quinta-feira, 31 de agosto de 2017

TELONA QUENTE 200

Roberto Rillo Bíscaro

O diretor James Wan e o roteirista Leigh Whannell são os responsáveis pela franquia Jogos Mortais, uma das mais lucrativas e imitadas do século XXI. Não que isso signifique muito pra mim, um não-fã em absoluto desse tipo de horror, mas mesmo assim, tais credenciais qualificam-nos até certo ponto. Isso, somado à mediocridade da seção de filmes de terror da Netflix, foi o bastante pra que eu desse chance à recente adição de Gritos Mortais (2007). Não me arrependi, mas Dead Silence só serve mesmo se você está em crise de abstinência por uma dosesinha de sobrenatural, suspense e, nesse caso, nonsense.
O filme centra-se em bonecos de ventríloquo, aqueles serezinhos superesquisitos e partícipes do subgênero horror desde sempre. Provavelmente dá pra criar um mini subsubgênero e se incluirmos bonecos em geral, tipo Chucks e Annabelles, aboliríamos até o “mini”.
Um casal recebe na porta de seu apê um típico boneco de ventríloquo. Não há remetente, mas bem na lógica ilógica de narrativas horroríficas, isso não torna a entrega suspeita. O objeto é prontamente acolhido e amado, erro caro, cuja fatura será paga pela esposa. Provavelmente, dessa assombração eu me livraria, porque acho esses bonecos tão escrotos, que atearia fogo na hora, especialmente se não soubesse quem enviou. Mas, Gritos Mortais é um filme de terror, o que pressupõe decisões estúpidas.
Após a tragédia com a patroa, Ryan retorna a sua pequena cidade pra investigar, porque, quando criança, havia lenda urbana local envolvendo ventríloqua que não tinha filhos, apenas bonecos e ao passar por vergonha pública começou a se vingar de todos. Os gritos do título brasileiros referem-se ao fato de as vítimas terem que conter o ímpeto de berrar, senão perdem a língua.

Talvez não tenha visto Dead Silence em seu longínquo ano de lançamento, por ter associado os nomes dos criadores de Saw e esperar sucessão de mortes por tortura. Se foi isso, estava mais equivocado do que de costume, porque o maior defeito de Gritos Mortais é quase não ter mortes. Há (certo) suspense, climas, reviravolta final, mas faltam óbitos e fã de horror geralmente adora. Daí, sei lá, fica uma coisa meio thriller psicológico sobrenatural, se é que isso faz sentido. Mesmo se não fizer, tá valendo, porque Gritos Mortais também não faz nenhum, embora sirva como diversão sem consequência prum dia de tédio e fissura por horror.

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

CONTANDO A VIDA 201

… A COLHEITA É COMUM, MAS O CAPINAR É SOZINHO...  

José Carlos Sebe Bom Meihy


Juro!... Quem tem a escrita como ofício rotineiro sabe que os melhores textos são os que produzimos beirando os derradeiros. Haja, então, solenidade, comprometimento e desejo de súmula. Sinceramente, do mais fundo do meu coração, esperei um desses momentos e, distraído, não o percebi quando se aproximou. Entendo agora mais profundamente as maravilhas da escuridão de um mar azul na superfície contrastante. Bastou um mergulho vertical para a constatação de que a penumbra profunda é a ausência de cores, e, assim, lugar bendito para meditações existenciais. Há belezas insondáveis nas trevas, creiam. Por isso, por favor, não pensem que me remeto a fatalismos mórbidos e que presidem enevoados véus cobrindo estas minhas palavras empenhadas. Pelo contrário. Muito pelo contrário, aliás. Deixe-me contar o que se passou...
Herança maior de meus pais, o trabalho sempre me foi como o ar. Respiro para vivê-lo no ritmo dado pelo balanço de compromissos sempre multiplicados e urgentes. Amo o que faço. Sou movido pela paixão que trança docência, pesquisa, escrita e transcendência geracional. E nunca medi esforços para viver cada gota orvalhada pela profissão de professor. A corrida dos dias, a vida empurrada pelos deveres, contudo, dita peças, provoca vertigens e chega a assustar. Com certa grandiosidade, experimento a chegada dos meus 75 anos de vida. E, permitam-me o desvario: mais que nunca, sinto-me inteiro. Contemplo, por certo, “compaixonado”, meus muitos erros, desacertos e equívocos. Não queria, no entanto, ter experimentado outra vivência que não a que esculpi. E foi nesse caminhar que, entre meus feitos recentes, na paisagem dos meus dias de maturidade, optei por uma viagem à terra de meus antepassados. Historiador, não poderia deixar de retraçar andanças explicadoras do que sou.
Estar no Líbano, me foi uma excursão no melhor de minha imaginação peregrina. Emoções à parte, foi lá que meu coração – coração de verdade, órgão físico – começou a reclamar da existência atribulada. Um dia, sozinho em hotel, senti-me muito mal. Imaginei mesmo, o abraço da morte, e não me faltou poesia frente à ironia do destino: morrer onde meus pais nasceram!... A dor passageira, forte e amedrontadora, felizmente, aliviou-se rápida, mas deixou memória. Voltou, mas conseguia domesticá-la sem maiores atenções, e distraído pelos atrativos daquele cenário me foi mecânico atribuir tudo ao cansaço, calor, comida farta e exagerada. A volta – como qualquer retorno ao mundo real – reativou dores, e, assim, a sempre adiada ida aos médicos se me impôs. Diagnóstico imediato: angina crônica com severos riscos. Pareceu-me algo dramático saber que mais de 75% de minhas artérias estavam comprometidas. Rápido, o médico alertou meus filhos, e em dois dias estava pronto para um procedimento primeiro que leva nome tão esdrúxulo como os acontecimentos: cineangiocoronariografia. Houve segunda interferência. Tudo correu bem.
Devo dizer que a eficiência dos filhos aliada à prevenção médica se fizeram eficazes. Por lógico, busquei colaborar e o fiz de maneira a surpreender a pequena plateia de convivas íntimos. Sabe, bateu-me uma paz insondável. Se em algum momento fui tranquilo, estava marcado aquele tempo “sem medo ou pânico”. Cuidei, antes, de deixar por escrito algumas recomendações e me aprumei para os tais procedimentos cirúrgicos. E me arrumei para a ida ao hospital: roupa gostosa, uma medalhinha de São Charbel, um terço ganhado de amigo especial e... e um livro catado um pouco ao acaso (se é que acaso existe). Sabe que volume peguei? Grande Sertão, veredas. Sim me pareceu azado reler Guimarães Rosa nas eventuais esperas. Ah! Levei lápis também. A leitura demorou a ser feita, pois as leis da pressa exigiram desdobramentos feitos em soros, medicamentos em horas exatas, incômodos pluralizados em cadências próximas. Mas veio o tempo da almejada leitura e, já bem melhor, exercitando a paciência dos que recuperam a noção dos fatos em unidade de terapia intensiva, ao léu abri o livro na seguinte passagem:
Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vaivem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar – é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim dá certo. Mas, se não tem Deus, então, a gente não tem licença de coisa nenhuma! Porque existe dor. E a vida do homem está presa encantoada – erra rumo, dá em aleijões como esses, dos meninos sem pernas e braços. Dor não dói até em criancinhas e bichos, e nos doidos – não dói sem precisar de se ter razão nem conhecimento? E as pessoas não nascem sempre? Ah, medo tenho não é de ver morte, mas de ver nascimento. Medo mistério. O senhor não vê? O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver – a gente sabendo que ele não existe, aí é que ele toma conta de tudo. O inferno é um sem-fim que nem não se pode ver. Mas a gente quer Céu é porque quer um fim: mas um fim com depois dele a gente tudo vendo. Se eu estou falando às flautas, o senhor me corte. Meu modo é este. Nasci para não ter homem igual em meus gostos...
Voltei à primeira página e entre um ato médico e outro atravessei a leitura, como se a primeira vez fosse. E de certa forma o era. Já em casa, comedido e empenhado na mudança de hábitos, me vejo novamente frente ao dilema de Riobaldo, e entendo a vastidão de suas palavras explicando a vida: o senhor vê. Contei tudo. Agora estou aqui, quase barranqueiro. Para a velhice vou com ordem e trabalho. Sei de mim? Cumpro...

