Guilherme Santos é ligado ao movimento em prol das pessoas com albinismo, em Angola. Em ocasião do Dia de Conscientização Sobre o Albinismo, ele escreveu um texto sobre a situação dos albinos de seu país e resolveu compartilhá-lo conosco.
Valeu Guilherme!
Os albinos de Angola - avanços, recuos e
ausências
Por: Guilherme Santos
whatSap +244 923
31 87 99
12 de Junho de
2017
13 de Junho, DIA DE CONSCIENCIALIZAÇÃO SOBRE O ALBINISMO,
proclamado pelas Nações Unidas faz dois anos. Existem três dificuldades
principais que as pessoas com albinismo passam:) a sensibilidade da pele por
falta de melanina que a protege e, por via disso, susceptível ao cancro da
pele; ii) a baixa visão ou subvisão que condiciona o seu desenvolvimento
intelectual e social; iii) os preconceitos, tabus e estereótipos negativos em
relação aos albinos/as, e que são fatores inibidores ao desenvolvimento
emocional e efetivo de albinos/as.
Desde a
comemoração do Dia 13 de Junho do ano passado, qual é o balanço? Dentre outras,
a visibilidade mediático e partilha nas redes sociais sobre o albinismo
mantém-se e é algo útil que contribui para superar crenças negativas
profundamente enraizados nas sociedades, nos grupos, nas instituições, nas
famílias e nos indivídus. Tem havido mais pesquisas e estudos académicos cujos resultados são pouco
divulgadas e debatidas. É objectivamente observável, e cada vez mais, que pessoas
com albinismo se destacam na sociedade e, são figuras notáveis com protagonismo
público, desde jornalistas e outros profissionais, académicos, parlamentares e
candidatos a deputado, tecnocratas, directores, líderes de organizações
sociais, etc. Aparentemente, os níveis de auto-organização de pessoas com
albinismo está a crescer, mas há uma variabilidade grande a tomar em conta de
lugar para lugar. Conheço e participo em Grupos de Ajuda Mútua (GAM) de
albinos/as em Luanda, no Uíge e no Lubango. No Uíge há pequenas iniciativas de
intermediação em que pessoas vuneráveis com albinismo são encaminhadas à Luanda
para fazer consultas da pele ou da visão com apoio de familiares e de
voluntários albinos e não albinos. Ainda no Uíge está em curso o diagnóstico da
vulnerabilidade e riscos, no quadro da Municipalização da Acção Social do
Governo de Angola que inclui uma abordagem sobre albinismo.
A Associação de
Apoio de Albinos de Angola (4As) está a fazer acordos com casas de óptica, em
vista à saúde ocular de albinos/nas para terem acesso, qualidade e desconto dos
serviços clínicos de oftalmologia e serviços técnicos de optometria e aquisição
artigos ópticos. Os artigos ópticos
albinos são caros e a maior parte das famílias não aguenta.
Foram criados mais
Núcleos Provinciais da Associação de Apoio de Albinos de Angola (4As), todavia,
em termos estruturais, organizacionais e institucionais a Associação ainda é
incipiente, ademais, somente com quase 4 anos de existência legal.
Aparentemente, o movimento em prol ao albinismo está a perder vigor e vibração.
Por exemplo, o Grupo de Contactos de Alto Nível constituído por pessoas com
albinismo que são notáveis na sociedade, praticamente deixou de ter acções
enquanto grupo. Porém, estão a surgir
outras inicitivas e dinâmicas sociais e organizativas. É assim que se perde de
um lado e se ganha do outro.
Em algumas
capitais provinciais (menos de metade no país) há condições de serviços
públicos de assistência em dermatologia e, lá, médicos, enfermeiros e outro
pessoal de apoio em hospitais fazem tudo para salvar vidas de albinos/as com doenças
evitáveis. É preciso discutir, aprovar e desenvolver políticas públicas,
prática e investimento focalizado na prevenção para reduzir ou parar com mortes
de gente na flor da idade. Ademais, além da prevenção, é também necessário a
protecção que ajuda a salvar, bem como a promoção que poderia aumentar e
ampliar a inclusão de pessoas com albinismo.
Conheci
pessoalmente alguns albinos/as que pereceram nos últimos dois anos em Luanda,
entre outros, a Suzana dos Gambos/Huíla, de 22 anos de idade, o Benedito do
Luena, de 28 anos de idade, o Nzambi do Saurimo, de 27 anos de idade, a Paula
do Rangel, o Varela do Cuanza Sul, o Isaac Ngola César, todos muitos novos de
idade. Os protetores solares são caríssimos ao bolso das pessoas com albinismo.
Mesmo os que têm algum rendimento não é possível manter um nível regular do uso
de protetores solares.
Sabe-se que
existem crenças em algumas partes do continente africano que se acredita que
partes de corpos de albinos são peças preciosas para a prática de magia e são
em lugares como a Tanzania e norte de Moçambique há relatos antigos e recentes
destas prática.
Entretanto, seja
no global ou local não existem estratágias também globais para lidar com este
drama de seres humanos que são caçados para fins obscuros. É preciso resitir
contras estas indiferenças e resistências em não acelerar processos concretos
para lidar de forma estrutural com os problemas complexos e complicados que os
albinos/as anfrentem, sobre tudo os mais vulneráveis.
Ainda vamos a
tempo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário