terça-feira, 30 de maio de 2017

TELINHA QUENTE 261

Resultado de imagem para feud tv series

Roberto Rillo Bíscaro

Devo ter ouvido falar em Bette Davis e Joan Crawford, no início dos anos 80. A segunda, devido à contestada e controvertida autobiografia de sua filha adotiva e a primeira por causa do sucesso Bette Davis Eyes, de Kim Carnes.
Ainda nos 80’s, vi Jezebel (1938) numa daquelas sessões da madrugada de quarta-feira na Globo, que só exibiam “clássicos”. Que feia a olhuda Davis! Não entendi porque tanta babação de ovo. Vi também Vitória Amarga (1939) e a simpatia começou a nascer; que dramalhão. Nos 90’s, em VHS, vi Pérfida (1941), e adorei Bette. Não a vira atuar em inglês e aquela personagem proto-JR Ewing, da Lilian Hellman, me agradou em cheio. Ainda recomendo.
Crawford demorei muito pra conhecer. Antes assistira à leitura cinematográfica da autobiografia Mommie Dearest. Faye Dunaway ensandecida e canastrona, espancando a menina com cabide de arame; clássico camp, amo demais. No wire hangeeeeeeeeeeeeeeeers! Quando vejo esses objetos lembro da cena e rio. Sabia da rixa com Davis; da decadência nada glam que a levou a fazer cine trash, tipo Trog (1970), que nem este fã de podreira sci-fi/horror teve coragem de ver ainda. Finalmente, nos 2000’s conferi alguma coisa da garota-propaganda da Pepsi e amei Mildred Pierce (1945; olha a delícia do título em português: Alma em Suplício), base de parte do roteiro do sucesso global oitentista Vale Tudo. Achei Crawford tão boa e a película tão absorvente, que desisti da minissérie de 2011 estrelada por Kate Winslet, logo na metade do capítulo 2.
Davis e Crawford desenvolveram ódio competitivo durante suas carreiras, especialmente, nos seus picos, os anos 1930 e pedaço dos 40. Coestrelaram em apenas uma produção, o clássico cult O Que Terá Acontecido a Baby Jane (1962), que também custou-me ver, acreditam? Sabia a história, vira cenas, mas sei lá, vi só com os 2000’s bem avançados em idade, como as duas.
Na década de 1960, as duas ex-deusas estavam envelhecidas e não conseguiam papéis. O estouro de Psicose (1960) fez com que os estúdios voltassem seus olhares cúpidos pro terror, mas estrelas que se prezassem ainda o desprezavam. “Arte” era drama, filme “sério”, história de amor, essas coisas. Desesperadas por atenção e dinheiro, Davis e Crawford se aliaram fugazmente pra botar o projeto de pé, mas muito antes da conclusão das filmagens a trégua rompera-se e o feudo reincendiou colunas de fofocas, incentivadas pelo próprio estúdio. Cada farpa entre Bette e Joan rendia pauta pra jornais e promoção pro filme. Que fossem 2 mulheres de meia-idade desesperadas não fazia a menor diferença; o que importava eram os lucros e o entretenimento.
Ryan Murphy – onipresente atualmente, junto com Shonda Rhimes – é o criador da série Feud, pro canal FX, cujos 8 excelentes capítulos da primeira temporada tematizaram a discórida entre as atrizes, desde a concepção do projeto Baby Jane, até o falecimento de Crawford, em 1977. Feud tinha todos os elementos pra se transformar num grande tabloide retrô filmado, mas Murphy calibrou com maestria os necessários momentos de pura mesquinhez narcisista das desbotadas estrelas, com profunda compreensão/compaixão pelos motivos que as levaram a ser destrutivamente competitivas e resilientemente duras.
Como se não bastasse a carreira naufragada pela implacável idade – nos 1950’s ambas não eram mais nada – cada uma lutava com seus demônios pessoais, muitos insuflados pelo próprio sistema de estúdios, contratos e estrelato de Hollywood. Crawford era insegura com relação a sua capacidade interpretativa e Davis quanto à aparência. Durante seu reinado, Joan fora paparicada pela beleza; Bette, pelo talento dramático. O roteiro também aponta pra horrível história de vida de Crawford, que comeu o pão que o diabo amassou antes de virar símbolo sexual.
Feud apresenta mais do que 2 velhas caricatas disputando migalhas num mundo onde já eram peças de museu freak há uma geração. São pessoas multifacetadas e fascinantes, incrivelmente fragilizadas por um sistema brutal, onde o sol não nasce pra todos; pelo contrário, é ultrasseletivo. E, claro, há as brigas e discussões deliciosas, a manobra de Crawford pra estar na festa do Oscar, que nenhum ficcionista faria melhor, e muito vestidão, carão, glamour pretendido, mas datado e de dar pena. E é esse o ponto fulcral da superficialmente divertida Feud: apesar dos milhões e da boa vida, os egos daquelas mulheres eram buracos-negros de necessidade de atenção e validação; provavelmente nem durante o período áureo conseguiram realmente ser felizes. Feud é de uma tristeza avassaladora.
Era preciso um par excelente de atrizes pra não cair na caricatura ou imitação barata, mesmo com roteiro tão bom. Jessica Lange (Crawford) e Susan Sarandon (Davis) chefiam um elenco soberbo, onde estão Catherina Zeta-Jones, Steven Tucci, entre tantos outros destaques. Na batalha entre Lange e Sarandon, a primeira leva vantagem. Ela está o tempo todo impecável; a segunda de vez em quando escorrega prum nível menos bom.
Feud é daquelas séries viciantes, pra ver de maratona e ficar ansioso à espera da segunda temporada, que abordará a rusga entre Charles e Diana. Promete. E já aviso, sou Diana!
E com relação a Joan e Bette, quem sou? Crawford, sempre muito mais caruda.