À propósito, cabe lembrar que escrevo para leitores, ter quem me leia é o que dá sentido à plantação de palavras colhidas, mas o capinar é meu, pessoal e intransferível. Vivemos juntos, mas ao perceber a morte temos que ser únicos, sozinhos. Que bom que ainda nos resta colher, juntos, portanto...

terça-feira, 29 de agosto de 2017

TELINHA QUENTE 274


Roberto Rillo Bíscaro

Esporte algum jamais conseguiu despertar o mais remoto interesse em mim, por isso evito até mesmo filmes e séries nesse universo; se bem que é prático ir ao banheiro ou pegar algo pra comer sem precisar pausar durante as cenas de jogos, quando é impossível deixar de ver produção do subgênero esportivo, porque algum querido(a) trabalha.
Os 13 episódios de Twenty Twelve (2011-12) encaixavam-se na categoria “não posso deixar de ver, porque tem amados no elenco”, mas como é sobre esporte demorei. Olha o sonho: a produção da BBC tem Lord Grantham contracenando com a DS Miller numa sitcom narrada pelo DI Hardy! Se você não entendeu nada e não saca muito de TV e cultura britânica, Twenty Twelve não é indicado.
Aos que não se interessam por esporte, alívio: a série é sobre os preparativos para os Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, então há muita menção a esportes, mas sem jogos e aquela chatice toda.
Aos que amam sitcom, cuidado: Twenty Twelve é em forma de mockumentary, ou seja, parodia um documentário (mock significa simular, zombar, imitar), por isso o narrador. Mas, ao contrário das sitcoms ianques, não tem claque gargalhando a cada piada, até porque a mordacidade de Twenty Twelve é tão fina, que arranca poucas risadas, mais sorrisos irônicos.
Os episódios de pouco mais de vinte minutos acompanham o trabalho da ficcional Olympic Deliverance Comission, liderada por Ian Fletcher, que sempre chega ao edifício numa minúscula bicicleta dobrável e invariavelmente machuca o dedo ao fechá-la, enquanto fala ao celular. Fletcher parece ser um gestor competente e é do tipo que “enxerga o lado cheio do copo”, mas tem que lidar com um desastre após outro, a maioria nascidos porque os membros de cada subcomissão não têm a menor ideia do que fazem. O humor irônico e discreto de Twenty Twelve escorre da fleuma autodepreciativa britânica.
Volta e meia vemos noticiários brasileiros comparando a extrema eficiência, sustentabilidade e legado dos equipamentos montados para os jogos britânicos e a descartabilidade, sucateamento e precariedade dos nossos. Por não seguir o mundo-atleta não sei quanto de verdade e quanto de complexo de vira-lata intencional há nisso, mas Twenty Twelve trabalha justamente com uma hipotética incapacidade britânica de fazer algo funcional.
Como se estivesse filmando reuniões, depoimentos dos envolvidos, conversas no fumódromo improvisado, Twenty Twelve debocha de fetiches conceituais pós-modernos como sustentabilidade, legado, inclusão, diversidade, correção política, gestão, identidade e toda tralha palavrória que surge a cada dia como infestação de piolho e não passa de blábláblá. O otimismo gestor de Fletcher é sempre minado pelos fracassos; a hipocrisia da sustentabilidade é debochada por meio da rivalidade com a comissão do legado. Aliás, ninguém sabe qual a diferença entres as duas.
Tudo é dito em tom sério, porque é um “documentário”. Isso deixa Twenty Twelve ainda mais mordaz, porque as personagens realmente emulam tantas autoridades em diversas áreas que vem à mídia e falam um monte de platitudes estúpidas, despidas de conteúdo. Por isso, quem rouba a cena é Siobhan Sharpe, responsável pelo registro dos produtos relacionados aos Jogos. Sem a menor noção de nada, Sharpe fala um monte de nonsense em voz pseudo-gutural e abunda em expressões como “shut up”, “totally”, “holly shit” para expressar aprovação, surpresa, concordância, em assuntos em que não sacou nada.

Siobhan e Ian agradaram tanto, que há um spin off, também em forma de mockumentary, apenas sobre os dois, parece que tentando conseguir um emprego na BBC ou lá trabalhando, ainda não pesquisei direito, mas assim que puder, verei. 

