
demonizados como culpados. Cai tubarão no colo de Lincoln, aparece congressista
de verdade dando entrevista sobre a catástrofe (a Republicana Michele
Bachmann), mas é meio rápido, embora totalmente divertido. O foco é muito mais
amplo: a tempestade em DC foi apenas um evento; o real perigo era que uma
muralha tubarônica estava se formando por toda a costa leste, desde o Canadá à
Flórida. Quando o megatornado trouxesse os predadores, milhões pereceriam. Cabe
a Fin (sacou? LOL) Shepard, sua esposa, filha e a ex-garçonete Nova deterem a
hecatombe, muitas vezes munidos de serras-elétricas, no melhor estilo Ash Williams. O grosso da ação se passa no parque temático da Universal Studios, na
Flórida, então há chuva de barbatanas na tradicional corrida de Daytona, o
autor de Game Of Thrones sendo abocanhado, ônibus espacial e tubarão no espaço.
Isso mesmo, tubarão no espaço. Percebendo-se como piada, a película não perde a
chance de se autorridicularizar. Tara Reid pergunta a Ian Ziering: ‘como é
possível tubarões no espaço?” A resposta vem certeira: “como é possível um
tornado de tubarões?”
Não supera o frescor com
cheiro de peixe do primeiro Sharknado, mas algumas sequências e diálogos são
impagáveis. Outra diversão é localizar as diversas (sub-)celebridades, que
aparecem como elas mesmas, não identificadas ou em micropapéis. A outrora
Mulher Nota 10, Bo Derek, e o motorista da Super Máquina, David Hasselhoff, já
são escalados pra papéis de avós, embora o beberrão Hasselhorf continue sendo
herói macho. A lista de aparições tem Lorenzo Lamas, Lou Ferrigno (o Hulk dos
anos 70), os trash-gêmeos irlandeses Jedward (num carrinho de montanha-russa,
tem que prestar atenção!) e mais uma porção de âncoras televisivos e
esportistas, que aparecem como eles mesmos. Até a octogenária Jackie Collins
apareceu, antes de falecer em setembro de 2015. Embarcar na moda tubarônica é
conveniente, porque sempre se pode camuflar o semi-esquecimento dizendo que
participou por ser divertido.
O Sharknado 2016 recebeu o subtítulo The Fourth Awakens,
pra zoar Star Wars: The Force Awakens, de 2015. A abertura segue o mesmo estilo
tornado clássico por George Lucas, em 77. Mas, não se trata de aprofundar o
tema dos tubarões espaciais, é apenas uma num mar de citações despejadas ao
longo dos 90 minutos. Será que muitos jovens espectadores do SyFy entendem
porque o conversível vermelho chama-se Christine ou a inevitável piadinha a
respeito de não se estar mais em Kansas, quando saem do estado? Não importa,
também não devo ter entendido trocadilhos e referências a coisas mais
contemporâneas.
Uma megacorporação pôs fim às chuvas de predadores, até
que recomeçam indiscriminadamente e sem necessidade de água pros tubarões. É sandnado, lightnado e até uma
potencialmente hecatômbica nukenado,
mas todas contêm os animais aquáticos, mesmo quando atingem áreas desérticas
como Vegas ou Salt Lake City. Fin
volta e com ele sua família – Sharknado é celebração à célula mater da ordem
social – incluindo Vô Hasselhorf (que no 3 estava na lua!) e uma versão
semibiônica de Mama Tara Reid, que pode voar e produzir sabre de luz no lugar
de onde era sua mão. É tudo maluco e cada vez mais generalizado, tanto que o
final sinaliza a possibilidade de os sharknados
atingirem a Europa, afinal, não há muitas cidades icônicas ianques a
detonar.
A lista de pontas de “famosos” segue alentada. Jedward
devem estar no desespero, porque há outra ponta de segundos (felizmente, eles
não lançam álbuns desde 2012, acho que estamos livres!), assim como David Faustino, outra vez nomeado Bud, como jogador num cassino. Tem de tudo, de
médico-celebridade, tipo Dr. Drew até roqueiros como Vince Neil (Motley Crue)
ou Corey Taylor (Slipknot). Assim como ocorrera no 3, Steve Guttemberg, o
Colton West, de Lavalantula, aparece em Sharknado – Corra Para o Quarto (no
Brasil tem esse nome). Será que eventualmente os 2 heróis se encontrarão?,
porque Fin apareceu em Lavalantula também e os diálogos sempre dão a entender
que as catástrofes ocorrem coetaneamente.
Conforme essas franquias
vão aumentado a numeração, o charme diminui, mas pra ver um por ano com amigos
ainda funciona, embora gente engolida por tubarão e sendo resgatada mediante
corte com serra elétrica já esteja dando no saco. Desta vez, a “diferença” foi
que se tratou de um monte de tutubas; assista pra entender. É divertidinho, mas
evite ver em seguida.
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