José
Carlos Sebe Bom Meihy
Como
muita gente, ando comovido, mais sensível e até me sentindo à beira de uma
crise de nervos. Motivos não faltam, nem a mim, nem a ninguém. Todos vivemos
sob um denominador comum que nos autoriza creditar culpa às tristezas
políticas, descrenças cidadãs e mesmo arrolados na avalanche de frustrações engrossadas
pela fartura de desilusões públicas, escândalos e golpes. Estamos abatidos e, o
que é pior, irremediavelmente contaminados, divididos em partes que se odeiam.
É claro que na moral judaico-cristã em que vivemos, sempre há aqueles que
evocam Chico Buarque e entoam o alentador “vai passar”. Que os almejados
melhores dias venham logo, mas enquanto não chegam, vamos procurando cá e lá
algumas sementes que fecundam alívios. Posso estar enganado, mas na busca de
compensações, noto que amigos têm se acercado mais, pequenos afetos são
refeitos, carinhos próximos são recosturados. Tomara que esteja certo, pelo
menos nesse quesito. Tomara. Essa eventual busca, aliás, é boa, não resta
dúvida, ainda que, muitas vezes, no coletivo, se sinalizem atos que dimensionam
a violência das pressões acumuladas. Foi pensando nisso que contemplei a
polêmica causada por atos noticiados envolvendo o ator Fabio Assunção, em recente
apresentação feita no Recife, onde foi participar da estreia do documentário “Samba
de Coco”, produzido por Pally Siqueira, sua companheira há mais de um ano. Depois
de muita bebida, mediante assédio incontido de fãs, o ator se envolveu em
brigas com moradores e policiais. Preso em público, recluso em carro da
delegacia, filmado em cena humilhante, foi liberado depois de pagar fiança de
cerca de R$ 9 mil. Não bastasse o vexame divulgado nacionalmente, as redes
sociais foram inclementes, atacando-o, execrando sua atitude criticável, sim,
mas demandando outros critérios. É lógico que a condenação tem fundamento e que
ele, como figura conhecida, merecia sanções, mas reclama-se dos modos de
divulgação e do vazio de argumentos ou análises do fato. A piorar o quadro
pessoal do ator, seu nome profissional foi comprometido periclitando tudo. Mais
armas para um público ávido de escândalos, principalmente envolvendo
celebridades.
Em satisfação exigida pela TV Globo, o ator de 45 anos declarou “Peço a todos sinceras desculpas. Não é fácil, mas reconhecer meus erros e procurar sempre aprender com eles é o que eu desejo” e disse mais “Lamento muitíssimo o ocorrido em Arcoverde. Era uma noite de celebração. Tínhamos acabado de exibir nosso documentário filmado no sertão pernambucano no palco principal do festival de São João. Então fomos com a equipe confraternizar e a situação saiu do controle. Infelizmente aconteceu uma briga”. Dado seu histórico pessoal, o próprio Assunção além de declarar que assumiria as despesas, pediu “um exame toxicológico para ser comprovar que não usou drogas ilícitas”. É exatamente esta passagem que me moveu a apresentar-lhe minha solidariedade irrestrita. É fácil julgar e sem contextuar casos específicos cabe ilações imediatas e sempre condenatórias. Mas quem imagina a luta de um drogado contra suas escolhas anteriores? Quem sabe o que é tentar fugir de um vício tão forte como o da dependência química? E que dizer quando o problema deixa de ser privado e se torna uma questão condenável exemplarmente, vista apenas como ato delinquente?
Acordemos:
a dependência química em suas variações é um dos maiores problemas da
atualidade. Em todas as linhas, ela atua movimentando o mundo dos negócios
clandestinos, dando via a carteis internacionais, se formulando como um dos
três mais nutridos comércio da atualidade. E que dizer dos efeitos da droga na
vida das pessoas, de seus familiares e demais correlatos? Vivamos com um
dependente crônico para saber de seus caminhos. Não vale apedrejar sem ter em
mira algum ato construtivo. Somando tudo, prefiro creditar na conta do cansaço
as maledicências todas e mesmo não tendo muita esperança rezo para que haja
compreensão maior. Talvez, o exercício de aceitação nos permita cantar o refrão
final do Vai Passar: “Ai,
que vida boa, olará/ O estandarte do sanatório geral/ Vai passar”.
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