Roberto Rillo Bíscaro
A Dinamarca destacou-se no mercado mundial de TV a partir
do sucesso de Forbrydelsen na Inglaterra e a subsequente explosão cult do Nordic Noir. O peninsular reino
passou a ser conhecido por séries sombrias como Bron/Broen ou dramas políticos
sérios como Borgen. Graças à Netflix, lado mais ameno e algo divertido do país
europeu pode ser conhecido através dos 24 capítulos das 3 temporadas de Rita.
Originalmente produzida pela TV2, a Netflix coproduziu a terceira temporada,
garantindo não apenas distribuição mundial pelo serviço de streaming, mas
dublagem em diversos idiomas – inclusive o português – pros preguiçosos de ler
legenda.
Rita é o equivalente dinamarquês de Merlí: professora
adorada pelos estudantes, mas sempre enrascada fora da sala de aula, por não
saber lidar com autoridades (mas os alunos têm que respeitar a dela) e emoções.
Será que pra ser “bom” professor há que ser emocionalmente imaturo e inseguro?
Será que alguém assim pode ser bom mestre?...
Separada do marido, Rita tem 3 filhos, de que o roteiro
logo percebe que não dará conta e elimina 2 (sem tragédia, não é Nordic Noir),
deixando apenas o mais novo e gay. O grosso da série é a postura pouco
convencional de Rita perante seus alunos, desafiando pais e colegas, fumando na
escola, levando advertência, falando coisas brutalmente sinceras e
constrangedoras, mas sempre resolvendo tudo. Como entretenimento, a série é uma
belezura. A maioria das personagens não é mera caricatura superficial de ser
humano e uma em particular é tão adorável que ganhou série própria, Hjordis.
Menos didática que Merli, porque não se propõe a
“ensinar” conteúdos, Rita ainda assim se sai bem também no quesito
aproveitamento pedagógico. É muito interessante ver como um país onde o aborto
está liberado há muito tempo e tem fama de ser socialmente progressivo,
representa questões como homossexualidade, inclusão, decisão de manter ou não
um feto e até mesmo infestação de piolhos. Sim, a riquérrima Dinamarca também
tem piolhos e gays ainda sofrem piadinhas discriminatórias, mas o modo como
abordam essas questões está realmente muito adiante de nós, então, vale ver.
Como em Merlí, não dá pra esquecer que a condição de
possibilidade pra existência desses mestres heterodoxos reside na postura bem
pouco realista de seus alunos-criações-de-roteiro. Todo mundo quer professores
como o catalão e a dinamarquesa, mas professores também sonham com alunos como
os deles: que ficam calados, prestando atenção às explicações; fazem os deveres
de casa e atividades em grupo em sala; falam cada um de uma vez; sentam-se mal
Rita e Merli entram na sala e estão prontos a melhorar ao menor estímulo de
seus mestres (que nunca aparecem superlotados de aulas ou sendo agredidos por
classe berrando descontrolada).
Conscientes de que não se
pode esperar mudança dos professores sem contrapartida discente, Rita pode ser
fonte de muita diversão e discussão. Talvez consenso entre professores e alunos
pra tentar uma mudança? Acho que baixou uma Hjordis rápida em mim!
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