Roberto Rillo Bíscaro
Jamais li sobre tipologia de narrativas detetivescas, mas
desde que comecei o mergulho nesse oceano, percebi, grosso modo, 3 tons. Há as
series profundamente deprês, duns tempos prá cá influenciadas pelo Nordic Noir,
caso de Hinterland, Broadchurch e Shetland. Há as que acabam por tratar crimes
como coisas fofas (e depois as doentias são as depressivas!), ao estilo
clássico de Murder, She Wrote ou mais recentemente The Doctor Blake Mysteries.
Ano passado, vi os 14 episódios de Rebus, produzidos na Escócia pra ITV entre
2000-07, que habita mundo intermediário, embora descreva arco do semideprê ao
mediano.
O Inspetor John Rebus é personagem duns 20 romances
escritos pelo escocês Ian Rankin. Segundo consta, o detetive de meia-idade é amargoso
e algo ambíguo. O que me levou pra série, na verdade, foi ser ambientada em
Edimburgo. Como tenho estado nessa vibe
de policial-não-CSI-por-favor, unir algo menos conhecido do mundo dos canais
pagos e netflíxicos brasuca à chance de reviver imagens duma das cidades mais
lindas em que estive foi irresistível. Dois ainda-bens são necessários: por ter
dado o salto no escuro de ver algo sobre o que jamais ouvira falar (se bem que
faço isso sempre) e por ter começado pelos 10 episódios onde Rebus é
interpretado por Ken Stott. Não sei se teria visto tudo se iniciasse pelos 4
longos filmes iniciais de John Hannah. Nada disso foi deliberado, apenas questão
de acesso aos episódios.
O quarteto de telefilmes com Hannah tem parentesco com o
Cine Noir, porque o atormentado Rebus narra em off à Sam Spade. Ao contrário do que viria com a era Stott,
diversas referências são feitas sobre a vida pessoal do policial, inclusive o
episódio derradeiro com Hannah, The Hanging Garden, explica como ele “perdeu”
sua filha. Nada contra produções deprês, mas o show não faz sequer cócegas no
clima criado por River e congêneres. Além disso, John Hannah não me convenceu,
mas daí pode ter sido porque Ken Stott acertou tão em cheio em suas atuações,
que Hannah nem teve chance.
A dezena de shows com Stott veio com roupagem bem mais clean, visualmente moderna e esbanjando
a beleza de Edimburgo, embora haja tramas nos bairros barra-pesada. Está mais
pra policial padrão, mas é muito mais interessante de assistir. Sua parceira
Siobhan Clarke (passei a amar esse nome depois de Ringer!) ganha espaço
permanente e que delícia ver a quieta, linda e loira Claire Price com suas
caras de surpresa e “menina, tô passada” perante o intempestivo superior. E
Stott está impagável e imbatível. Se Rebus é um coroa meio grosseirão nos
livros, então Ken é o homem.
Menos complexo que o quarteto inicial, o Rebus de Stott
entretém melhor, é mais ágil. Se a era Hannah tivesse sido excepcional, tudo
bem, mas qualquer show mencionado nesta resenha supera a qualidade da depressão
do Rebus do início, então pra que perder tempo com ele? Pegue o Rebus de Stott
e divirta-se com suas tiradas do tipo ameaçar um paparazzo de prisão por
“assumir a identidade dum ser humano” ou sua constante afirmação de que
trabalho em grupo não vale muito, o que conta é o indivíduo. Mas, também um
meganha que se importa com os indefesos e se comove com os crimes.
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