Roberto Rillo Bíscaro
Conheci Phil Perry no LP Back 2 Love (2015), de Maysa Leak. Nominalmente, digo; pode ser que antes tenha ouvido sem saber quem era. Desde
então, tenho me inteirado de seu trabalho, que pode não ter atingido sucesso de
massa, mas é volumoso em quantidade e qualidade. Ao longo das décadas, sua voz
de cetim tem sido usada solo ou como músico de estúdio, em álbuns de Chaka
Khan, Barbra Streisand, George Benson, Sérgio Mendes e mais uma legião urban jazz.
Dia 24 de fevereiro, o sortudo que se apresentaria em um
bar à hora do almoço, no World Trade Center, bem naquele dia, naquele setembro,
daquele ano, lançou seu décimo-segundo álbum, Breathless. Pra fãs de música
negra norte-americana bem ap(u/a)rada, produzida e executada, o título “sem
fôlego” é pertinente. Uma dezena de canções deliciosas, do tipo perfeito para
FMs chiques (ainda existem?).
Perry começou a carreira na primeira metade dos anos 1970,
quando cantar em falsete estilo Philly Soul estava em alta. Uma das
características do vocalista tem sido precisamente a capacidade de soltar
agudaço no meio de um fraseado aveludado de seu registro mais grave. Aos 65
anos, é preciso ir direto ao que interessa: sua voz está perfeita, parece que o
tempo não passa. Se quiser certificar-se disso antes de ouvir todo o LP, vá a
Heaven’s Away e fique passado com os agudos nesse jazz soul bem 1970’s, com trecho falado e tudo.
Sem ilusão de que poderia agradar a muita molecada da
atual geração, Phil nem liga pra se modernizar, ainda que tenha filho rapper. O mais contemporâneo –
descontada a produção, que não é retrô – a que está disposto a chegar é ao
quase acid jazz de Do Watcha Gotta
Do. Influência da ex-Incgnito Maysa?
Never Can Say Goodbye poderá remeter ao maior sucesso de
Stephen Bishop, no comecinho e é baladaça urban
soul de melar cueca, calcinha, tudo. Romântico, elegante, cristalino são
adjetivos adequados pra Breathless. Confira o urban jazz de Nobody But You ou da faixa-título e veja se não dá
vontade de dar carão jogar, cabelão pra trás etc.
Quando regrava clássicos, Phil sai ileso (quase). O jazz
gospelizado (gospel jazzificado?) Love’s In Need Of Love Today, de Steve
Wonder, é paraíso de harmonia vocal e instrumentação. Nos quesitos técnicos de
interpretação, produção, harmonia, One Less Bell To Answer está perfeita.
Imagine o traquejo e desenvoltura de Perry interpretando a melodia de MestreBacharach. A letra de Hal David foi alterada pra perspectiva masculina, porém,
e demora pra esquecer versos prosaicos, mas tão descritivos como “one less egg
to fry”.
Os 2 minutos e Is It You? não são suficientes pra
desenvolver seu potencial e a canção acaba parecendo apenas antessala pra Nobody
But You. Mas, Perry prova na derradeira Moments In The House Of Love que
tamanho não é documento. Não chega a 3 minutos, mas é jazz tradicional pianado,
fecho de ouro prum álbum quase irretocável.
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