Roberto Rillo Bíscaro
Dobradinha da Decepção
Fazia tempo que não organizava dobradinha de TV; pena que
esta seja sobre uma série e uma mini que me decepcionaram.
Os detetives-diletantes são subgênero na
literatura/dramaturgia policial, que abriga um sub-subgênero, o dos
investigadores religiosos. Um dos representantes desse grupo é o clérigo
anglicano Sidney Chambers, dos contos de James Runcie. Em 2014, a ITV levou os
Grantchester Mysteries pras telinhas, em meia dúzia de episódios independentes,
mas interligados, batizados de Grantchester, o condado perto de Cambridge onde
Sidney e o inspetor ateu Geordie Keating resolvem crimes e assassinatos.
Grantchester não é ruim, mas é reservada demais. Os britânicos têm mesmo essa
fama, mas nem mesmo a excelente reconstituição de época conseguiu me fazer
empatizar com Sidney. Tudo muito bonitinho, tudo muito esperto (aparentemente),
mas tudo meio mecânico.
Os desinteressantes dilemas pessoais de Chambers imbricam-se
nas tramas policiais, que não passam de distrações pras questões que realmente
parecem as mais importantes no roteiro, a saber, se Sidney vai ou não ficar com
a amiga sem graça ou se a alemã mal-desenvolvida como personagem será a
escolhida. Ainda que louve essa inserção contemporânea de vida íntima nesses
detetives, porque os torna mais humanos, acho que o cancelado símile
australiano The Doctor Blake Mysteries fazia trabalho muito mais simpático,
onde tanto o pessoal quanto o detetivesco atraem e são fofos. Esses shows são
pra distrair mesmo; quem quer coisa “séria” que vá ver Happy Valley.
Os escandalizados
desavisados com a “decadência” da música deviam ver Grantchester, porém, que,
situada nos anos 50, mostra a resistência do inglês típico à “invasão” do hoje
cultuado jazz. Imagine, "essa música de preto, com inglês errado, substituindo
as leves operetas de Gilbert & Sullivan, good God"! Viram como Grantchester
não é ruim? Eu que não gostei: só vi uma temporada, mas já deve estar na 3 ou
4, pesquisem.
Virage Nord (2015) tem 3 capítulos e é tentativa francesa
de repetir a lugubridade das séries escandinavas. Em termos de ambientação
consegue, porque o norte da França é frio, castigado pelo vento e com céus de
chumbo. Em termos de história, conseguiu que eu passasse boa parte do capítulo
final mexendo no celular sem pausar a TV.
Durante jogo de futebol, um
jovem é assassinado e uma moça detida. Sua irmã é policial em Paris e vem pro
norte ajudar a mana. Logo percebe-se que há mais em jogo literalmente. Propina,
apostas e até clube de exploração sexual de menores gays (maldade situarem-no
na Bélgica!). Felizmente não há trechos de futebol, mas tudo é muito
desinteressante, porque o roteiro tentou emular a profundidade e desolação
existências dos Nordic Noir, mas não dá pra comparar Saga Noren com aquela
detetive com cara de Lidia Brondi, usando o mesmo agasalho (como Sara Lund; dá
um tempo, né?), mesmo depois de baleada e ensanguentada (que noja, fia!).
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