segunda-feira, 29 de maio de 2017

CAIXA DE MÚSICA 267

Resultado de imagem para niia I
Roberto Rillo Bíscaro

Niia Bertino nasceu no estado de Massachusetts, em 1988, em uma família musical. Sua mãe é cantora de ópera e a treinou em piano clássico; diversos parentes frequentaram a prestigiosa Julliard School of Music, em Nova York. Niia também migrou pra Grande Maçã, assim que se livrou do ensino médio. Estudou jazz e começou a fazer apresentações, dentre elas uma temporada reinterpretando os maiores sucessos das trilhas-sonoras dos filmes do 007.
Tarimbada ao vivo com shows ao redor do globo e aparições em programas badalados de TV, como os de David Letterman e Jimmy Kimmel, Niia lançara apenas alguns singles elogiados e um EP. A falta de um LP foi suprida com o lançamento de I, pela major Atlantic, dia 5 de maio. São 12 faixas luxuosamente produzidas pelo dinamarquês Robin Hannibal. Apresentando sonoridade de urban soul contemporâneo salpicado por trip hop e sophistipop, I não decepciona, embora evite voos mais altos.
Sequiosos por som chique, gozarão com a abertura urban soul de Hurt You First, a canção sobre vingança que te fará esquecer de bolar planos, porque estará ocupado demais fazendo poses. Niia por vezes soa como pós-Sade genérica em canções deslizantemente esbeltas como Girl Like Me e Day & Night. Há quem dirá, porém, que está mais pra sub-Yuna, em California. Laços: Robin Hannibal produziu diversas faixas da malaia. Niia precisa ainda de um tempinho pra encontrar personalidade própria no mundo das gravações.
Também precisa aprender a não convidar gente com voz mais rica. O jazz trip hop de Sideline aparece duas vezes. Niia manda bem, mas a versão que fecha o álbum é um dueto com Jazmine Sullivan, cuja voz modula muito mais e melhor. Na balada All I Need é onde o vocal de Niia voa mais alto, graças à discrição do arranjo de piano e cordas. Quem curte soul anos 70, meio Phily Soul, não se decepcionará com Constantly Dissatisfied, que também agradará a nova geração, porque a produção é de hoje. Last Night In Los Feliz é balada sóbria, sensual, quase com toques orientais no arranjo moderno e rico. Nobody é quase dançável, mas como transpirar não é gourmet, vai de midtempo mesmo pra pelo menos dar uma balançadinha.
O senão de I é que por vezes parece tímido e genérico demais e trechos como a extended-vinheta Mulholland não cabem nele. A peça é linda, parece trilha de filme, prova que Niia é pianista e tal, mas não tem a ver com o resto.
Estreia promissora e com potencial, muito agradável de se ouvir. Esperemos pelo próximo capítulo pra ver Niia desabrochar.

domingo, 28 de maio de 2017

SUPERANDO O DÉFICIT DE ATENÇÃO

Mariana Kupfer conversa com Cida Hattori e seu filho, Renan Ribeiro, diagnosticado com Déficit de Atenção somente aos 12 anos. Renan passou por 6 escolas até concluir o ensino médio. Hoje está no ultimo ano da faculdade de psicologia, entre os melhores alunos da sala.

sábado, 27 de maio de 2017

ALBINO INSPIRAÇÃO MORRE



Morre Ghost, o lobo que inspirou o personagem 'Fantasma' de Game of Thrones


Os fãs de Game of Thrones receberam nesta terça-feira a triste notícia da morte de Ghost, o lobo que inspirou o personagem ''Fantasma'', escudeiro de Jon Snow. A informação foi confirmada pelo autor da saga, George R. R. Martin, pelo twitter. 

''Em memória do 'Fantasma' da vida real do Wild Spirit Wolf Sanctuary. Ele morreu esta semana e nós sentiremos a sua falta. Descanse em paz'', escreveu o autor. O animal foi resgatado pela entidade de proteção Wild Spirit Wolf Sanctuary e inspirou o autor da saga a compor o personagem. 

''Fantasma'' é um dos seis lobos encontrados por Robb Stark e Jon no primeiro livro da série. Adotado e criado por Jon Snow (Kit Harington, na série da HBO), o animal é um albino de olhos avermelhados. Embora tenha nascido como o menor da ninhada, com o passar do tempo ele cresce e se torna tão grande quanto seus irmãos. Na série, ele é o único lobo ainda vivo. 

Na história de Martin, Ghost é um lobo gigante, irmão de Vento Cinzento, Lady, Nymeria, Verão e Cão Felpudo. Segundo o autor, o animal faz parte da família Stark e, assim como Jon Snow, é a ''ovelha negra'', o ''estranho da família''. 

Game of Thrones é exibida pelo canal HBO desde 2011 e já teve seis temporadas. A sétima tem previsão de lançamento para o dia 16 de julho e contará com sete episódios inéditos.
HBO/Reprodução

