segunda-feira, 10 de abril de 2017

CAIXA DE MÚSICA 260

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Roberto Rillo Bíscaro

Conheci Phil Perry no LP Back 2 Love (2015), de Maysa Leak. Nominalmente, digo; pode ser que antes tenha ouvido sem saber quem era. Desde então, tenho me inteirado de seu trabalho, que pode não ter atingido sucesso de massa, mas é volumoso em quantidade e qualidade. Ao longo das décadas, sua voz de cetim tem sido usada solo ou como músico de estúdio, em álbuns de Chaka Khan, Barbra Streisand, George Benson, Sérgio Mendes e mais uma legião urban jazz.
Dia 24 de fevereiro, o sortudo que se apresentaria em um bar à hora do almoço, no World Trade Center, bem naquele dia, naquele setembro, daquele ano, lançou seu décimo-segundo álbum, Breathless. Pra fãs de música negra norte-americana bem ap(u/a)rada, produzida e executada, o título “sem fôlego” é pertinente. Uma dezena de canções deliciosas, do tipo perfeito para FMs chiques (ainda existem?).
Perry começou a carreira na primeira metade dos anos 1970, quando cantar em falsete estilo Philly Soul estava em alta. Uma das características do vocalista tem sido precisamente a capacidade de soltar agudaço no meio de um fraseado aveludado de seu registro mais grave. Aos 65 anos, é preciso ir direto ao que interessa: sua voz está perfeita, parece que o tempo não passa. Se quiser certificar-se disso antes de ouvir todo o LP, vá a Heaven’s Away e fique passado com os agudos nesse jazz soul bem 1970’s, com trecho falado e tudo.
Sem ilusão de que poderia agradar a muita molecada da atual geração, Phil nem liga pra se modernizar, ainda que tenha filho rapper. O mais contemporâneo – descontada a produção, que não é retrô – a que está disposto a chegar é ao quase acid jazz de Do Watcha Gotta Do. Influência da ex-Incgnito Maysa?
Never Can Say Goodbye poderá remeter ao maior sucesso de Stephen Bishop, no comecinho e é baladaça urban soul de melar cueca, calcinha, tudo. Romântico, elegante, cristalino são adjetivos adequados pra Breathless. Confira o urban jazz de Nobody But You ou da faixa-título e veja se não dá vontade de dar carão jogar, cabelão pra trás etc.
Quando regrava clássicos, Phil sai ileso (quase). O jazz gospelizado (gospel jazzificado?) Love’s In Need Of Love Today, de Steve Wonder, é paraíso de harmonia vocal e instrumentação. Nos quesitos técnicos de interpretação, produção, harmonia, One Less Bell To Answer está perfeita. Imagine o traquejo e desenvoltura de Perry interpretando a melodia de MestreBacharach. A letra de Hal David foi alterada pra perspectiva masculina, porém, e demora pra esquecer versos prosaicos, mas tão descritivos como “one less egg to fry”.
Os 2 minutos e Is It You? não são suficientes pra desenvolver seu potencial e a canção acaba parecendo apenas antessala pra Nobody But You. Mas, Perry prova na derradeira Moments In The House Of Love que tamanho não é documento. Não chega a 3 minutos, mas é jazz tradicional pianado, fecho de ouro prum álbum quase irretocável. 

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