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

CAIXA DE MÚSICA 280


Roberto Rillo Bíscaro

Foster significa fomentar, induzir, encorajar, estimular; portanto, a noção por trás do nome do quarteto Foster The People é muito bonita: desabrochar o melhor nas pessoas. A ideia inicial, todavia, foi chamar o combo de Foster & The People, porque quem o fundou foi Mark Foster, em 2009, depois de alguns anos servindo mesas, se drogando e fazendo jingles em Los Angeles. Erro de interpretação/digitação de algum produtor de show e os norte-americanos passaram dum nome egocêntrico, prum mais inclusivo.
O Foster The People é da geração que explodiu devido a um vídeo divulgado na internet, em 2010, que atraiu a atenção de enormes conglomerados musicais. Imaginem quantos aspirantes ao superestrelato têm subido vídeos ao Youtube e símiles, então, não gasto meu tempo seguindo tais novidades. Mas, passando os olhos pelo email semanal de lançamentos do All Music Guide, o terceiro álbum dos rapazes, Sacred Hearts Club, captou meu interesse. Bem legal a indietronica neopsicodélica de boa parte da dúzia de faixas do LP, lançado dia 21 de julho.
A grande sacada de Sacred Hearts Club é seu poder de juntar tribos que a princípio pertencem a umas 6 décadas. Claro que isso resulta em certa perda de foco e não se pode agradar tantas gerações ao mesmo tempo o tempo todo, mas o LP tem apelo pra fãs de Maroon 5 a Daryl Hall, como em Doing It For The Money; pras viagens retro-eletro-oitentistas do M83, como na encerradora III ou pra tchaptchurice ingênua setentista de I Love My Friends.
Static Space Lover dá vontade de sair dançando por entre plantações de tulipa e satisfará fãs do Tears for Fears, fase Seeds Of Love. Isto posto, deve-se intuir que os anos 1960 carregam importante peso nesse mix. Os Beach Boys imperam como inspiração pra ricas e mimosas harmonias. Em Lotus Eater essa influência vem mais safada, porque misturada com a inspiração guitarreira assanhada dos libidinosos The Hives. E a mente do resenhista 50tão já fantasia Kylie Minogue cavalgando touros mecânicos em censuradas propagandas de lingerie... E quer coisa mais pós-moderna junta tribo do que usar o casal-referência punk numa EDM, como em Loyal Like Syd And Nancy? O problema é que duvido que se juntem; só curtirá mesmo quem estiver mais afeito à electronica.
A dúzia de faixas de Sacred Hearts Club não escapa dum par de fillers, mas além das delícias citadas ainda traz 2 canções memoráveis. A abertura Pay The Man usa ameaçadora base hip hop pra parir pop viciante, onde coisas acontecem o tempo todo no arranjo e o resenhista 50tão fantasia ouvir o espectro da groselha vitaminada Milani. SHC abre com ruidinhos eletrônicos, mas logo se transforma num aspirador de neurônios com sua melodia circular de guitarra digna do auge de Johnny Marr.  
Os bons momentos pop são inspirados e com uma limpezinha dum par de canções e vinhetas, o terceiro longa do Foster The People é uma delícia. 

domingo, 27 de agosto de 2017

A SUPERAÇÃO DE KESHA

Por trás da holofotagem que cerca artistas pop, podem se desenrolar histórias bem tristes. Kesha, aparentemente tão assertiva, passou maus bocados por seus distúrbios alimentares e críticas nas redes sociais. Além de enfrentar abuso sexual e psicológico de seu empresário! Vejamos sua luta e superação:

sábado, 26 de agosto de 2017

QUANDO O SOL MACHUCA

fotografias albinos  (7)
Há três anos, o fotógrafo Glauber Oliveira colocou em prática um mapeamento de localização de albinos no interior do Ceará e através disso pôde ouvir histórias e idealizar o projeto Síndrome do Pôr do Sol

O sol quebrava na vista e ardia na cabeça quando Glauber, ainda menino, no sítio da vó dele, avistou o canto da boca de Cícero sangrando em mais um dia de trabalho na roça. Como muitas pessoas desconheciam o albinismo, chamavam o senhor de aproximadamente 60 anos de “galego” ou “Gazo”, e logo, não imaginavam o perigo que ele enfrentava por estar exposto a tamanha luminosidade solar, principalmente na pele e nos olhos.


Os sangramentos se tornaram uma ferida e com poucos meses o trabalhador faleceu de câncer de pele, sem apoio, sem tratamento e sem uma segunda chance. Quase 20 anos depois, agora fotógrafo, Glauber Oliveira, 30, andando na feira central de Brejo Santo, cidade em que mora, se deparou com uma menina com um vestido rosa, pele brilhante e seus cabelos dourados. “Na hora fechei meus olhos e me emocionei bastante recordando a imagem de Seu Cicero, ao abrir a perdi de vista”, conta ele.

Por hora, ele sentiu o mesmo impacto de quando era menino e foi em busca de informação sobre a garota. Divulgou em redes sociais, foi até a Secretaria de Saúde do município e até que encontrou a professora que ensinava na escola em que a menina estudava. A partir desse encontro, após ter a oportunidade de conhecer a educadora Glauber começa o projeto Síndrome do Pôr do Sol.
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OS FILHOS DA LUA

Pelo fato dos albinos sofrerem implicações devido à falta de assistência contra a luz solar, muitos optam por executarem atividades pela noite, daí o nome filhos da lua. A principal meta do projeto era tentar articular formas para conseguir ajuda na arrecadação de fundos para compra de protetores solar e apoio médico especializado. Como também, profissional Assistente Social e especialista em Políticas Públicas, Glauber percebeu que não havia nenhum trabalho efetivo que atuasse frente ao assunto e desenvolvesse ações específicas. “Fixei como objetivo realizar o trabalho fotográfico, em uma percepção social de ajudar os albinos que vivem no sertão e perceber quais os maiores desafios enfrentados pelos mesmos”, explica.

Tudo começou há pouco mais de 3 anos, mas oficialmente 1 ano e meio, ele colocou de fato em práticas os processos de mapeamento das pessoas albinas no interior do Ceará. Localizados entre idade, origem e falando um pouco da história de cada um e trajetória de vida, o fotógrafo aos poucos foi documentando vivências antes não percebidas ou deixadas de lado. O projeto se iniciou em Brejo Santo, mas após a divulgação do que era produzido, Glauber foi localizando outros albinos em Mauriti, Nova Olinda, Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha e outras pequenas cidades do interior cearense. De acordo com ele, cerca de 90% dos mapeados moram em zonas rurais, onde o acesso à saúde especializada é mais difícil.

Atualmente, o Síndrome do Pôr do Sol tem 42 pessoas albinas na lista e as idades variam entre 3 meses e 72 anos. As situações são variadas, há alguns que nunca tiveram nenhum problema de pele a outros que já tiveram membros amputados e quase chegaram a morte com batalhas vencidas de sete cânceres de pele. “Sendo que alguns ainda estou lutando para ter uma abertura, chegar a conversar, disponibilizar ajuda. Infelizmente alguns não permitem sua exposição e nem um contato para conversa. Como é algo muito novo para eles, meio que estranham receber ajuda”, diz o fotógrafo.

making of (1)


“O sol é meu amigo, mas ele me machuca”, contou Milena, 5, albina. Foi através dessa frase, que Glauber conta como surgiu o nome do projeto. “Sou péssimo para títulos e essa foi a frase mais verdadeira que escutei na vida, a partir daquele momento pensei como seria o título ideal para seguir com o Projeto. Eu senti como se eles tivessem uma ansiedade para o passar do dia e com a chegada do pôr do sol fosse um alivio para sua pele e seus olhos”.

