Roberto Rillo Bíscaro
No início dos anos 90, Jason Kay fez teste pra vocalista
do Brand New Heavies, mas não foi aceito. Embora a cena fosse a do então
crescentemente influente acid jazz,
Jay Kay imbui-se do espírito “faça você mesmo” do punk e criou sua própria
banda, o Jamiroquai, de cuja formação inicial só resta o cantor (o tecladista
Toby Smith morreu ainda outro dia. RIP). O sucesso do single de estreia por um selo independente levou a Sony Music a
oferecer contrato de 8 álbuns pros ingleses. Saca o prestígio comercial de que
o acid jazz desfrutava! Em 1993, saiu
o álbum-debutante, Emergency On Planet Earth, e daí adiante o grupo teve
carreira, se não de megaestrelato, mas de bastante sucesso de crítica e
público, incorporando estilos e deixando o acid
jazz de lado. Esse termo sequer é muito utilizado hoje.
Após interrupção de 7 anos, dia 31 de março saiu o oitavo
LP de inéditas, Automaton, que chegou ao quarto lugar na Inglaterra, descolou
um primeiro na Itália e arranhou os fundilhos da Billboard Hot 100; mas quem
disse que artista estrangeiro faz sucesso fácil no quase hermético mercadão
ianque? Com o passado acid jazz
jazendo literalmente em outra geração, o maduro Jamiroquai voltou com dúzia de
canções funk e Nu Disco, pós-Random Access Memories, influente álbum do Daft
Punk.
A influência do grupo francês é grande na abertura Shake
It On e a partir daí, grosso modo, sucedem-se sete faixas informadas por
diferentes aspectos da disco music,
porque, quem disse que era tudo a mesma coisa? Andrea True Connection era uma
coisa; Sister Sledge, outra. Difícil
ficar sem sacolejar ao som do disco-funk à Chic, Cloud 9 ou da sensacional
Superfresh, que não deixa de bater continência aos Bee Gees em sua fase discotheque. Hot Property é funk
semifuturista com moça falando em língua europeia oriental. Summer Girl tem
clima Club Tropicana de deixar Wham e Kylie Minogue orgulhosos. George Michael
deve estar dançando no céu.
Nesse primeiro bloco funkeado e de canções mais curtas e
radiofonicamente acessíveis, a exceção fica por conta da faixa-título
Automaton. O terreno aí é puro funk futurista, filhote de Dee D. Jackson,
relido via electro. Remete direto pra
eurodance oitentista de Sandra e seu marido Michael Cretu, os Video Kids (woodpeckers from space, eh eh eh eh!),
voz digitalizada à Kraftwerk-Electric Café (1986). Será que o “eyes without a
face” da letra é referência proposital ao maior sucesso de Billy Idol?
As cinco faixas finais são mais longas e verdadeiras
aulas de groove construindo canções
lotadas de detalhes, repetições e fontes originárias. Nights Out In The Jungle
e Dr. Buzz têm clima acid jazz e/ou funk, mas ao fundo você se depara com uma
guitarrinha rockada de leve. E em We Can do It, a voz de Jay Kay tá tão Sting
cantando Roxanne!
Maturidade e abrangência do escopo só fizeram bem ao
Jamiroquai, que entregou um álbum sonoramente sofisticado e muito balouçante.
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