segunda-feira, 1 de maio de 2017

CAIXA DE MÚSICA 263

Resultado de imagem para jamiroquai automaton
Roberto Rillo Bíscaro

No início dos anos 90, Jason Kay fez teste pra vocalista do Brand New Heavies, mas não foi aceito. Embora a cena fosse a do então crescentemente influente acid jazz, Jay Kay imbui-se do espírito “faça você mesmo” do punk e criou sua própria banda, o Jamiroquai, de cuja formação inicial só resta o cantor (o tecladista Toby Smith morreu ainda outro dia. RIP). O sucesso do single de estreia por um selo independente levou a Sony Music a oferecer contrato de 8 álbuns pros ingleses. Saca o prestígio comercial de que o acid jazz desfrutava! Em 1993, saiu o álbum-debutante, Emergency On Planet Earth, e daí adiante o grupo teve carreira, se não de megaestrelato, mas de bastante sucesso de crítica e público, incorporando estilos e deixando o acid jazz de lado. Esse termo sequer é muito utilizado hoje.
Após interrupção de 7 anos, dia 31 de março saiu o oitavo LP de inéditas, Automaton, que chegou ao quarto lugar na Inglaterra, descolou um primeiro na Itália e arranhou os fundilhos da Billboard Hot 100; mas quem disse que artista estrangeiro faz sucesso fácil no quase hermético mercadão ianque? Com o passado acid jazz jazendo literalmente em outra geração, o maduro Jamiroquai voltou com dúzia de canções funk e Nu Disco, pós-Random Access Memories, influente álbum do Daft Punk.
A influência do grupo francês é grande na abertura Shake It On e a partir daí, grosso modo, sucedem-se sete faixas informadas por diferentes aspectos da disco music, porque, quem disse que era tudo a mesma coisa? Andrea True Connection era uma coisa; Sister Sledge, outra.  Difícil ficar sem sacolejar ao som do disco-funk à Chic, Cloud 9 ou da sensacional Superfresh, que não deixa de bater continência aos Bee Gees em sua fase discotheque. Hot Property é funk semifuturista com moça falando em língua europeia oriental. Summer Girl tem clima Club Tropicana de deixar Wham e Kylie Minogue orgulhosos. George Michael deve estar dançando no céu.
Nesse primeiro bloco funkeado e de canções mais curtas e radiofonicamente acessíveis, a exceção fica por conta da faixa-título Automaton. O terreno aí é puro funk futurista, filhote de Dee D. Jackson, relido via electro. Remete direto pra eurodance oitentista de Sandra e seu marido Michael Cretu, os Video Kids (woodpeckers from space, eh eh eh eh!), voz digitalizada à Kraftwerk-Electric Café (1986). Será que o “eyes without a face” da letra é referência proposital ao maior sucesso de Billy Idol?
As cinco faixas finais são mais longas e verdadeiras aulas de groove construindo canções lotadas de detalhes, repetições e fontes originárias. Nights Out In The Jungle e Dr. Buzz têm clima acid jazz e/ou funk, mas ao fundo você se depara com uma guitarrinha rockada de leve. E em We Can do It, a voz de Jay Kay tá tão Sting cantando Roxanne!
Maturidade e abrangência do escopo só fizeram bem ao Jamiroquai, que entregou um álbum sonoramente sofisticado e muito balouçante.

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