Jaqueline Nakiri Nalubale nasceu em 1977 na quente,
negra e empobrecida Uganda e em 1990 emigrou com a família pra Suécia, oposto
escandinavo frio, branco e rico. O choque cultural da diáspora africana em
contato com o nem sempre receptivo mundo protestante-tecnologizado do norte
europeu está na medula sonora de Jaquee, seu nome artístico.
Seu álbum de estreia veio em 2005. Depois de
recusada por diversas gravadoras, a moça seguiu o exemplo punk “faça você
mesmo” e graças à fartura sueca (quantos em África poderiam fazer o mesmo?) autofinanciou
Blaqalixious. Talento e boa recepção animaram-na a prosseguir e garantiram-lhe
contrato com a alemã Rootdown Records, que dia 19 de maio lançou o álbum Fly
High.
Jaqee se autodenomina camaleoa musical, quando lhe
perguntam a qual (sub-)gênero adere. Fly High não a desmente, além de comprovar
sua qualidade e multiculturalismo.
A curta abertura violonada de Hello destaca a rica
voz de Jaqee, reminiscente a Billie Holiday, o que se evidencia ainda mais na
delicadeza quase de caixa de música de Zola’s Dance. A comparação com a trágica
diva do jazz fica ainda mais consequente, quando se sabe que em 2008, a
kampalense gravou álbum-tributo, intitulado A Letter To Billie. Multiestilos,
Jaqee não perde a oportunidade de misturar sopro jazzy de New Orleans com
cordas africanas em Water It. E ela manda bem no reggae de Don’t Fuss; tem hora
que parece Holiday canta Marley! Mas, Jaqee não está interessada apenas em
ritmos “raiz”: Oh, Sister é modernidade calcada em hip hop, trap ou o que for; com teclado circular
de correnteza nervosa.
Não poderiam faltar batucões afroestilizados, tipo
Tambuula e sua injeção de electronica ou a delícia absoluta de All In, algum
ritmo afro, que parece frevo com marchinha de carnaval. Comum na atualidade,
Jaqee bota vinhetas deletáveis em Fly High. Uma delas, Kalangala, espanta: como
ela desperdiça melodia e instrumental que certos grupos indie matariam por? Lullaby é o que o nome indica, meio em ritmo de
balada final dos 50’s/começo dos 60’s. Miracle não é milagrosa, mas é pop pra
cantar em show com as mãos pra cima.
O milagre de Fly High é a assombrosa canção-título,
que justifica o álbum e é uma das coisas mais intoxicantes em meu celular este
semestre. Uma espécie de indie-valsa circular e hipnótica sobre a qual Jaqee
acrescentou celestial contracanto, meio de outra dimensão. Que seja pra ouvir
essa maravilha, cobice esse álbum.
Com suas mensagens afirmativas, Fly High bem que
poderia fazer Jaqee voar alto; ela merece.
Gostei muito da cantora, sem falar que tem uma voz linda, um dom com certeza, poderia vir para o Brasil mostrar esse talento.
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