sexta-feira, 26 de maio de 2017

CASAL METRALHA DE MOÇAMBIQUE

Casal detido por tentativa de venda do filho albino
Um casal está a contas com a Polícia da República de Moçambique (PRM) em Tete, acusado de tentativa de venda do próprio filho de dois anos de idade, com problemas de albinismo, por quatro milhões de meticais, em conluio com cinco indivíduos, supostamente por si contactados.
Segundo as autoridades policiais, o casal viajou do distrito de Dôa para o de Moatize, para concretizar o negócio, pois acreditava que era onde se encontravam possíveis e potenciais compradores.
Os cinco intermediários receberiam cada 50 mil meticais de gratificação, conforme contaram à imprensa e aos agentes da Lei e Ordem.
Igual valor seria usado para pagar uma dívida contraída durante o lobolo pelo pai da vítima e o restante era para ser aplicado num negócio, uma vez que o casal aspirava a empresário.
Um dos cinco indivíduos que intermediavam a venda do miúdo confirmou que tanto ele como os supostos comparsas foram contactados pelo casal. “Eles [os pais] entregaram-nos a criança para vender” e ainda exigiram que o assunto fosse tratado com maior urgência possível de modo a evitar que alguém roubasse o miúdo, supostamente porque tratando-se de um albino há muita gente a cobiçá-lo.
Um outro detido em conexão com o caso em questão afirmou que o rapaz passou de mãos em mãos porque ninguém estava interessado em comprá-lo, até que a decisão foi tentar baixar o preço caso houvesse um interessado.
O pai da criança refutou as acusações que pesam sobre si, alegando que as pessoas contactadas para agilizar o negócio, bem como a Polícia estão a faltar à verdade. Em nenhum momento “pensámos em vender o nosso filho”.
De acordo com ele, a sua deslocação a Moatize tinha em vista a pesca. Porém, ele a mulher ficaram surpresos ao serem interpelados e detidos pela Polícia.
Lurdes Ferreira, porta-voz do Comando Provincial da PRM em Tete, disse que caso o negócio tivesse saído conforme o planeado, os progenitores da criança pretendiam mudar-se para a cidade da Beira.
Refira-se que uma criança albina de cinco meses de vida, do sexo feminino, desapareceu das vistas da mãe, durante duas horas, na última sexta-feira (19), na cidade da Beira, província de Sofala, facto que levou a Polícia da República de Moçambique (PRM) a presumir que se tratou de um rapto. Em conexão com este caso, um jovem de 22 anos de idade encontra-se privado de liberdade.
A bebé sumiu quando a mãe se encontrava a atender clientes na sua barraca instalada num mercado informal, na zona de Massamba.
O acusado, sem nenhuma relação de amizade ou de parentesco com os pais da criança, responde pelo nome de João José e está a ver o sol aos quadradinhos no Posto Policial no. 3, no bairro dos Pioneiros.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

SEQUESTRO ALBINO FRUSTRADO EM MOÇAMBIQUE

Abortada tentativa de roubo de menor albina na Massamba




Uma tentativa de roubo de uma menor de seis meses de vida, com albinismo, foi abortada no mercado da Massamba, no bairro de Esturro, a poucos metros do posto homónimo da Polícia da República de Moçambique, sito na avenida Samora Machel, nos Pioneiros, na cidade da Beira.
O caso ocorreu por volta das 17:00 horas de anteontem, quando um jovem, que responde pelo nome de João Albino Mariano, de 24 anos, apercebeu-se da deslocação temporária da mãe da criança, Adriana Paulo, uma vendedeira de Massamba, tendo ficado a sós com a vítima incapaz de se defender.
João Mariano fez-se passar por cliente e tentou roubar a criança quando a vendedeira saiu da sua banca para trocar uma nota por igual valor em moedas ou notas de valores mais baixos como, por exemplo, vinte meticais.
Sidid Paulo, chefe da secção de imprensa no comando provincial da PRM em Sofala, referiu que a denúncia do desaparecimento da albina foi feita pela própria mãe da vítima.
Segundo a fonte policial, quando Adriana Paulo voltou à banca e não encontrou a sua filha nem o cliente, imediatamente foi apresentou queixa no posto da Polícia da Massamba, a escassos metros do mercado.
As autoridades policiais fizeram diligências que culminaram com a recuperação da vítima e a detenção do falso cliente da vendedeira, quando João Albino Mariano e a menor estavam a um quilómetro do mercado e posto da Massamba.
 “De acordo com o auto, a menor encontrava-se a com a sua mãe, que é vendedeira no mercado da Massamba. O indiciado fez-se passar por cliente. Deu-lhe dinheiro pagado [uma nota de valor facial relativamente alto]. Ele aproveitou-se da hora em que a mãe saiu à procura de trocos e roubou a menor.
Ele foi neutralizado a um quilómetro do local, quando já estava em fuga com a criança. Durante o primeiro interrogatório, o indicado alegou que levou a menor para brincar com ela”, explicou Sididi Paulo.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

PROJETO FOTOGRÁFICO PORTUGUÊS


Dia 15 de julho, será inaugurada a exposição  Albino Não Morre, Só Desaparece, na cidade portuguesa de Matosinhos. O título faz referência a uma superstição de certas regiões africanas. Nesses locais, aos albinos são atribuídas características sobrenaturais. Dentre elas, a ideia de que não falecemos, simplesmente desaparecemos.  

Veja o press release da exposição:


A exposição exibe imagens do fotojornalista Daniel Rodrigues, realizadas em reportagem para o New York Times.

"Albino não morre, só desaparece!" é uma frase que nunca fez tanto sentido como hoje. A culpa ora recai nos curandeiros, ora na máfia de tráfico de órgãos. Subsiste a crença de que quem possuir um pedaço do corpo dum albino terá sorte ou dinheiro na vida. As imagens aqui expostas mergulham numa realidade sombria: desde 2014 que albinos de Moçambique e Malawi têm sido vítimas de sequestros, assassinatos e túmulos vandalizados. Lá são chamados de "dinheiro". No Malawi, desde janeiro 2015, num universo de 4.000 albinos, foram registados 19 homicídios e 100 casos de sequestros e tentativas de sequestro. Moçambique tem aproximadamente um albino por cada 16.000 habitantes e relatou cerca de 50 casos de abusos. O presente trabalho é um testemunho cru e um grito de alerta para esta realidade.

CONTANDO A VIDA 190

SACI, BOTO E EMÍLIA: malandragem, machismo e feminismo à brasileira.