Para os planos futuros, o fotógrafo que participar de editais de apoio e projetos sociais, além de lançar um livro fotógrafo com contos inspirados em depoimentos dos albinos e realizar exposições de fotografias para divulgar ao máximo o trabalho realizado e lutar pela efetivação e garantia de políticas públicas e benefícios para essas pessoas. A ajuda se baseia em doações de protetores solar de fator acima de 50, atendimento de médicos especializados em dermatologia e oftalmologia disponíveis em realizar atendimento gratuitamente.

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“O albinismo infelizmente ainda é uma problemática que não é assistida totalmente pelo governo, os benefícios não são suficientes, não distribuem protetor solar por alegarem que são cosméticos e não medicamentos, o que nos revolta porque para os albinos são considerados medicamentos preventivos”, desabafa Glauber. Para ele, não existe no Brasil uma política pública efetiva que proporcione um bem-estar a essas pessoas que além de sofrerem com os problemas de pele, vem o preconceito, rejeição e discriminação. “Lutar pela efetivação dessas políticas é o meu maior desafio hoje como ativista da causa”, finaliza ele com ar esperançoso e força de vontade.

ALBINO GOURMET 238

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

TELONA QUENTE 199


Roberto Rillo Bíscaro

A Tempestade de Areia que intitula a estreia da roteirista e diretora israelense Elite Zexer não acontece em nível climático, mas é metáfora pra comoção interior das personagens do filme do ano passado, disponível na Netflix. Consta que Zexer aprofundou-se na cultura beduína pra realizar a película, mas o fato de se tratar de uma judia a falar sobre cultura arabizada não pode ficar de fora em uma discussão mais erudita e consequente.
Layla é uma adolescente que aparentemente tem a sorte de ter um pai superliberal, que a ensina a dirigir e ri das piadinhas e comentários revoltosos da filhota, que fala ao celular, como qualquer moçoila ocidental. Sua mãe tem opinião bem diferente do homem, que a está trocando por outra bem mais jovem e para a qual Jalila tem que preparar as bodas. Layla está apaixonada por um colega de escola proveniente de outra tribo, impensável na cultura beduína endógena dos casamentos arranjados. Jalila se opõe à ligação; Layla crê que o papai descolado aceitará de boa. Será?
Tempestade de Areia coloca duas situações amorosas em contraponto pro espectador perceber como o patriarcado é hipócrita e nocivo às mulheres. Também é sobre (falsas) aparências e quem são, ou deveriam ser, aliados em situação de opressão. Layla faz certo em ser tão parcial ao pai, contraponto “legal” da amarga mãe? Se fosse apenas por Jalila, já valeria ver o filme. A atriz Ruba Blal estraçalha em sua contida interpretação da mulher que tem que aguentar (mais ou menos) calada todo o fardo duma tradição vantajosa apenas pros homens. Layla também interessa, especialmente pro espectador saber se terá condições de furar o bloqueio dos costumes. Nesse mundo onde as mulheres são obrigadas à resignação, e por isso desenvolvem válvulas de escape, as personagens femininas são mais fascinantes.
Ao que tudo indica, a pressão social é enorme no sentido de preservar a hegemonia masculina e subserviência feminina. Aí reside um defeito de Tempestade de Areia: isso é intuído, mas jamais mostrado, porque a aldeia parece fantasma; as personagens vagam isoladas em um planeta desértico quase que só delas, então temer o quê de represália social? Interação com algum líder religioso pra sabermos o peso que isso tem, por exemplo, não ofuscaria o brilho da cinematografia, que certamente optou por menos gente pra somar ao ar de solidão remota e desértica da película.
Pena que a Netflix tirou O Atentado de seu catálogo, mas ainda há Fauda e Hostages (ainda não vi), ou seja, produtos israelenses, pra sairmos um pouco do circuito América do Norte-Europa. Mas seria muito salutar se o cardápio também oferecesse filmes árabes, do Irã, enfim, pra que acessássemos também como eles veem o mundo e não como israelenses o enxergam por eles. 

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

TAMBÉM NÃO É ALBINO


Um zoológico de Queensland, na Austrália, divulgou imagens de uma rara bebê coala branca. O Australia Zoo está à procura de um nome para a filhote. 
Segundo o zoo, a coala branca não é albina, mas tem o pelo mais claro que o normal por questões genéticas.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

TELINHA QUENTE 273


Roberto Rillo Bíscaro

A emancipação feminina, de modo geral, processou-se de forma mais rápida e radical na parte setentrional e protestante do continente europeu. Países latinos e católicos, como a Espanha, chegaram mais tardiamente à rinha da guerra dos sexos. A brutal e torpe ditadura franquista – que se estendeu de 1939 a 1975 – complicou ainda mais o desequilíbrio entre os gêneros no país ibérico.
Como a História não é rio comportado, que se movimente exclusivamente pruma direção previsível, não significa que jamais na experiência espanhola mulheres tenham tido protagonismo, antes do fim da catástrofe franquista. Os 8 episódios da temporada inicial de Telefonistas – série original da Netflix, estreada em abril – foram marqueteados como feministas, soróricos, gênero-afirmativos, porque se passam no crepúsculo dos anos 1920, quando a ainda superpatriarcal Madri se vê invadida por mulheres de todas partes do reino, em busca de colocação nas centenas de postos abertos pela inauguração da gigantesca companhia telefônica espanhola, a maior do continente (segundo o roteiro).
É certo que a mulherada se joga no protagonismo, mas Las Chicas del Cable está muito mais pra novelão latino do que produção feminista. Não que isso seja defeito – pelo menos não pro que se propõe este blog – mas sempre é bom tentar situar melhor as coisas. Será mesmo feminista uma série, onde, como em qualquer bom folhetim, as meninas no fundo querem um maridão pra chamar de seu? Tudo bem que Carlota explore sua bissexualidade, mas de resto Telefonistas é dramalhão misturado com algum alívio cômico fornecido por Marga e Pablo.
Tudo que amamos num bom folhetim está lá: amantes desencontrados em estação de trem, identidade secreta, chantagem, cafetina ajudando moça ameaçada por inspetor malvado, mal-entendidos, violência doméstica. A dramaturgia de Telefonistas é veloz, os problemas aparecem e são resolvidos sem aprofundamento, mas tudo permanece exatamente igual. Uma vez que cada menina nos seja apresentada e aprendamos seu papel, a personagem não muda. Por isso deixo a discussão feminista da propaganda pra estudiosos do tema; como entretenimento Telefonistas é viciante é maratonável.
Sem poder deixar de notar que o retrocesso franquista asfixiará a Espanha, o roteiro insere laivos políticos como cor local na esmerada produção, que, ciente que seu público será maior entre jovens mulheres, usa vestuário e adereços “de época”, mas na hora da trilha-sonora opta por um monte de canções modernas, em inglês. Isso também deveria despertar discussão: público diz amar produções de época “realistas” de reality show, mas não guenta a experiência “completa” e amarela na hora da trilha-sonora? Como a Netflix é “só” uma empresa de entretenimento que visa ao lucro, entendi a escolha pra agradar a audiências mais vastas, mas é bem esquisito ver pessoas vestidas e penteadas como há 80 anos ao som de trip hop.

