Roberto Rillo Bíscaro
Harlan Coben é um norte-americano, cujos thrillers
religiosamente anuais encabeçam os mais vendidos do New York Times há uma
década; é publicado em dezenas de países, tendo vendido respeitáveis 70 milhões
de livros. É daqueles escritores que enchem estantes de aeroportos, terminais
urbanos e hoje em dia fazem as nuvens da Amazon choverem cântaros de downloads pagos.
Tamanho sucesso não se traduz ou reproduz em Hollywood ou
nas emissoras de TV de seu país. Sempre ávidos por emoções baratas (amo, então
nem pense em atrelar preconceito ou esnobismo à expressão!), esses centros
produtores de narrativas não adaptam as obras de Coben pra nenhum tamanho de
tela. Os europeus, ao contrário, amam-no cada vez mais. O cinema francês já lhe
filmou um livro; ele já escreveu original pra britânica Sky.
E é da francesa TF1 que veio Une Chance de Trop (2015),
baseada no livro No Second Chance. Meia dúzia de capítulos lotados de
reviravoltas na trama e destinados a prender o espectador numa rede de eventos
que sacrifica muitas vezes a lógica e o bom senso em nome da conveniência pra
história. Mas, avisado de que se trata de produto pra pura diversão, a
minissérie é deliciosa.
A doutora Alice Lambert vive no conforto classe-média
alta de seu subúrbio parisiense com sua filhinha Tara e seu maridão Paul
Lambert, cujos pais têm até castelo! Ao preparar a mamadeira da bebê, a Dra.
Lambert leva um tiro e, quando desperta do coma, a menina desaparecera e Paul
já era. Como se não bastasse o mistério de como e porque tudo aconteceu, começa
a odisseia de Alice pra tentar encontrar Tara.
Pra quem está um pouco familiarizado com esse tipo de
roteiro, logo de início é possível formular hipótese de quem estará envolvido e
algumas situações são demais arbitrárias. Que diabos aquela menina estaria
fazendo no meio da noite perto da casa de Alice apenas pra dar vaga dica sobre
um caderno de desenhos do falecido Paul? Mas, como não amar trama na qual uma
personagem se encontra sem alternativa e outra do nada revela ser agente
secreto do governo francês?! Pátria de Rocambole, será por isso que os
franceses se renderam à pirotecnia melodramática de Harlan Coben, que aparece
no último capítulo?
Une Chance de Trop tem ótimas atuações; lindas tomadas de
Paris; um inspetor de polícia irônico e mal-humorado, que daria ótimo
protagonista de série própria; (melo)drama; romance; vilã psicopata de cartoon e ganchos pra prender qualquer
um que queira escapar do cotidiano, mas com a segurança de que no fim tudo dará
certo e a vida do dia-a-dia retornará “como deve ser”.
Indicadíssima pra fazer maratona, tendência crescente
entre espectadores pós-modernos de séries.
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