José Carlos Sebe Bom Meihy

De repente, me vi enredado em temas que na aparência são tidos como menores, sem importância e até folclóricos, no mau sentido. Diria que tudo começou com um convite feito por uma universidade do Mato Grosso do Sul, para que eu retomasse Monteiro Lobato e promovesse releituras de seus textos para crianças. Foi o que bastou. De Lobato para o debate sobre o modernismo foi um “pulo só”... Ups!... “pulo só” é coisa de saci. Pronto, lá estava eu mergulhado no Reino Encantado, perdido no encalço das figuras do Sítio do Pica-pau Amarelo. Por lógico, juntar Lobato com o saci é fácil. Ressaltando a ligação do “Inquérito sobre o saci”, ou seja, do primeiro livro publicado de Monteiro Lobato com a investigação sobre a vigência de histórias derivadas de narradores/leitores do jornal O Estado de São Paulo, exatamente há 100 anos, estava aberta a temporada de entendimento dos novos sacis. E então não apenas a televisão com as repetidas séries sobre o pessoal da Dona Benta, mas também as revistinhas povoadas por versões do Ziraldo ou do Maurício de Souza. Fala-se, pois, de metamorfoses do saci. Imaginem que se sabe que até Hollywood vai se valer do nosso perneta como super-herói.
Bastou Gloria Perez colocar na novela “A força do querer” a figura do boto para que ele fosse reconhecido como figura muito mais popular do que se supunha. A sutileza do personagem encantado, do peixe que em noites de lua vira galã sedutor que fecunda mulheres enamoradas, ganhou o público, arrastando curiosos que se deixam enlevar pela lenda indígena. Adaptada ao gosto atual, a história amazonense ganha o imaginário da classe média e assim alimenta fantasias que não têm apenas o apelo infantil. Pois bem, tinha guardado em minha gaveta uma série de relatos de aparições estranhíssimas do tal boto (ou valeria o plural: botos?), e eis que do dia para a noite, tais escritos ganharam ares de desafio e como que recuperando vida própria me impõem agora publica-los. Metaforicamente é como se os peixes/homens me obrigassem a aceita-los com vida própria.
E tem a boneca Emília, também criação lobateana que, por força da impertinência, vai ganhando fama e lugar na identificação das modernas mulheres brasileiras. Irreverente, cheia de artifícios maliciosos, contestadora, a menininha de pano, metida, vai se impondo, conquistando personalidade e se tornando uma espécie de paradigma da emancipação das mulheres. Não há, nessa direção, como deixar de lado duas possibilidades analíticas interessantes. Uma que soma à Emília o crescimento de suas leitoras infantis. Dizendo de outra maneira, é como se as crianças crescessem e ao fazê-lo colocassem em prática o que aprenderam. Outra, é a inequívoca aproximação digna de ser feita com a personalidade do movimento feminista em geral. Sim, Emília bem que poderia ser um paradigma da nova presença da mulher brasileira.

Com um esforço mínimo pode-se dizer que há um trio que ajuda a pensar a moderna constituição da identidade nacional. O saci, perfeito malandro, se mostra uma figura assimilada. Se nas raízes de sua mitologia figurava como uma espécie de diabinho, aos poucos vai perdendo a agressividade, se transforma em um bonequinho palatável, símbolo de esperteza quase inocente. Aliás, uma das mais claras manifestações da adocicação do saci é seu uso pedagógico. Cabe reconhecer que não é complicado aliar o saci ao malandro, enganador, simpático embusteiro. Com o boto se torna possível discutir de forma agradável e até simpática o machismo brasileiro. Como homem, conquistador que é, o boto sensualizado se impõe, enganando a todos, mas também se servindo como assunto polêmico. Emília, muito mais do que boneca, perde sua graça desengonçada e vai construindo argumentos impagáveis, capazes de nutrir discursos que quebram a origem tola e tosca de boneca de pano. Pronto... Eis que personagens do mundo imaginário ganham vida e consistência argumentativa em favor de um debate que nada tem de pândego ou brincadeira. A mitologia, assim, vira cultura e se oferece de maneira fácil e até elegante... Aproveitemos. 

terça-feira, 23 de maio de 2017

TELINHA QUENTE 260

Resultado de imagem para scandal season 6
Roberto Rillo Bíscaro

Como não leio sobre séries que acompanho, pois só desistiria se achasse chato/ruim por mim e não por algum crítico, estranhei a ausência de Scandal dos sítios que frequento pra ver a quantas andam as temporadas. Era janeiro ou fevereiro e nada de episódios do show de Shonda Rhimes. Cancelaram, será?, pensei triste. Bastou ler o parágrafo introdutório sobre a sexta temporada, na Wikipedia, pra aprender que, devido à gravidez de Kerry Washington (a gritona Olivia Pope), a temporada teria 16 e não 22 episódios e começou a ser transmitida, em 26 de janeiro, indo até 18 de maio.  
Sempre em minhas listas de melhores do ano, confesso que a excessiva ênfase de Papa Pope e a insistência na organização B613 começava ame dar no saco. Viciei nas temporadas e maratoneava, mas temia enjoar pela mesmice, se bem que isso é característica inerente às soaps, cujas tramas incestuosas e repetitivas concentram-se pra satisfazer a necessidade de permanência das personagens do núcleo duro. Note que Cyrus já fez monstruosidades (e nessa temporada faz outra, arrasante, te amo, Cy!) e é sempre perdoado, porque é do núcleo duro e o incesto entre eles não pode parar, até porque são todos iguais, na verdade. Mas, essa falta de novidade na trama deve ser disfarçada com a ilusão de novidade a todo momento. E a insistência no tal B 613 e o berreiro cheio de balanços de cabeça do pai de Olivia estavam repetitivos demais.
A sexta temporada consertou isso: está absolutamente igual às demais, mas diferente. Não demorou dez minutos no primeiro capítulo e já estava viciado, narcotizado pelo vórtice de reviravoltas, revelações, revivalismos de personagens. Diegeticamente, o tempo é escasso: vai da noite do anúncio de quem venceu a eleição presidencial à madrugada da posse. Scandal é pura sandice; mas nessa temporada se superou. Conta-se que um grupo teatral paulistano pegou o melodramalhão Romântico Fernando ou O Cinto Acusador, de Martins Pena e montou-o em nota cômica. Daria pra fazer o mesmo com Scandal; se bem que seu célere tom dramático sério, não consegue abafar minhas gargalhadas. E não digo isso como detono; amo.
Logo após o anúncio de quem substituirá Fitz na presidência, uma reviravolta determinará o tom de toda a temporada. Tem grupo maldoso e todo-poderoso querendo o poder. Não é o B613, mas é a mesma coisa meio que ao reverso só que não. Não deu pra entender? E quem entende Scandal?! Mas, com essa alteração pra deixar a trama igual ao que sempre foi, a diversão come solta.
O grande trunfo da temporada, porém, é o câmbio no ponto de vista e no foco narrativo. Vários capítulos mostram as versões e interconexões das personagens com relação ao ocorrido na fatídica noite. Ao invés de curtos flashbacks dentro de capítulos, vários são inteiramente flashback pra conhecemos a implicação das personagens. É soap, mas em época de ouro da TV, roteirista tem que suar os dedos mesmo em shows na rede aberta. O resultado é uma das fornadas mais formalmente espertas de Scandal. A trama é recheada daqueles absurdos furados que amamos, mas vem empacotada em embalagem bem inteligente. SmartTV.
Essa alteração no ponto de vista e ênfase no que se passou com vários personagens na noite do resultado eleitoral, também diminui um pouco a intensidade da aparição de todo mundo. Não dá nem pra enjoar muito de Papa Pope, porque nem Olivia aparece direito em certos capítulos, quem dirá os demais. E é nessa temporada que ocorre certa inversão nos afazeres de Olivia e seu pai (mas não se iluda, eles são a mesma personagem e isso evidencia-se como cristal ao final do capítulo 16).
O pico criativo encerra-se lá pelo capítulo 13, quando a narrativa volta a ser mais linear, digamos. Isso não significa que perca o interesse – apesar do capítulo soporífero que marca o fim da montanha-russa de flashbacks e suposições da trama sobre quem está por trás do grande mistério da temporada (mas não é tudo, só aprendemos isso na última cena).
Já que Scandal é pura baixaria, vamos fofocar. Lembram que indaguei sobre a importância da Portia de Rossi pra trama? Será que os supostos problemas conjujais com a poderosa Ellen DeGeneris determinaram o delicioso destino de sua personagem (nem lembro o nome. Elizabeth? Sei lá.)?
E que coisa fofa aquele capítulo mostrando o que seria de cada um se Fitz não tivesse vencido a primeira eleição, ou melhor, se não tivessem roubado o pleito em Defiance. Ninguém presta em Scandal, por isso adoro.
E Olivia vem pagar de boa moça, justiceira? Me deixa, fia! 
Mellie e Cyrus pro comando do mundo!

