Roberto Rillo Bíscaro
Quando os alunos fizeram uma espécie de corredor polonês
pra recepcionar sob aplausos a volta das férias do professor Merlí, no início
da segunda temporada da série que leva o nome do docente de filosofia, temi que
o sucesso da primeira significasse que o tiozão voltaria ainda mais histriônico
e problemático. Afinal, não são muitas séries catalãs que têm os direitos de
exibição compradas pela poderosa Netflix.
Desconheço se a segunda temporada já se encontra no serviço
de streaming, mas afianço que a
personagem voltou um bocado mais aparada na fornada de capítulos do ano
passado. Ainda romantizam a docência e Merli aparece lidando sempre com os
mesmos alunos, prontos a obedecerem-no, sentarem-se, calarem-se ao seu menor
comando e mesmo quando interrompem a aula pra fazer as típicas piadinhas de
adolescente, não atrapalham a explicação, porque é só uma intervençãozinha
rápida, ninguém perde o foco. Bem se vê que nunca deram aula, né roteiristas?
Mas, Merlí agora divide mais o tempo com as demais
personagens, não tem a palavra final mágica pra tudo e encontra até um projeto
de Nêmesis, na professora de história Coralina, uma Merlí de saias. Só que a
série se chama Merlí, então ela é a antipática, ele não. Um bom ponto pra
discussão em uma série que continua gritando por projeto de estudo com alunos
de ensino médio. Por que ele pode ser desbocado ao ponto da inconveniência e
ela não? Mulher não pode, só homem?
Abordando até gente contemporânea como Judith Butler e
suas discussões sobre a construção dos gêneros, no capítulo onde aparece um
professor transexual, Merlí segue com seus pensadores servindo de base pros
problemas de cada capítulo. Nesse ponto é uma série teen bem inteligente, ainda que os ataques genéricos do professor
contra os políticos sejam infantiloides e baseados no senso-comum, tipo “todo
político é corrupto”. Mas não é a filô que nos ensina a questionar o
senso-comum, como pode Merlí? Além do quê, ele leciona numa escola pública,
resultado de políticas públicas, então, se todo político é ruim... Ah, vá te
catar Merlí!
Acidezes a parte, Merli entretém, porque seus personagens
são de carne e osso, os atores não são Barbies e Kens de plástico; têm
verruguinhas e há uma até meio cheinha. Nada daquela diversidade de cor e
orientação sexual, onde todo mundo é meio modelo da Elite, cancelando a noção
de diversidade.
Cortadas as asas do professor, a série ficou bem melhor.
Cabe o lembrete outra vez, porém: geralmente nós
professores não temos tempo de nos envolver com os problemas pessoais dos
alunos, porque os temos em excesso e demais provas e reuniões e papelada pra
preencher. Veja sem romantizar e querer nos transferir tarefas que são da família,
psicólogo, enfermeira, babá etc!
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