Roberto Rillo Bíscaro
Vendo a lista dos filmes e séries a serem removidos do
catálogo da Netflix em agosto, o título Memórias Secretas chamou atenção,
porque vinha com foto de Christopher Plummer. Gosto de prestigiar produções com
papeis protagônicos por atores maduros. Porque escasseiam à medida que a idade
avança, acho que o público deve apoiar, pra tentar incentivar que mais
oportunidades apareçam. Pode ser ingênuo perante à maquinaria do lucro, mas me
serve.
Dirigido pelo cult egípcio
naturalizado canadense Atom Egoyam, Memórias Secretas tem alma de filme B
aprisionada em corpo de suspense dramático “sério”. Gracejei com um amigo, que
a direção, elenco, tema, título granjeiam a Remember até o privilégio de ser
seriamente discutido em cursos de pós-graduação sobre memória e identidades
líquidas. Dá mesmo, mas o roteiro de Benjamin August é uma série de
arbitrariedades e plot twists, bem
distantes do desejável prum “filme de arte”.
Não pare de ler por aqui, não detonarei Memórias Secretas; é divertido,
só precisa ver com a cabeça no lugar.
Zev Guttman vive em um geriátrico, perdeu a amada esposa
há pouco e enfrenta os estágios iniciais da demência, doença habilmente
utilizada pelo roteiro. Convencido pelo amigo Max (Martin Laudau, recentemente
falecido) a eliminar um nazista que acabou com ambas as famílias em Auschwitz,
Zev sai pelos EUA e Canadá em busca dum Rudy Kurlander. Diversos nazistas
escaparam, porque emigraram da Alemanha usando documentação falsa, roubada de
suas próprias vítimas. Assim, havia 4 Rudy Kurlanders; Zev teria que descobrir
qual era o carrasco e executá-lo.
Assim, desenvolve-se o thriller de terceira-idade
misturado com drama e road movie. O
roteiro faz tudo se desenrolar com facilidade incrível, coincidências e
forçações de barra abundam. Repare que marmeladas as cenas na casa de armas e
na fronteira! Mas nos bons suspenses B, o realmente divertido é a lógica e a
plausibilidade estarem subservientes à história e às emoções não importa o quê.
E é isso que se necessita saber pra curtir Memórias
Secretas como thriller e não como
tratado-cabeça só porque o tema é perseguição a judeus dirigido por Egoyam (que
já nem mais tá com essa bola toda no circuito de “arte”, sabiam?).
O elenco está muito bom e obviamente Plummer resplandece.
Fãs de séries reconhecerão Henry Czerny, o Conrad Greyson, de Revenge e Dean
Norris, da superestimada Breaking Bad (só eu não consegui passar da metade da
temporada dois?). A sequência com Norris é de longe a melhor.
Memórias Secretas não é muito ágil, em consonância com o
estilo de Egoyam e a idade dos protagonistas, mas oferece bons momentos de
suspense e diversão. Sim, pode ser usado pra discutir identidades líquidas e
memória em cursos de pós-grado também! Mais importante que isso, todavia, é
mostrar que a velhice pode gerar histórias interessantes, onde ela ou suas
características inerentes não precisam ser tratadas com pena ou como tolo
material fofifnho cuti cuti.
Merece ser conferido antes que a Netfilix o subtraia de
sua filmoteca.
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