PROJETO SÍNDROME DO PÔR DO SOL

Milena é uma das dezenas de albinos que vivem no sertão cearense. Ela mora em uma localidade de Breja Santo, cidade em que a temperatura não é menor que 30ºC.

Para a família, Milena nascer branquinha, loira e com olhos claros foi um espanto, já que todos têm tom de pele moreno. A menina tem de esperar até o final da tarde para poder brincar com os amigos.
Para tentar ajudar os albinos no interior do Ceará, o fotografo Gláuber Oliveira criou o projeto “Síndrome do Pôr do Sol”. Todos os meses, ele faz doação de protetor solar e disponibiliza consultas com dermatologistas e oftalmologistas. Com o projeto, as famílias se sentem seguras para sair de casa protegidas.
Veja todos os detalhes no vídeo do Gente na TV da TV Jangadeiro/SBT:

segunda-feira, 22 de maio de 2017

ZOOFILIA COM CORVO

Corvo (Karasu) albino é capturado em Quioto

&nbspCorvo (Karasu) albino é capturado em Quioto
Por volta das 16h20 de quinta-feira (18), um cidadão informou a prefeitura da cidade que “um pássaro branco estava gritando e batendo as asas fortemente” em uma plantação de arroz de Shirasu, no bairro de Wazuka (Quioto).
Os funcionários da prefeitura, que foram informados sobre a situação, foram ao local e capturaram o corvo.
Segundo eles, o corvo tinha 35 centímetros e era totalmente branco. Aparentemente, ele não estava machucado e estava apenas batendo suas asas e gritando na plantação.
Os funcionários cuidaram do animal na noite de quinta-feira e pretendiam soltá-lo perto de uma montanha na sexta-feira (19).
Yasunori Miyajima, assistente administrativo da divisão de desenvolvimento rural de Wazuka, comentou: “Pensei que era um pombo branco, mas quando cheguei perto percebi que se tratava de um corvo. Nunca um corvo branco foi visto neste bairro. Fiquei espantado. ”
http://www.portalmie.com/atualidade/2017/05/corvo-albino-e-capturado-em-quioto/