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

CAIXA DE MÚSICA 279


Roberto Rillo Bíscaro

LeToya Nicole Luckett foge um pouco do padrão da maioria das divas negras resenhadas nesta seção, porque priorizo as iniciantes ou mais distantes da parada da Billboard. LeToya foi do Destiny’s Child, ou seja, conheceu bem o que é jogar na primeira divisão, embora não fosse da parte nobre do megamilionário grupo, por não ser da família de Bioncê. A maioria desses combos musicais não é uma democracia participativa igualitária. Tanto é que depois de despedida, Luckett processou a facção Knowles mais de uma vez.   
Em 2006 lançou álbum-solo, que atingiu o topo do Top 200. Em 2009, novo álbum, que encabeçou a parada R’n’B, significando que vendeu menos. A partir daí, priorizou a carreira de atriz, em filmes e séries. Dia 12 de maio, LeToya lançou seu terceiro LP, Back 2 Life, que a qualifica pro padrão prevalente de divas negras protegidinhas deste blog: o trabalho é bom, mas falhou comercialmente, não passando da posição 91 na Hot Hundred. Como aqui defecamos e andamos pra aprovação popular, resta pena pra quem não deu oportunidade prum álbum que poderia ter menos do que 13 faixas, mas que merece oportunidade.
Escolada no mainstream, Luckett sabe como usar os ruídos da moda trap pra produzir baladas R’n’B de sabor contemporâneo, mas acessíveis, como em Used To e Weekend. Nem todas são marcantes, e é dessa categoria que se poderiam ter deduzido alguma faixa pra encurtar Back 2 Life. Em época de reality show que finge mostrar a vida como ela é, a faixa-título (quem diabos entende que B2L significaria Back To Life?) discutivelmente começa com uma baixaria de casal, antes de virar balada doída, que cita o sucesso do Soul II Soul, daí o título.
I’m Ready abre o disco mostrando como esse povo que jogou nas ligas altas sabe (ou pensa que) fisgar: a bateria marc(h)ada, acoplada a um vocalize instantaneamente repetível, viciam. Show Me tem clima disco funk, que quando chega o refrão você já tá dançando de passinho na flash mob. Middle tem aquela austeridade de ameaça de mentira conferida pela influência hip hop. As cordas sintetizadas da abertura de My Love enganam: parece que será balada retrô tipo Natalie Cole anos 50, mas logo vira midtempo brejeira.
O cume de Back To Life é a baladaça R’n’B meio antiquada Worlds Apart, que tem violinos, muito grito, letra dolorida. Pra ouvir sofrendo muito, torcendo mãos, fazendo drama, encharcando lenços. Vale o álbum. Juntamente com a lenta pianosa Disconnected, fecho do LP, talvez seja uma das poucas faixas que não soarão datadas daqui a alguns anos. Esse é um dos perigos de se usar a última moda pra fazer arranjos comerciais. 

domingo, 20 de agosto de 2017

ABANDONO DE ALBINOS

Famílias expulsam albinos em Moçambique por "trazerem azar e despesas

A Associação de Apoio a Albinos de Moçambique (ALBIMOZ) informou hoje que acolheu três pessoas portadoras de albinismo em Maputo expulsas pelas suas famílias, no primeiro trimestre, acusadas de "trazerem azar".


Falando durante a cerimónia de distribuição de protetores solares a mais de 20 crianças albinas na província de Maputo, o presidente da ALBIMOZ, Wiliam Savanguane, apontou aqueles casos de expulsão como exemplo da prevalência de situações de discriminação de pessoas portadoras de albinismo em Moçambique.

"Alguns alegam que viver com albinos atrai azar, outros ainda dizem que ter um albino em casa traz muitas despesas financeiras "afirmou William Savangane, aludindo aos custos de medicamentos relacionados com doenças de pele que afetam aquela camada populacional.

Para acolher as três pessoas albinas expulsas das suas residências, a ALBIMOZ teve de arrendar casas para as vítimas por forma a viverem em locais separados e evitar que se tornassem alvos de raptos.

"Nós tivemos que alugar casas para eles viverem, visto que não se pode aglomerar albinos numa casa, tendo em conta que atravessamos um momento crítico de rapto e assassinato de albinos, pelo que optamos em dispersá-los", acrescentou.

Entre 2015 e 2016, várias pessoas portadoras de albinismo foram raptadas e mortas, principalmente no norte de Moçambique, em casos relacionadas com crenças supersticiosas.

Segundo relatos das autoridades, com base em testemunhos de pessoas detidas em conexão com esses crimes, partes de corpos de albinos mortos são usadas por curandeiros em rituais feitos em "clientes" que pretendem ficar ricos.

A Associação de Apoio a Albinos de Moçambique foi fundada em 2014, contando atualmente com 2.000 membros, e a sua principal atuação assenta em campanhas de combate à discriminação contra albinos e na melhoria das condições de vida do grupo, nomeadamente ações de luta contra o cancro da pele.

SUPERAÇÃO CHAPECOENSE

O acidente aéreo que vitimou o time da Chapecoense comoveu o planeta. Um dos sobreviventes, o jogador Alan Ruschel, conseguiu superar fisicamente a provação e já voltou aos campos. Vejamos um pouco dessa história. 

sábado, 19 de agosto de 2017

CUIDANDO DA SAÚDE ALBINA

Que maravilha, mais um artigo acadêmico sobre especificidades do albinismo acaba de ser publicado na Physis: Revista de Saúde Coletiva. Intitulado O cuidado à saúde de pessoas com albinismo: uma dimensão da produção da vida na diferença, o texto pode ser baixado em PDF no site da Scielo, no link:

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-73312017000200319&script=sci_abstract&tlng=pt

Eis o resumo do artigo:

O cuidado à saúde das pessoas com albinismo perpassa a invisibilidade social do grupo populacional, o acesso à informação e aos serviços de saúde, a integralidade do cuidado e a multiplicidade na produção da vida. O objetivo do estudo é discutir o cuidado à saúde de pessoas com albinismo e familiares. Estudo descritivo com abordagem qualitativa, desenvolvido no Instituto Benjamin Constant (IBC). A coleta dos dados ocorreu entre abril e maio de 2012, utilizando a entrevista individual semiestruturada com dez participantes, pessoas com albinismo / familiares, sendo: dois alunos do IBC, seis mães, uma avó e uma ex-aluna usuária do serviço de oftalmologia. Destacamos na intersetorialidade, a relação da saúde com a educação e a seguridade social. Há carência de formulação e efetivação das políticas sociais, dispositivos normativos, como possibilidade de superação da invisibilidade social e da garantia do direito à saúde. A vida das pessoas com albinismo extravasa a deficiência e a diferença, e demanda a efetivação de dispositivos normativos, processos singulares e subjetivos para a produção do cuidado no cotidiano das práticas em saúde. Mais que saberes dados, exige escuta, relações horizontais e coprodutivas para o cuidado em saúde.

