segunda-feira, 3 de julho de 2017

CAIXA DE MÚSICA 272

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Roberto Rillo Bíscaro

Jaqueline Nakiri Nalubale nasceu em 1977 na quente, negra e empobrecida Uganda e em 1990 emigrou com a família pra Suécia, oposto escandinavo frio, branco e rico. O choque cultural da diáspora africana em contato com o nem sempre receptivo mundo protestante-tecnologizado do norte europeu está na medula sonora de Jaquee, seu nome artístico.
Seu álbum de estreia veio em 2005. Depois de recusada por diversas gravadoras, a moça seguiu o exemplo punk “faça você mesmo” e graças à fartura sueca (quantos em África poderiam fazer o mesmo?) autofinanciou Blaqalixious. Talento e boa recepção animaram-na a prosseguir e garantiram-lhe contrato com a alemã Rootdown Records, que dia 19 de maio lançou o álbum Fly High.
Jaqee se autodenomina camaleoa musical, quando lhe perguntam a qual (sub-)gênero adere. Fly High não a desmente, além de comprovar sua qualidade e multiculturalismo. 
A curta abertura violonada de Hello destaca a rica voz de Jaqee, reminiscente a Billie Holiday, o que se evidencia ainda mais na delicadeza quase de caixa de música de Zola’s Dance. A comparação com a trágica diva do jazz fica ainda mais consequente, quando se sabe que em 2008, a kampalense gravou álbum-tributo, intitulado A Letter To Billie. Multiestilos, Jaqee não perde a oportunidade de misturar sopro jazzy de New Orleans com cordas africanas em Water It. E ela manda bem no reggae de Don’t Fuss; tem hora que parece Holiday canta Marley! Mas, Jaqee não está interessada apenas em ritmos “raiz”: Oh, Sister é modernidade calcada em hip hop, trap ou o que for; com teclado circular de correnteza nervosa.
Não poderiam faltar batucões afroestilizados, tipo Tambuula e sua injeção de electronica ou a delícia absoluta de All In, algum ritmo afro, que parece frevo com marchinha de carnaval. Comum na atualidade, Jaqee bota vinhetas deletáveis em Fly High. Uma delas, Kalangala, espanta: como ela desperdiça melodia e instrumental que certos grupos indie matariam por? Lullaby é o que o nome indica, meio em ritmo de balada final dos 50’s/começo dos 60’s. Miracle não é milagrosa, mas é pop pra cantar em show com as mãos pra cima.
O milagre de Fly High é a assombrosa canção-título, que justifica o álbum e é uma das coisas mais intoxicantes em meu celular este semestre. Uma espécie de indie-valsa circular e hipnótica sobre a qual Jaqee acrescentou celestial contracanto, meio de outra dimensão. Que seja pra ouvir essa maravilha, cobice esse álbum.
Com suas mensagens afirmativas, Fly High bem que poderia fazer Jaqee voar alto; ela merece.  

Um comentário:

  1. Gostei muito da cantora, sem falar que tem uma voz linda, um dom com certeza, poderia vir para o Brasil mostrar esse talento.

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