CAIXA DE MÚSICA 266


Roberto Rillo Bíscaro

Os anos 80 são comum e vulgarmente citados como a década do exagero. Cabelos se armavam em torres ou despencavam em cascatas multifonrmes; sempre armados, lotados de gel. Ombros masculinos e femininos pareciam de jogador de futebol americano, de tão largos, graças a ombreiras cada vez maiores. Roupas e acessórios se sobrepunham em combinações policromáticas de puro exagero. Na TV imperou a opulência escapista de séries como DALLAS e Dynasty (que o canal CW promete ressuscitar). Yuppies consumiam água mineral engarrafada Evian e cocaína como se fossem água.
Musicalmente, a primeira metade foi dominada pelas torrentes criativas do synthpop, New Romantic, New Wave, pós-punk, enfim, filhotes da suruba glam, punk, prog, discoBowie, Chic, Blondie, Roxy Music, Giorgio Moroder e Kraftwerk dos 70’s. Mais para a segunda metade, acentuou-se a estridência e a superprodução, saturada de efeitos e da grande praga musical do decênio: a bateria eletrônica. Iniciava-se a Guerra dos Volumes, como apontou o crítico Rafael Senra.
Feliz e acertadamente, o supergrupo Dreamcar colheu do solo mais fértil dos 80’s e seu LP homônimo de estreia, lançado dia 12 de maio, não vai muito além de 1984. Pode até ter um bocadinho de Depeche Mode fase Black Celebration (1986), mas é suave; a ênfase é na New Wave dançante da glamurosa alvorada oitentista.
Dreamcar é a fusão do vocalista Davey Havok, da banda AFI com a parte instrumental do No Doubt. Como Gwen Stefani está ocupada sendo jurada de show de calouros hype, Tony Kanal (baixo), Tom Dumont (guitarra) e Adrian Young (bateria e percussão) juntaram-se a Havok em projeto paralelo que expressasse seu grande amor pela música de mais de três décadas atrás. O resultado são doze canções que parecem álbum de grandes sucessos ou coletânea de pérolas perdidas da década do PacMan.
Experientes buriladores, os quatro não perdem tempo na fórmula do pop viciante: alguns segundos de introdução, primeiro verso e logo entra o refrão, sempre energético, mesmo nas músicas midtempo. Quando esse refrão entra, remanescentes/amantes dos anos oitenta desejarão colorir o rosto com muita maquiagem, untar o cabelão com potes de gel, combinar peças de roupa verde-limão com cor de laranja e lilás e ir para algum estádio pular e acender isqueiro.
Dreamcar é puro pop de arena com deliciosos solos de guitarra e muita, mas muita mesmo, influência do Duran Duran. Os Fab Five são a inspiração para a canção de abertura, After I Confessed e Do Nothing. Tente ouvir e ficar quietinho. Impossível; dá ganas de gritar o nome de nosso duranie favorito (tenho 2, Simon e Nick). Essas são calcadas na fase primeira do DD2, ao passo que On The Charts é de quando funkearam com Nile Rodgers.
Sem ser cópia escarrada de quase nada, o Dreamcar exibe uma influência atrás da outra. Em Kill For Candy, o baixo soa como o de Peter Hook, ao passo que em Ever Lonely vocais e a bateria que evocam o The Cure (fase Pornography). Mas o clima não é o gótico do cabelão e maquiagem cuidadosamente mal-feita e sim de Talk Talk. All Of The Dead Girls brinca com a batida percussiva de Adam & The Ants e Born To Lie é como se A Flock Of Seagulls tivesse reencarnado. Em The Assailant o vocal de Havok assume o mesmo drama de Andy Bell, mas quando entra o coro, o clima muda para Depeche Mode. Grande ironia – intencional? – porque Erasure e Depeche se detestavam no auge das carreiras.
Com paleta sonora propositalmente menor e geograficamente enfatizando a Inglaterra, o álbum consegue o mesmo feito de The Desired Effect (2015), de Brandon Flowers: inventar sonoridade oitentista que nunca existiu do jeito apresentado pelo álbum, porque na época estava fragmentada entre diversos artistas. Por isso esses álbuns soam criativos e frescos, não meros clones. 

domingo, 21 de maio de 2017

ZOOFILIA COM ORANGOTANGA III

ONG escolhe nome de Alba para fêmea de orangotango encontrada Bornéu
ONG escolhe nome de Alba para fêmea de orangotango encontrada Bornéu

Uma ONG de defesa dos animais anunciou nesta segunda-feira que escolheu o nome de Alba para uma fêmea de orangotango de olhos azuis resgatada na parte indonésia da ilha de Bornéu, depois de receber uma série de sugestões.
O raro exemplar deste animal foi encontrado preso em uma jaula, em uma localidade isolada do distro de Kapuas Hulu, na província de Kalimantan Centro.
A Fundação para a Sobrevivência do Orangotango de Bornéu (BOSF, em inglês) afirmou que o nome escolhido tem um grande significado. “Felizmente chegará um novo amanhecer para estes animais preciosos”, declarou a ONG em um comunicado.
A fundação, que havia feito na semana passada um apelo para batizar a fêmea de orangotango, disse ter recebido milhares de sugestões do mundo inteiro.
É a primeira vez que a BOSF acolhe um orangotango albino desde sua criação, há 25 anos.
O animal, de cerca de cinco anos, estava em más condições quando foi encontrado, mas a ONG afirma que está se recuperando bem e que engordou cerca de 4,5 quilos nos últimos 15 dias.
Os orangotangos de Bornéu têm normalmente uma pelagem marrom, e o BOSF indicou que está estudando o albinismo nos grandes primatas antes de decidir a melhor forma de proceder para o futuro de Alba.
“Não podemos simplesmente colocar Alba em uma zona florestal ou em um santuário sem ter examinado seriamente todas as possibilidads”, explicou Jamartin Sihite, diretor da ONG. “Até o momento não conseguimos encontrar nenhum outro exemplar de orangotango albino e precisamos saber mais sobre ela e sua situação especial”, acrescentou.

sábado, 20 de maio de 2017

PREOCUPAÇÃO MOÇAMBICANA

Moçambique preocupado com o rapto de albinos

Foto de arquivo

Peritos reunidos em Pemba para travar o fenómeno.
O rapto, tráfico, assassinato, extracção de órgãos e partes do corpo de cidadãos albinos ganhou, nos últimos anos, ganhou contornos alarmantes em Moçambique.
Dados fornecidos pela Procuradoria-Geral da República indicam que, em 2016, foram movimentados em Moçambique um total de 19 processos relacionados com casos de tráfico humano, no geral, dos quais sete tinham como vítimas cidadãos com problemas de albinismo.
Em 2015, dos 38 processos de tráfico humano movimentados pela justiça moçambicana, 15 tinham relação com albinos. E, desses 15, 10 foram acusados, 3 arquivados e dois ainda estão em instrução, nos tribunais.
Apesar de a estatística mostrar que o número de casos de homicídio e tráfico de albinos está a diminuir, o assunto ainda continua a preocupar.
Tanto assim que a OIM, Organização Internacional para as Migrações, decidiu organizar, nesta quinta-feira, 18, um encontro especializado, em Pemba, capital da província nortenha moçambicana de Cabo Delgado.
A Procuradora-Geral Adjunta, Amabélia Chuquela, disse à Voz da América, que, além de moçambicanos, participam no encontro de dois dias, também peritos do Malawi e da Tanzânia, países que também registam casos de rapto de albinos.
NOTA DO DR. ALBEE: para ouvir o áudio da reportagem, acesse o link:

ALBINO GOURMET 229

O canal Vai Comer O Quê é administrado e apresentado por Francielle Nogueira, que posta vídeos com os mais diversos tipos de comida às segundas, quartas e sextas-feiras. Com quase 243 mil inscritos, vale a pena aventurar-se nos vídeos pra ficar com água na boca e/ou fazer as receitas. Confira pequena amostra do cardápio:

sexta-feira, 19 de maio de 2017

GÊMEAS ALBINAS NO DOMINGO SHOW

Após a foto das três irmãs fazer sucesso na internet, o Domingo Show foi conhecer melhor a história da família que chamou tanta atenção do país. Confira!

