terça-feira, 25 de julho de 2017

TELINHA QUENTE 269

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Roberto Rillo Bíscaro

Último janeiro, visitei São Francisco pela segunda vez. Acho a cidade da Costa Oeste lindíssima, mas tenho medinho, por causa de terremotos. Em minha visita primeira, em ’98, meu anfitrião me apresentou a urbe com explicações, tipo “no terremoto, de 86, esse viaduto desabou e tinha um monte de carros embaixo”. Traumatizei.
Na estadia mais recente o que mais chamou minha atenção – além da deliciosa pizza de pepperoni de 3 quadras donde me hospedei – foi um passeio naqueles ônibus turísticos hop on hop off. Com o incansável companheiro de viagens internacionais, Carlito, escolhi o serviço da empresa cuja propaganda na Union Square era menos agressiva (ah, me convença mostrando suas qualidades e não supostos defeitos do concorrente!).
Mal iniciamos o percurso e o motorista nos convidou a observar o edifício usado como cenário externo pra Inferno na Torre (1974). Seguiram-se a escola secundária onde Linda Evans se graduou e a rua declivosa que servia pra gravar a maioria das cenas de perseguição e carro pulando de The Streets of San Francisco (1972-7). A cada referência, não reprimia sorrisinho: quanta gente, em 2017, conhece o filme-catástrofe, uma das estrelas de Dynasty (a insípida Crystal Carrington, ugh!) ou a série policial em que o atual septuagenário Michael Douglas ainda podia ser chamado de “garotão” pelo parceiro cinquentão? Claro que as menções têm a ver com o público bastante meia-idade que viaja hoje e prefere o conforto dos ônibus a ficar suando a pé ou de bike. Mas, deu vontade de escavar algum HD externo e ver os 121 episódios.
Quando guri, nos 70’s, parece-me que lembro de chamadas pra São Francisco Urgente (na Tupi? Record? Alguém sabe/lembra?), nome nacional da série da ABC. Mas, não via, porque estava mais na vibe desenho, Shazan e Xerife, As Panteras. Quando retornei ao patropi, preenchi mais essa lacuna televisiva dos 70’s e valeu muito.


Na ressaca do flower power, The Streets of San Francisco (TSOSF) traz o tenente Mike Stone (o narigudo Karl Malden), veterano bonachão e durão dos anos 50, que ainda usa chapéu e casacão noir as 7 temporadas (essa constância no vestuário cartuniza um pouco a personagem), resolvendo casos com o novato galã, com formação universitária e sensibilidade pós-hippie (mas macho atirador, não se engane!) Inspetor Steve Keller, estouro popular do filho de Kirk Douglas.
Devido ao período abrangido (72-7), TSOSF pegou a depressão econômica causada pela Crise do Petróleo e a desilusão política de Watergate. Em muitos episódios, nota-se a influência de sucessos de bilheteria como Operação França (1971) e Desejo de Matar (1974), o primeiro sobre tráfico de heroína; o segundo glorificando justiceiros urbanos. Esses fatores, mais TSOSF se querer mais “sério”, tornam muitos episódios bem sombrios, embora por ser pra TV, o fim sempre seja positivo e de captura e punição dos culpados. Uma história sobre heroína envenenada propositalmente, resulta na morte de dezenas e na admissão de que a outrora floral San Fran tem que ter centros de atendimento onde os viciados terão a droga analisada pra ver se não estava contaminada, sem correrem risco de serem denunciados à polícia.
Prostituição, imigração e (não-) aceitação do imigrante mexicano, garotas de programa, alcoolismo entre policiais, gangues, corporações matando pra conseguir propriedades, violência doméstica contra mulheres e/ou crianças (que morrem igual gente grande, eita!) apavoravam de modo alarmista (muitas vezes com dados estatísticos e tudo) as noites de quinta e geraram reclamações de grupos da pais e “cidadãos de bem”, preocupados que o show influenciasse no comportamento delinquente, em ascensão na recessiva ianquelândia. Protestos crescentes pesaram muito pra avalanche de séries de detetive mais leves, no fim dos 70’s e durante boa parte dos 80s, como As Panteras; Casal 20; Murder, She Wrote. Pode matar, mas com fofura!
Óbvio que comparado com a morbidez, explicitude e complexidade psicológica de certas séries policiais deste século, TSOSF não passa de entretenimento um pouco mais ríspido do que o usual nos 70’s. O formato de histórias unitárias de cerca de 50 minutos dispensava a possibilidade de aprofundar ou tornar por demais complexo. As personagens são pétreas durante as 7 temporadas e a resolução dos casos rápida e sem deixar contradição.
O grande charme de The Streets of San Francisco é precisamente as ruas da cidade, dita perigosa, violenta e drogada, mas mostrada em lindas tomadas sempre com gente bem vestida, dando impressão de local frio. Realmente Frisco não é escaldante no verão, mas sei não se dá pra usar aquelas roupas o ano todo. De qualquer modo, a cor local é determinante pra seu sucesso. Nomes de ruas e logradouros sempre citados; muitas externas e internas gravadas in loco; as poucas histórias que não exploram esse universo padecem de sua falta. Não que sejam ruins, mas ficam iguais a tantas outras séries.
Mike Stone (Malden) e Steve Keller (Douglas) quase não têm vidas próprias fora da profissão. Sabemos que o bonitão Steve é conquistador, mas cogitamos que tempo disponível tem pra isso, se passa dias e noites trabalhando e quando se diverte é com a figura paterna de seu superior. Mas, a química entre os dois é perfeita. Tanto é que quando Michael Douglas abandonou o show pra iniciar sua estelar carreira nas telonas, TSOSF despencou na audiência e foi cancelado.
A sétima temporada viu a substituição do parceiro de Mike Stone. Steve Keller virou professor universitário e como parça do Tenente Stone entrou o saudável e meio insosso Dan Robbins, interpretado pelo recentemente falecido Richard Hatch, o Capitão Apolo, de Battlestar Galactica. Hatch jamais teve a star quality de Douglas, mas justiça seja feita, o próprio roteiro diversas vezes sabotou a personagem, que levava umas lavadas desnecessárias de Mike e quase sempre ficava em segundo plano ou pouco fazia.
Em 1992, a ABC quis comemorar o 20º aniversário de estreia, com Back To The Streets Of San Francisco. Mike Stone então era capitão e tem que lidar com o desaparecimento de Steve (Douglas não aparece), cujo destino finalmente se resolve, porque morre. Mas o roteiro é muito fraco, Karl Malden aparece pouco, a trilha tem aquela praga de música saxofonada dos 90’s, enfim, tudo é muito entediante. Não compensa. E pra provar que Hatch não funcionou/não teve chance, sua personagem sequer é mencionada. É como se Dan não tivesse existido. 

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