terça-feira, 27 de junho de 2017

TELINHA QUENTE 265

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Roberto Rillo Bíscaro

Harlan Coben é um norte-americano, cujos thrillers religiosamente anuais encabeçam os mais vendidos do New York Times há uma década; é publicado em dezenas de países, tendo vendido respeitáveis 70 milhões de livros. É daqueles escritores que enchem estantes de aeroportos, terminais urbanos e hoje em dia fazem as nuvens da Amazon choverem cântaros de downloads pagos.
Tamanho sucesso não se traduz ou reproduz em Hollywood ou nas emissoras de TV de seu país. Sempre ávidos por emoções baratas (amo, então nem pense em atrelar preconceito ou esnobismo à expressão!), esses centros produtores de narrativas não adaptam as obras de Coben pra nenhum tamanho de tela. Os europeus, ao contrário, amam-no cada vez mais. O cinema francês já lhe filmou um livro; ele já escreveu original pra britânica Sky.
E é da francesa TF1 que veio Une Chance de Trop (2015), baseada no livro No Second Chance. Meia dúzia de capítulos lotados de reviravoltas na trama e destinados a prender o espectador numa rede de eventos que sacrifica muitas vezes a lógica e o bom senso em nome da conveniência pra história. Mas, avisado de que se trata de produto pra pura diversão, a minissérie é deliciosa.
A doutora Alice Lambert vive no conforto classe-média alta de seu subúrbio parisiense com sua filhinha Tara e seu maridão Paul Lambert, cujos pais têm até castelo! Ao preparar a mamadeira da bebê, a Dra. Lambert leva um tiro e, quando desperta do coma, a menina desaparecera e Paul já era. Como se não bastasse o mistério de como e porque tudo aconteceu, começa a odisseia de Alice pra tentar encontrar Tara.
Pra quem está um pouco familiarizado com esse tipo de roteiro, logo de início é possível formular hipótese de quem estará envolvido e algumas situações são demais arbitrárias. Que diabos aquela menina estaria fazendo no meio da noite perto da casa de Alice apenas pra dar vaga dica sobre um caderno de desenhos do falecido Paul? Mas, como não amar trama na qual uma personagem se encontra sem alternativa e outra do nada revela ser agente secreto do governo francês?! Pátria de Rocambole, será por isso que os franceses se renderam à pirotecnia melodramática de Harlan Coben, que aparece no último capítulo?
Une Chance de Trop tem ótimas atuações; lindas tomadas de Paris; um inspetor de polícia irônico e mal-humorado, que daria ótimo protagonista de série própria; (melo)drama; romance; vilã psicopata de cartoon e ganchos pra prender qualquer um que queira escapar do cotidiano, mas com a segurança de que no fim tudo dará certo e a vida do dia-a-dia retornará “como deve ser”.

Indicadíssima pra fazer maratona, tendência crescente entre espectadores pós-modernos de séries. 

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