quinta-feira, 18 de maio de 2017

ALBINO INCOERENTE NO PROGRAMA BEM ESTAR

Há semanas, o jornalista Erick Gimenes, do Portal G1, de Curitiba, me contatou dizendo que pretendia fazer uma grande reportagem sobre albinismo. Imediatamente, disponibilizei material e contatos, porque essas mostras de boa vontade da imprensa têm que ser valorizadas e auxiliadas por nós envolvidos com a causa.
Nem bem voltara do Encontro com Fátima Bernardes e ele me deu a excelente notícia: o projeto ultrapassaria as fronteiras do G1 e resultaria em grande tópico para o programa Bem Estar, exibido nas manhãs globais, antes do da Fátima, inclusive.
Ele contou que passaria uma semana em São Paulo fazendo entrevistas e perguntou se eu topava ser uma delas. Demorou! Claro que sim.
Dia 16 de maio lá estava eu na USP para gravar. Uma equipe formidável e divertida; foi tudo bem ligeiro e sem enrolação, como gosto. A única “exigência” de estrela” (sentiram o poder?) que fiz foi que algumas fotos fossem tiradas para postar aqui e compartilhar com vocês.
Além de gratidão pela contribuição à causa albina, desejo a melhor sorte para esses jovens tão cheios de vontade de fazer coisa legal e com papo e senso de humor de primeira. Valeu!
Parece que o programa vai ao ar em fins de junho. Aviso quando souber a data.

Por ora, fiquem com o making of!





TELONA QUENTE 187

Resultado de imagem para filme a chegada
Roberto Rillo Bíscaro

Milhões são gastos pra tentar detectar vida alienígena, pra entrar em contato com ETs. Espero morrer antes que isso aconteça; nunca me interessou e até me assusta: pensou se forem como os sucessivos colonizadores, responsáveis por genocídios ao longo dos séculos? E se formos os nativos americanos pro visitante interplanetário? Esquece. Se existirem, que fiquem onde estão. Também não me comove esse choramingo tipo “será que estamos sós no universo” ou “o que é mais assustador, saber que estamos sozinhos ou que não?” Com tanta gente, problemas e coisas ocorrendo na Terra, c*** e ando se há vida alien! Sós com 8 bilhões habitando o planeta? Ai, para!
Mas, quando é ficção, curto imenso filmes de contatos imediatos de terceiro grau (desde que não sejam esses blockbusters cheios de explosões, que me dão tédinho). A Chegada, filme do ano passado do diretor canadense Denis Villeneuve, não tem nenhuma pirotecnia de dia de independência, e talvez por isso consiga ser tão bonito: a ênfase está numa história profundamente humana, que começa até meio clichezada.
A Dra. Louise Banks perdera a filha adolescente pro câncer e é daquelas personagens perfeitas pra filme de terror e/ou ficção-cientifica: fragilizada, com o lado racional meio pra baixo, é o receptáculo/vaso de comunicação perfeito pra fantasmas, ETs e toda sorte de fantasias. Quando misteriosas e sofisticadíssimas naves alienígenas aparecem pairando em diversos pontos do planeta, os durões e rigorosos militares norte-americanos chamam a professora pra decifrar a linguagem dos visitantes, que armaram todo um esquema pra vir pra Terra e “esqueceram” de inventar algo pra se comunicar, além de não fazerem esforço pra decifrar os nossos códigos. Tudo vai depender da expertise de UMA pessoa – ficção-científica é legal, porque quase sempre de científico tem bem pouco. E a maneira como a história da filha morta se conecta com os visitantes, levaria a supor que esses deviam conhecer pelo menos o inglês, se não, como teria se estabelecido o contato?
Tais questionamentos não pretendem detonar o filme, mas apenas lembrar isso: A Chegada é um filme. Inspirado numa datada teoria linguística de Sapir-Whorf, Arrival não pode ser pretendido como ensinamento dela. Tem fã de ficção-científica que leva o subgênero a sério demais. Menos. Lugar de aprender teoria, nesse caso, é lendo Sapir-Whorf ou comentarista.
Percebido e entendido como filme com roteiro questionável, A Chegada é muito bom. Os extraterrestres são uma espécie de lula ou polvo, que fazem barulho de golfinho e baleia misturado com grunhidos e escrevem por meio de jatos circulares de tinta negra. Pra isso sempre tem que haver uma divisória de vidro entre eles e os humanos. Absurdo, mas cenicamente muito bonito, porque meio fantasmagórico -sem meter medo – e austero.  
A Chegada tem um clima melancólico, meio low key, inclusive nas interpretações, que somados a uma trilha-sonora espetacular resultam na sensação de estranhamento e onirismo que a melhor ficção-científica consegue arrancar do expectador. E o mais importante, o aspecto humano e humanitário sobressalta-se na trama, que, por isso, não necessita de fogos de artifício. E também é apenas a melhor ficção-científica que consegue ser assim.
À parte alguns chavões ideológicos tipo colocar a Rússia e a China como os que primeiro decidem atacar os visitantes (estadunidense é civilizado; só apela pra violência quando atacado. Vietnã, hello!), A Chegada é muito bom.
E ainda assim, continuo não querendo a visita de ETs. Que fiquem longe até minha morte!

quarta-feira, 17 de maio de 2017

CONTANDO A VIDA 189

A ROMARIA DAS “ROMARIAS”

José Carlos Sebe Bom Meihy

Definitivamente, o tema tomou conta de mim. Bastou pensar em uma sondagem para que o campo de pesquisa se tornasse desafio. E eis-me estudando Aparecida do Norte. A complexidade do assunto, porém, obriga a amplitudes e assim a primeira atitude de alargamento da proposta. Na realidade, a prática das romarias é comum no mundo. Algumas são famosas e guardam prestígio transparecidos em relatos de milagres, graças e pagamento de promessas. No circuito cristão católico, entre tantas, a ida a Roma é cultuada como matriz significativa, presente inclusive em outras religiões, mundo afora. Aparecida do Norte, assim, sugere o uso da peregrinação como ato devoto a ser vivenciado por fieis que reciclam rituais derivados de uma afetuosa memória coletiva.

