Roberto Rillo Bíscaro
Milhões são gastos pra tentar detectar vida alienígena,
pra entrar em contato com ETs. Espero morrer antes que isso aconteça; nunca me
interessou e até me assusta: pensou se forem como os sucessivos colonizadores,
responsáveis por genocídios ao longo dos séculos? E se formos os nativos
americanos pro visitante interplanetário? Esquece. Se existirem, que fiquem
onde estão. Também não me comove esse choramingo tipo “será que estamos sós no
universo” ou “o que é mais assustador, saber que estamos sozinhos ou que não?”
Com tanta gente, problemas e coisas ocorrendo na Terra, c*** e ando se há vida alien! Sós com 8 bilhões habitando o
planeta? Ai, para!
Mas, quando é ficção, curto imenso filmes de contatos
imediatos de terceiro grau (desde que não sejam esses blockbusters cheios de explosões, que me dão tédinho). A Chegada,
filme do ano passado do diretor canadense Denis Villeneuve, não tem nenhuma
pirotecnia de dia de independência, e talvez por isso consiga ser tão bonito: a
ênfase está numa história profundamente humana, que começa até meio clichezada.
A Dra. Louise Banks perdera a filha adolescente pro
câncer e é daquelas personagens perfeitas pra filme de terror e/ou
ficção-cientifica: fragilizada, com o lado racional meio pra baixo, é o
receptáculo/vaso de comunicação perfeito pra fantasmas, ETs e toda sorte de
fantasias. Quando misteriosas e sofisticadíssimas naves alienígenas aparecem
pairando em diversos pontos do planeta, os durões e rigorosos militares
norte-americanos chamam a professora pra decifrar a linguagem dos visitantes,
que armaram todo um esquema pra vir pra Terra e “esqueceram” de inventar algo
pra se comunicar, além de não fazerem esforço pra decifrar os nossos códigos.
Tudo vai depender da expertise de UMA pessoa – ficção-científica é legal,
porque quase sempre de científico tem bem pouco. E a maneira como a história da
filha morta se conecta com os visitantes, levaria a supor que esses deviam
conhecer pelo menos o inglês, se não, como teria se estabelecido o contato?
Tais questionamentos não pretendem detonar o filme, mas
apenas lembrar isso: A Chegada é um filme. Inspirado numa datada teoria
linguística de Sapir-Whorf, Arrival não pode ser pretendido como ensinamento dela.
Tem fã de ficção-científica que leva o subgênero a sério demais. Menos. Lugar
de aprender teoria, nesse caso, é lendo Sapir-Whorf ou comentarista.
Percebido e entendido como filme com roteiro
questionável, A Chegada é muito bom. Os extraterrestres são uma espécie de lula
ou polvo, que fazem barulho de golfinho e baleia misturado com grunhidos e
escrevem por meio de jatos circulares de tinta negra. Pra isso sempre tem que
haver uma divisória de vidro entre eles e os humanos. Absurdo, mas cenicamente
muito bonito, porque meio fantasmagórico -sem meter medo – e austero.
A Chegada tem um clima melancólico, meio low key, inclusive nas interpretações,
que somados a uma trilha-sonora espetacular resultam na sensação de
estranhamento e onirismo que a melhor ficção-científica consegue arrancar do
expectador. E o mais importante, o aspecto humano e humanitário sobressalta-se
na trama, que, por isso, não necessita de fogos de artifício. E também é apenas
a melhor ficção-científica que consegue ser assim.
À parte alguns chavões ideológicos tipo colocar a Rússia
e a China como os que primeiro decidem atacar os visitantes (estadunidense é
civilizado; só apela pra violência quando atacado. Vietnã, hello!), A Chegada é
muito bom.
E ainda assim, continuo não querendo a visita de ETs. Que
fiquem longe até minha morte!
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