ALBINO GOURMET 237

Gerenciado pela Yamily - que superou o efeito sanfona alimentando-se corretamente - o canal Emagrecer Certo objetiva promover a reeducação alimentar e o bem-estar.
Selecionei algumas receitas de lá pra você ter uma noção do que encontrará:

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

VER SEM VER

A mulher cega que pode 'sentir' o mundo ao seu redor


Este é um dos fenômenos mais curiosos da neurociência cognitiva.


Há algumas pessoas no mundo com "visão cega": são pessoas cegas, mas que têm uma espécie de "segunda visão", pois seu cérebro é capaz, inconscientemente, de perceber as coisas ao seu redor.

A escocesa Milina Cunning perdeu a visão por volta dos 20 anos. Pesquisadores investigam seu caso há algum tempo.

"Se atirassem uma bolinha de ping-pong na cabeça de Milina, provavelmente ela levantaria seu braço e a pegaria na mão antes de ter consciência do que estava acontecendo", disse Jody Culham, uma pesquisadora que estudou o cérebro de Cunning.

"Posso me mover na minha casa sem problemas e organizar as coisas, mas não consigo vê-las. Sei que estão aqui, meu cérebro me informa disso".

Mas como é a vida através dos olhos de Milina? Assim como ela mesma descreve:

"Quando cheguei ao hospital, era uma pessoa com visão normal. Me colocaram em coma induzido devido a problemas de saúde que eu tinha. E fiquei em coma durante 52 dias."

"Quando acordei, via tudo completamente preto. Não era capaz de ver nada. Me disseram que, enquanto eu estava em coma, sofri um derrame cerebral que me deixou cega."

"Durante os próximos meses, as coisas começaram a mudar. Depois de seis meses, parecia que eu via alguma cor, mas ninguém acreditava em mim."

"Então, entrei em contato com um neurologista chamado Gordon Dutton. Assim que me viu, ele supôs que eu tinha visão cega".

"Quando me encontrei com Dutton, ele insistiu em fazer alguns testes. Em um deles, ele colocava cadeiras no corredor do hospital e me pedia para caminhar entre elas. 'Simplesmente ande no seu ritmo normal', disse".
"Fiz isso e fiquei esbarrando nas cadeiras. Quando cheguei ao fim do corredor, ele me disse: 'Agora caminhe um pouco mais depressa entre as cadeiras'".

"Assim que caminhei mais depressa através delas, uma a uma, não me machuquei nenhuma vez. Foi incrível".

"Dutton me explicou o seguinte: 'não pense muito, apenas faça. Não dê muitas voltas na cabeça'. Era meu subconsciente me dizendo como realizar essa tarefa e evitando que eu batesse nas cadeiras".

"Consigo me movimentar pela minha casa sem problemas, mas não consigo ver as coisas. Sei que estão ali, meu cérebro me diz".

"O mesmo ocorre se a minha família deixa coisas atiradas pela sala. Digo a elas: 'vocês têm que arrumar um pouco as coisas, senão vou tropeçar por tudo."

"Se há alguma coisa, como uma bolsa ou sapatos, consigo vê-los, passar por cima ou guardá-los".

"É estranho que consiga ver coisas que eu não posso ver por ser cega".

"Sei que você está sentado aqui, perto de mim...Mas não consigo vê-lo".

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

NÃO É ALBINO

Raro Alce Branco é Avistado Na Suécia

Após três longos anos de busca, Hans Nilsson finalmente conseguiu gravar estas raras imagens na região de Varmland, na Suécia. De acordo com a BBC, existem apenas cerca de cem alces brancos neste país. Estes animais têm a pele branca devido a uma mutação genética.

Hans Nilsson, avistou este alce branco pela primeira vez perto de uma vala, a comer. No dia seguinte, foi à procura do alce com uma câmara de filmar e encontrou o raro animal, conseguindo captar o momento. Hans afirma que esteve com o alce pelo menos 20 minutos e a cinco metros de distância.
https://www.funco.biz/raro-alce-branco-e-avistado-na-suecia/

TELONA QUENTE 198


Roberto Rillo Bíscaro

Há não muito, insistia pela enésima vez na importância de prestigiarmos produções estreladas por veteranos, as quais este blog é pródigo em divulgar. Meu argumento ingênuo é que se houver público pra tramas inteligentes na terceira-idade, mais filmes e séries de boa qualidade com tais protagonistas serão realizados. Será que se boicotarmos produções que insistam nos estereótipos imbecis pra idosos, elevamos sua idade mental ou condenaríamos esses atores à falta de trabalho até mesmo em papeis idiotas?
Isso passou pela cabeça, enquanto via o tóxico Um Amor de Vizinha, título boboca pra And So It Goes (2014), do roteirista Mark Andrus, o mesmo de As Good As It Gets, aquele estrelado há vinte anos por um já idoso Jack Nicholson mal-humorado, acordando pra vida e pra tolerância. No caso de And So It Goes, a picaretagem roteirística é contar a mesma história, protagonizada por Michael Douglas.
Oren é intragável corretor de imóveis, que vive num modesto complexo de apartamentos, enquanto tenta vender sua mansão. Rude com seus vizinhos afro-americanos, o rabugento ancião é surpreendido, quando seu filho ex-narcoadicto vai pra cadeia e lhe deixa a neta pra cuidar. O amargo viúvo sequer sabia da existência da menina, que logo cai nas graças da vizinha solitária e insegura, aspirante à cantora de cabaré. Precisa dizer o que o contato com a menina opera na psique empedrada de Douglas?
Em princípio não há nada de mais com Um Amor de Vizinha. Pelo contrário: é indicado pra tardes tediosas comendo pipoca, passando pilha de roupas, pra esquecer os problemas. Mas, o oportunismo e grosseria do roteiro são quase imperdoáveis pra atores experientes como Douglas e a tal vizinha, Diane Keaton, a eterna Noiva Nervosa, do Noivo Neurótico Woody Allen. Não há nuanças, é tudo jogado na cara do espectador de qualquer jeito, com a certeza de que o produto está sendo assistido como algo em série que é. Com a certeza de que se está vendo aquilo sem se prestar atenção, com conversa paralela, testando o vapor do ferro de passar. A ainda tem Keaton dando uma de cantora; acho que isso é o pior.
Poder-se-ia suspeitar de roteiro caça-níqueis com atores de cachê barato, sedentos por qualquer holofote, sendo filmado por diretorzinho estreante, mas nem essa desculpa há. And So It Goes é dirigido por Rob Reiner, de This Is Spinal Tap e Louca Obsessão (1990), cuja carreira também está na depressão da descendente. E aí está o resumão da ópera: várias carreiras que já renderam milhões de dólares agora precisam recorrer a tais veículos.
De vez em quando, uma Diane West consegue um papel melhor num In Treatment ou um velhusco como Douglas se reinventa como pianista biba (ele está ótimo como Liberace, vocês viram?). Mas, a regra hollywoodiana pra terceira-idade parece que são joças como Um Amor de Vizinha.
Tem na Netflix. 