O caso brasileiro, contudo, apresenta variante que interessa pela originalidade: além dos roteiros de visitas, a produção musical se oferece como espécie de discurso épico continuado, cumulativo, dirigido principalmente, para o público de perfil urbano ou em processo de adaptação ao meio citadino. É exatamente neste sentido que a música sertaneja atua como ativadora de pertencimento popular. Ainda que a tradição romeira tivesse perdido o fundamento eminentemente religioso, alguns referenciais, além do culto à Imagem Milagrosa, ficam expostos: a eleição de um tempo central para o pagamento de promessas, a passagem pela capela onde está guardada a santa e referência às músicas que se desdobram fora dos limites das visitas. Tais fatores compõem lances que permitem supor discursos musicais que fomentam uma lógica devota especial. Submetidas a uma linha do tempo, tais canções formulam a continuidade de uma memória que é mais do que mera propaganda, sendo mesmo um chão que justifica o caminho cultural da devoção profana.

O exame das letras sobre as Romarias como fenômeno não religioso, referentes ao caso do Município de Aparecida do Norte, indica a vivência da fé segundo a tradição de inspiração religiosa popular. Trata-se sim, legitimamente, de fé, mas longe de ortodoxias. Não se mostra prudente, contudo, confundir tal procedimento com catolicismo popular, como se houvesse níveis de vivência cristã. Por certo, a popularização dos meios de transporte faz repontar disputas entre a memória de uma cavalaria – onde o fiel cumpriria a promessa vindo montado a cavalo – em favor de movimentações também feitas a pé, de carro, em caminhões ou ônibus. A repetição de alguns motes como a visita à imagem causadora desse culto de fé, Aparecida do Norte, no estado de São Paulo, serve de base para se pensar na formulação do mito de uma cidade sagrada onde se reciclam tradições de supostos traços medievais. Aliam-se assim dois fatores complementares: a imagem da Senhora Aparecida e a constituição de uma “capital da fé”, espécie de referência obrigatória para a homenagem à Padroeira do Brasil.

Mas, em que medida pode-se propor, pelo exame desse cancioneiro modernizado, a construção de uma memória coletiva capaz de justificar a hipótese de trabalho em favor de uma moderna tradição cultural? A resposta se desdobra do suposto que permite ver a formulação de matrizes narrativas que se repetem, variando a exemplificação, mas garantindo o mesmo sentido. Assim, algumas peripécias ou detalhes de façanhas romeiras podem ser encontrados nas letras das centenas de canções, notadamente de duplas sertanejas mais populares. A que inaugura essa sequência, Aparecida do Norte, foi composta por Anacleto Rosas Jr e Tonico, da dupla Tonico e Tinoco. Cabe lembrar que no ano dessa parceria, 1958, deram-se algumas das mais importantes transformações ligadas à modernização do Brasil. No andamento dos chamados “anos dourados” (1956 - 1961), na trajetória política de gestão de Juscelino Kubitschek, arrolaram-se fatos como: a construção de Brasília, o lançamento da Bossa Nova, o cinema novo, o Teatro Experimental Negro, entre tantos eventos. Nessa plêiade de fatos populares, exatamente em 1958, surgia a primeira canção ligada a homenagem nacional de Nossa Senhora Aparecida. Eis a letra de Aparecida do Norte:
  
Já cumpri minha promessa na Aparecida do Norte 

E graças a Nossa Senhora não lastimo mais a sorte 
Falo com Fé: - Não lastimo mais a sorte 
Já cumpri minha promessa na Aparecida do Norte.

Eu subi toda a ladeira sem carência de transporte 

E beijei os pés da Santa da Aparecida do Norte 
Falo com Fé: - Da Aparecida do Norte 
Eu subi toda a ladeira sem carência de transporte.

Não tenho melancolia, tenho saúde sou forte 

Tenho fé em Nossa senhora da Aparecida do Norte 
Falo com Fé: Da Aparecida do Norte 
Não tenho melancolia, tenho saúde sou forte

Padroeira do Brasil Aparecida do Norte 

Eu também sou brasileiro sou caboclo de suporte 
Falo com Fé: Sou caboclo de suporte 
Padroeira do Brasil Aparecida do Norte

Todo meado do ano enquanto não chega a morte 

Vou fazer minha visita na Aparecida do Norte 
Falo com Fé: Na Aparecida do Norte 
Todo meado do ano enquanto não chega a morte.


Nessa canção foram semeados alguns elementos importantes para a construção da memória popular afeita à Nossa Senhora e sua projeção nacional. Além da referência explícita à situação de Aparecida do Norte e da identificação com o contexto católico brasileiro, colocado como um todo homogêneo, nota-se a ratificação da imagem como “Padroeira do Brasil”. E junto desdobram-se qualificativos importantes como “eu também sou brasileiro, sou caboclo de suporte”. Por certo, ser caboclo não é pouco coisa na identidade brasileira/ popular. A rima “Aparecida do norte/morte” por sua vez revela a importância da bênção derivada de promessa – de onde vem a noção de romaria. Item relevante, a presença da palavra “transporte”, não apenas significando movimento de outras partes para a cidade religiosa, mas também, na descrição do local, por meio da ladeira que conduzia à antiga Basílica. Não menos saliente é a referência à saúde e ao compromisso de, enquanto viver, cumprir a promessa. Como marco inaugural, a canção permite ainda uma imprecisão de data, valorizando o compromisso, independente de data fixa fica expresso que a façanha se repetira “todo meado do ano enquanto não chega a morte”. Foi a partir desse começo que tudo se desdobrou. E assim continuo minha peregrinação, aliviado por ter me tornado devoto do tema.