quinta-feira, 18 de maio de 2017

TELONA QUENTE 187

Resultado de imagem para filme a chegada
Roberto Rillo Bíscaro

Milhões são gastos pra tentar detectar vida alienígena, pra entrar em contato com ETs. Espero morrer antes que isso aconteça; nunca me interessou e até me assusta: pensou se forem como os sucessivos colonizadores, responsáveis por genocídios ao longo dos séculos? E se formos os nativos americanos pro visitante interplanetário? Esquece. Se existirem, que fiquem onde estão. Também não me comove esse choramingo tipo “será que estamos sós no universo” ou “o que é mais assustador, saber que estamos sozinhos ou que não?” Com tanta gente, problemas e coisas ocorrendo na Terra, c*** e ando se há vida alien! Sós com 8 bilhões habitando o planeta? Ai, para!
Mas, quando é ficção, curto imenso filmes de contatos imediatos de terceiro grau (desde que não sejam esses blockbusters cheios de explosões, que me dão tédinho). A Chegada, filme do ano passado do diretor canadense Denis Villeneuve, não tem nenhuma pirotecnia de dia de independência, e talvez por isso consiga ser tão bonito: a ênfase está numa história profundamente humana, que começa até meio clichezada.
A Dra. Louise Banks perdera a filha adolescente pro câncer e é daquelas personagens perfeitas pra filme de terror e/ou ficção-cientifica: fragilizada, com o lado racional meio pra baixo, é o receptáculo/vaso de comunicação perfeito pra fantasmas, ETs e toda sorte de fantasias. Quando misteriosas e sofisticadíssimas naves alienígenas aparecem pairando em diversos pontos do planeta, os durões e rigorosos militares norte-americanos chamam a professora pra decifrar a linguagem dos visitantes, que armaram todo um esquema pra vir pra Terra e “esqueceram” de inventar algo pra se comunicar, além de não fazerem esforço pra decifrar os nossos códigos. Tudo vai depender da expertise de UMA pessoa – ficção-científica é legal, porque quase sempre de científico tem bem pouco. E a maneira como a história da filha morta se conecta com os visitantes, levaria a supor que esses deviam conhecer pelo menos o inglês, se não, como teria se estabelecido o contato?
Tais questionamentos não pretendem detonar o filme, mas apenas lembrar isso: A Chegada é um filme. Inspirado numa datada teoria linguística de Sapir-Whorf, Arrival não pode ser pretendido como ensinamento dela. Tem fã de ficção-científica que leva o subgênero a sério demais. Menos. Lugar de aprender teoria, nesse caso, é lendo Sapir-Whorf ou comentarista.
Percebido e entendido como filme com roteiro questionável, A Chegada é muito bom. Os extraterrestres são uma espécie de lula ou polvo, que fazem barulho de golfinho e baleia misturado com grunhidos e escrevem por meio de jatos circulares de tinta negra. Pra isso sempre tem que haver uma divisória de vidro entre eles e os humanos. Absurdo, mas cenicamente muito bonito, porque meio fantasmagórico -sem meter medo – e austero.  
A Chegada tem um clima melancólico, meio low key, inclusive nas interpretações, que somados a uma trilha-sonora espetacular resultam na sensação de estranhamento e onirismo que a melhor ficção-científica consegue arrancar do expectador. E o mais importante, o aspecto humano e humanitário sobressalta-se na trama, que, por isso, não necessita de fogos de artifício. E também é apenas a melhor ficção-científica que consegue ser assim.
À parte alguns chavões ideológicos tipo colocar a Rússia e a China como os que primeiro decidem atacar os visitantes (estadunidense é civilizado; só apela pra violência quando atacado. Vietnã, hello!), A Chegada é muito bom.
E ainda assim, continuo não querendo a visita de ETs. Que fiquem longe até minha morte!

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