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

EDUCAÇÃO ALIMENTAR ALBINA EM MACEIÓ

Oficina oferece educação alimentar a pessoas com albinismo

A educação alimentar e nutricional foi o foco central das atividades desta segunda-feira (14) da reunião mensal do Grupo de Pessoas com Albinismo e Baixa Visão. Coordenado pela Gerência de Atenção à Pessoa com Deficiência (GAPD) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o encontro contou com a parceria da equipe de nutricionistas e estagiárias da Gerência de Promoção e Educação em Saúde (GPES), que procurou estimular os pacientes a adotarem hábitos e uma alimentação mais saudável.

“Os pacientes com albinismo têm uma grande dificuldade de absorção de algumas vitaminas. A Vitamina D é uma delas, pois eles não podem ficar expostos ao sol para ajudar nessa absorção pelo organismo. Daí, e também por outros fatores, a necessidade de ajudá-los a escolher melhor os alimentos”, afirma a assistente social e responsável técnica pelo grupo na GAPD, Luciana Ferreira.

Para facilitar o entendimento de todo o grupo – especialmente dos participantes com baixa visão –, a oficina sobre o tema foi montada de forma lúdica, com dinâmicas diversificadas. Sob a supervisão das nutricionistas Juliana Lyra, Kelly Barros e Adriana Paffer, o tema foi abordado com a participação das acadêmicas Bruna Lemos e Palloma Araújo, do curso de Nutrição da Ufal, procurando focar numa alimentação mais adequada à prevenção da ocorrência e auxiliar no enfrentamento de doenças como diabetes, hipertensão e obesidade.

“Tomamos como base as diretrizes da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) e o Guia Alimentar para a População Brasileira 2015, que chama a atenção para a necessidade de um cuidado maior com a alimentação, dando prioridade ao consumo de alimentos in natura e alertando para o risco da ingestão dos alimentos processados ou ultraprocessados, estes com grande teor de sal, açúcar, óleos e conservantes”, reforça a nutricionista da GPES, Kelly Barros.

Ao final da oficina, que utilizou até caixas decoradas com as cores de um semáforo, para indicar o grau de risco à saúde com os alimentos expostos, os participantes levaram todas as informações que receberam para relembrar em casa – inclusive os 10 passos para uma alimentação saudável – de forma divertida: em formato de cordel.

Albinismo

Uma a cada 17 mil pessoas no mundo apresenta alguma forma de albinismo, o que torna essa característica rara. O albinismo é a incapacidade de um indivíduo em produzir melanina, que é um filtro solar natural e que dá cor à pele, pelos, cabelos e olhos. O albino não consegue se defender da exposição ao sol e a consequência imediata é a queimadura solar, principalmente na infância, quando o controle é mais difícil. Sem a prevenção, os pacientes envelhecem precocemente e desenvolvem cânceres de pele agressivos e precoces.

O grupo

O grupo de pessoas com albinismo e baixa visão foi criado em 2009, com a finalidade de compartilhar orientações e informações sobre saúde e direitos dessa população. Desde o último mês de março, a SMS garantiu à população de albinos do município o acesso facilitado ao atendimento em dermatologia na rede pública, assim como o encaminhamento adequado em reabilitação visual, que passou a ser feito pelo CER da Pestalozzi e pela Apae Audiovisual.

Além disso, Maceió, que já tinha o fornecimento de protetores solares para esses usuários desde 2012, teve esse direito assegurado, por meio da aprovação da Lei Municipal nº 6.605/2017, na Câmara Municipal.

CONTANDO A VIDA 200

BYE, BYE BRASIL...

