Roberto Rillo Bíscaro
Embora tenha conseguido assassinar a charada de quem
matara o pequeno Danny Latimer, uns 2 capítulos antes do final, isso em nada
ofuscou minha admiração por Broadchurch, série da ITV, cuja temporada primeira
foi ao ar em 2013. A segunda foi menos boa; parte policial, parte drama de
tribunal, mas igualmente me prendeu. A derradeira dose de 8 capítulos
estrelados por DI Hardy e DS Miller foi exibida na Inglaterra entre fevereiro e
abril do corrente e só não os devorei mais rapidamente, por causa da Fátima Bernardes!
Broadchurch assumiu o lado feminista numa época em que
reacionários tomam o planeta de assalto e socou o estômago do público com trama
sobre estuprador em série. Sendo policial, o objetivo é descobrir quem
violentou Trish Winterman, mas até que isso ocorra – com um diálogo
estarrecedor entre os detetives e o perpetrador – testemunhamos a humilhação,
raiva, vergonha, medo e culpa experimentadas pelas agredidas. À Broadchurch,
também assistimos à queda de máscaras, mas o mais divertido é ver a arrogância
de todos machões destroçada pelos interrogatórios de Hardy e Miller, que
continuam a relação ríspido-amorosa que funciona tão bem desde sempre. Tiozinho
tá todo sarcástico e risonho na cara da DS Miller num capítulo, dali a 2, ela
samba na cara assustada e chorosa do desgraçado na sala de interrogatório.
Três anos depois, a morte de Danny ainda repercute,
porque o roteiro não abandona algumas das personagens, como a família Latimer.
Beth trabalha como conselheira para pessoas em situação de estresse emocional,
seu marido não consegue se livrar do peso da dor, o filho de DS Miller reproduz
o machismo predominante vendo pornô no celular e por aí vai. Mas o foco é mesmo
a investigação sobre o estuprador serial e é essa a melhor parte. Não interessa
muito saber sobre a dona do jornal ou o pároco, que aliás, motiva uma das ações
menos críveis: como desculpa pra reunir as personagens ao final, escolhe-se um
culto na igreja. Difícil de crer na presença dalgumas personagens ali. Eu teria
colocado a vigília em apoio a Trish como elemento agregador; imagino que seria
muito mais verossímil considerando a psicologia de alguns dos habitantes de
Broadchurch.
O criador Chris Chibnall afirmou que essa é a última
história que tem pra contar sobre essas personagens e local. Por um lado é bom,
porque termina por cima, mas por outro deu um vazio danado, quando os créditos
finais apareceram sem o escrito prometendo o retorno de Broadchurch na próxima
temporada.
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