terça-feira, 4 de julho de 2017

TELINHA QUENTE 266

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Roberto Rillo Bíscaro

Imagine que você é o orgulhoso cidadão de um país cuja cultura e história tem influenciado o mundo há séculos e que uma estação de TV compatriota resolva filmar uma série que use como ponto de partida alguns dos locais mais conhecidos de sua capital, que, incidentalmente, é uma das cidades mais visitadas do planeta. Só que boa parte do elenco é estrangeira – alguns até são duma nação de que seu país nem gosta muito – e os diálogos são numa língua que não é a da sua pátria. Depois o show será dublado em seu idioma nativo.
Será que foi por isso que os 8 episódios da única temporada da produção franco-belga Jo (2013) foram tão massacrados em casa? Policiais da Cidade Luz falando inglês, língua dos malditos ilhéus que derrotaram Napoleão e comem tão mal? Realmente, a série criada por René Balcer (que nem francês é, mon Dieu!) tinha tudo pra irritar os franceses e o fez com estilo. Apesar da boa recepção no exterior, o criador de Law And Order ainda não viu a prometida segunda temporada de seu rebento.
Estranha um pouco ouvir todo mundo falando inglês numa produção francesa, especialmente Jean Reno, um dos atores mais queridos do país, que protagoniza como Jo. Como na Netflix tinha opção de áudio em português, optei por ela, pra não ficar entediado com sotaques. Usei o verbo no passado, porque até onde sei, Jo foi retirada do catálogo brasileiro do serviço de streaming.  
Como não compartilho do orgulho ferido francês, apenas me incomodou isso; do resto até que gostei. Quem sabe no futuro até dê uma oportunidade pra Law And Order, especialmente depois que soube que a psicopata do último episódio de Jo é personagem da série ianque e ainda por cima, interpretada pela irmã de Kevin Arnold?
Jo Saint-Clair é um policial meio no fim da linha, que sofre as consequências de anos de abuso de várias substâncias, lícitas e não. Tem o coração comprometido, mas apenas ouvimos isso mais duma vez, apesar de vê-lo andar, correr e serelepear por toda Paris sem demonstrar fadiga ou falta de ar. Também enfrenta relação difícil com a filha, negligenciada durante anos. Enfim, o típico tira durão (“senta aí, antes que eu te dê um murro” LOL) e atormentado.
Tirando o passeio virtual pelos principais logradouros de Paris, Jo não acrescenta nada ao cânone das séries policiais, mas as histórias decentes e a cara de passado de Reno valem o tempo investido. Jo é o tipo de série policial onde tudo é branco e preto e a resolução meio apressada, tirada da cartola, exceto as áreas cinzas do relacionamento pai e filha, mas, convenhamos, se estivéssemos de verdade interessados nisso, escolheríamos um drama.

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