Roberto Rillo Bíscaro
Imagine que você é o orgulhoso cidadão de um país cuja
cultura e história tem influenciado o mundo há séculos e que uma estação de TV
compatriota resolva filmar uma série que use como ponto de partida alguns dos
locais mais conhecidos de sua capital, que, incidentalmente, é uma das cidades
mais visitadas do planeta. Só que boa parte do elenco é estrangeira – alguns
até são duma nação de que seu país nem gosta muito – e os diálogos são numa
língua que não é a da sua pátria. Depois o show será dublado em seu idioma
nativo.
Será que foi por isso que os 8 episódios da única
temporada da produção franco-belga Jo (2013) foram tão massacrados em casa?
Policiais da Cidade Luz falando inglês, língua dos malditos ilhéus que
derrotaram Napoleão e comem tão mal? Realmente, a série criada por René Balcer
(que nem francês é, mon Dieu!) tinha tudo pra irritar os franceses e o fez com
estilo. Apesar da boa recepção no exterior, o criador de Law And Order ainda
não viu a prometida segunda temporada de seu rebento.
Estranha um pouco ouvir todo mundo falando inglês numa
produção francesa, especialmente Jean Reno, um dos atores mais queridos do
país, que protagoniza como Jo. Como na Netflix tinha opção de áudio em
português, optei por ela, pra não ficar entediado com sotaques. Usei o verbo no
passado, porque até onde sei, Jo foi retirada do catálogo brasileiro do serviço
de streaming.
Como não compartilho do orgulho ferido francês, apenas me
incomodou isso; do resto até que gostei. Quem sabe no futuro até dê uma
oportunidade pra Law And Order, especialmente depois que soube que a psicopata
do último episódio de Jo é personagem da série ianque e ainda por cima,
interpretada pela irmã de Kevin Arnold?
Jo Saint-Clair é um policial meio no fim da linha, que
sofre as consequências de anos de abuso de várias substâncias, lícitas e não.
Tem o coração comprometido, mas apenas ouvimos isso mais duma vez, apesar de
vê-lo andar, correr e serelepear por toda Paris sem demonstrar fadiga ou falta
de ar. Também enfrenta relação difícil com a filha, negligenciada durante anos.
Enfim, o típico tira durão (“senta aí, antes que eu te dê um murro” LOL) e atormentado.
Tirando o passeio virtual pelos principais logradouros de
Paris, Jo não acrescenta nada ao cânone das séries policiais, mas as histórias
decentes e a cara de passado de Reno valem o tempo investido. Jo é o tipo de
série policial onde tudo é branco e preto e a resolução meio apressada, tirada
da cartola, exceto as áreas cinzas do relacionamento pai e filha, mas,
convenhamos, se estivéssemos de verdade interessados nisso, escolheríamos um
drama.
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