Roberto Rillo Bíscaro
A decolagem da carreira de Yunalis Mat Zara'ai é cada vez
mais comum na era internética. A estudante de advocacia da Malásia postou
vídeos de seu trabalho musical no outrora badalado MySpace. Os acessos foram
tantos que uma gravadora independente a contratou e desde 2011, Yuna ascende,
penetrando inclusive o duro mercado norte-americano, porque seus álbuns são em
inglês e a moça já trabalhou até com Pharrell Williams.
Recomendado pela MTV e pela revista Rolling Stone, de
maio de 2016 é Chapters, que até galgou colocações no Top Ten R’n’B, da
Billboard. Em termos de penetração de massa, pouco significa, mas como nosso
blog preza coisas “alternativas”, com especial pendor por cantoras de R’n’B,
descolei a edição de luxo e viciei em diversas canções. A edição padrão tem 10
faixas e a de luxo 3 a mais. Compensa a turbinada.
O pop soul de
Yuna vem com produção esparsa, com ampla oportunidade pra sua cristalina voz brilhar.
A sonoridade é atual, mas é um pouco calcada nos anos 90, usando de modo bem mainstream o que já foi alternativo. Sabe
aquele lance de usar ruídos de electronica
pra construir uma melodia? Confira Lanes. Desde os primeiros LPs de Bjork
ouvimos isso, que hoje é comum. E não é que o início da Your Love lembra muito
a islandesa, antes de virar deliciosa nu
disco?!
Chapters dialoga com famosas da hora, como Lorde e Sia,
mas também não soará alienígena pros admiradores de coisas mais alternativas
como a canadense Elsiane. Nem pra ouvintes cronologicamente mais vintage: Unrequited Love tem personalidade
Yuna, mas há algo Sade Adu na inflexão. O mesmo com a podridão de chique deslizante
de Best Love.
Fãs de pop music não
carecerão de melodias grudentas. Desde o maravilhoso dueto com Usher (Crush)
até Too Close, neta da Motown. Tem balada-arraso cantada com Jhené Aiko (Used
To Love You) e até flerte com anos 50 no pianinho de Poor Heart, aí já no
território das bonus tracks da Deluxe
Edition.
É nesse adendo de 3 faixas que está a mais fraca. Places
To Go tem clima de hip hop ameaçador
que não convence nem criança, mas a melodia cantada simplesmente salva a
canção. Prova do poder sutil de Yuna, aquela mesma qualidade vocal de Roberta Flack (só não sei se os fãs tão vintage
assim, curtiriam os arranjos de Chapters). Mas a edição de luxo já estaria justificada
pelo excelente pop da derradeira Time, totalmente autobiográfica, explicando o
título do álbum como capítulos na vida de um indivíduo.
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