José Carlos Sebe Bom Meihy

Eu queria. Juro que queria muito escrever sobre coisas leves, flanar em torno de amenidades. Ah, como seria bom falar de superação da crise, contar histórias afetivas, relatar casos com finais felizes. Era tudo que gostaria, mas... Mas, não dá para calar diante de certas situações que são mais do que diagnósticas. Voltar ao Brasil depois de longa viagem, inexoravelmente, implica processo de readequação. É como se perder novamente em um labirinto que se pensava sinalizado com indicativas de saídas. Difícil, mas essa constatação derrota o acalanto de ilusões positivas, cabíveis em retornos. Ao contrário de tantos amigos queridos, sinceramente, não estou vendo a almejada “luz no fim do túnel”. Logo eu que me achava um esperançoso empedernido. E tenho minhas razões. Ao me encaminhar para o embarque em Beirute, assisti (outra vez) a uma cena que me fez descer ao inferno da cidadania: mais uma brasileira sendo deportada. O aparato policial era alarmante e até amedrontador, pois a embarcada era jovem, negra e estava algemada. Os protocolos para essas situações são espetáculos, pois a prisioneira é a última a chegar e a primeira a ser colocada dentro da aeronave. Como as leis internacionais proíbem viagem sem liberdade de movimentos, um funcionário da polícia acompanha a deportada, que se senta na última fila. Por lógico, o constrangimento foi contagioso e, na medida das suposições, todos queriam saber quem era, por que e quais os possíveis desdobramentos do caso. Para mim, logo, ficou claro que se tratava de caso de prostituição. Acertei.
No esforço de equilíbrio, tentei me distrair com outras preocupações, mas, sem sucesso algum. O que me ocorria era a nítida lembrança de outro caso, presenciado no aeroporto de Madri há alguns anos. Ao chegar então à Espanha, na passagem pelos guichês de controle de passaportes, vi uma moça sendo impedida e, sob gritos de protestos, ser levada para uma sala de averiguação. Soube depois que se tratava de mais uma “brasileira” suspeita. A soma de histórias sobre “brasileiras e brasileiros que deixam o país” tem me movido a registros que se multiplicam em entrevistas de história oral de vida. Aprendi ao longo de mais de dez anos de gravações que há dois fatores primordiais influenciando nas decisões. Um, primeiro, imediato e pessoal, diz respeito a interesses ligados a busca de melhor lugar social e de novas chances. E todos os limites da vivência brasileira se abraçam em justificativas: falta de oportunidades, preconceitos, desilusões sociais. O segundo fator é mais complexo, pois remete a uma negação cultural. Como se justificar deixando o tal “país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”? Sim, preside um conflito briguento entre o ter que sair e o mito encravado na memória coletiva nacional e que preza um histórico de país que recebe (não exporta) gente. Pois é, ainda pensamos que a generosidade divina nos deu solo fértil, sem cataclismos, com paisagens invejosas e um povo incruento e cordato. Tudo, é claro, temperado com um sambinha, boa cachaça, comida saborosa e futebol.
Todo turista atrevido se autoriza um pouco antropólogo. Não fujo à essa regra, mas adiciono ao meu olhar o cuidado em ouvir os outros, e, no caso a gravar a versão dos evadidos. É fácil se apaixonar por histórias de vidas de pessoas que, quase sempre, se colocam em situação de risco. Isso, porém não é tudo, pois na troca da aventura pura e simples, dilemas subjetivos se colocam. Como equilibrar a desilusão imediata frente à quebra do poderoso mito do Paraíso Tropical? Como trabalhar com a exclusão social, tendo em mira o dramático amor à pátria, às nossas coisas e gente?  
Filtradas centenas de histórias, a maioria colhida no “exílio”, mantida a percepção das deportações e ciente dos consequentes efeitos diplomáticos entre o país que expulsa e o que compulsoriamente recebe de volta seus “expatriados”, é possível entender a precariedade historiográfica que temos. Encarando os temas “brasileiros fora do Brasil” e “prostituição brasileira no exterior”, ainda que se salvem alguns poucos bons estudos, o que se nota é um vazio assustador. O vácuo acadêmico/temático afeito a tais fenômenos, lega o assunto a “caso de polícia” ou ao “direito internacional”. Sempre criminalizados, os evadidos ficam a margem dos critérios analíticos comuns. Sobras. Silêncio. Alienação geral. Por lógico há conveniências em tais posturas: o ingresso de divisas advindas desses brasileiros se apoia na conveniência governamental que não consegue abrir frentes de trabalhos para pessoas que, prioritariamente, se situam entre 20 e 40 anos. E quantos somos fora do corpo nacional? Quatro ou cinco milhões de pessoas? Como saber? 
O avesso deste processo todo é ainda mais perturbador. Fontes do Itamaraty contabilizam, no presente, cerca de 2 mil brasileiros detidos em prisões estrangeiras. A maioria está na Europa (1066) e responde por três crimes prevalentes: prostituição ilegal, tráfico de drogas e furtos. Em diferentes países da América Latina (774), estão ligados aos negócios com drogas e armas, além do tráfico de pessoas. Nos Estados Unidos, temos cerca de 700 pessoas prioritariamente presas por presença ilegal e tráfico de drogas. Em diferentes países da Ásia estão encarcerados quase 300 brasileiros e brasileiras envolvidos em prostituição e tráfico de drogas, isso inclusive em países islâmicos onde a pena de morte é rigorosamente praticada. Na América Central, Caribe, África, Oriente Médio e Oceania estão detidos mais ou menos outros 150 patrícios, presos por motivos combinados.   
A simples constatação da persistência desse problema convoca a uma indagação quase insuportável. Se os anos de 1980 foram chamados de “década perdida”, estaríamos agora reeditando o mesmo processo? Sei lá o que dizer, mas uma coisa é certa, faz eco o verso de Chico Buarque ao dizer em uma passagem “Estou me sentindo tão só/ Oh! tenha dó de mim/ Pintou uma chance legal/ um lance lá na capital/ Nem tem que ter ginasial/ Meu amor... Bye,bye Brasil/ A última ficha caiu”.

terça-feira, 15 de agosto de 2017

ADELINA & ADELAIDE


GENÉTICA: História de gémeas uma albina, outra não

Adelina e Adelaíde são gêmeas. Nasceram no dia 9 de Julho de 1995, filhas de pai e mãe negros. Até aqui nada de extraordinário. Davy Alexandriski, fotógrafo brasileiro, expõe-nos, com a sua lente, duas irmãs que sendo gêmeas, uma é albina e outra não.

E explica isto como resultado de uma simples mutação cromossómica, responsável pelo facto, indesmentível, diga-se, de o organismo da Adelina não metabolizar uma enzima – tirossinase – em melanina, como o da sua gêmea Adelaide. “Por isso, e apenas isso, suas peles têm pigmentação diferentes. Essa é a única diferença aparente entre elas”, destaca.

A história sensibilizou-nos não somente pelo seu lado insólito, mas pela precisão da fotografia e promoção de humanismo.

O fotógrafo fala-nos de duas meninas que no seu dia-a-dia transmitem valores positivos à sociedade, mostrando que são cidadã do mundo e irmãs concebidas no mesmo útero, não interessando, portanto, as aparências.

Elas cresceram com esta lição bem estudada. Atropelaram mitos pseudoculturais, impondo-se com a crença de serem cidadãs deste mundo. Adelina no terceiro ano da Faculdade de Direito, enquanto a Adelaide frequenta o terceiro ano da Faculdade de Engenharia Eletrotécnica .

Mas nem tudo foram flores na vida da Adelina (a albina). E a sua irmã , Adelaíde (com a chamada pigmentação normal) se transformou na protetora da vida toda.

TELINHA QUENTE 272


Roberto Rillo Bíscaro

Forbrydelsen abriu o caminho pra popularização do Nordic Noir na TV inglesa, mas foi A Ponte que eletrizou o subgênero. Desde 2007, Inglaterra, EUA, França, Espanha, Nova Zelândia têm produzido thrillers com forte gosto escandinavo. O Reino Unido é o que tem se inspirado mais e melhor nos suecos e dinamarqueses. Shetland, Broadchurch, Y Gwill são policiais imperdíveis pra quem curte histórias e ambientação deprês. Fortitude trouxe até Sofie Gråbøl pro elenco, além de se passar numa fictícia base polar norueguesa. O amor britânico por tudo Scandi não arrefeceu em 2016. A ITV contratou Hans Rosenfeldt – o criador de BronIBroen – pra conceber e escrever os 8 capítulos de Marcella, exibidos a partir de abril e ora disponíveis na Netflix.
Marcella Backland é uma ex-policial atordoada, porque seu marido acaba de abandoná-la. Justamente então, um colega a procura pra informar-se sobre assassinatos em série, que a detetive-sargento investigara. Suspeita-se que o maníaco está atuando novamente. Ainda obcecada pelo caso não-resolvido e desesperada pra preencher seu tempo e cabeça, Marcella pede seu emprego de volta e mergulha num mundo de prostituição online, falcatruas corporativas, traição extraconjugal e psicopatia. Há um agravante, porém: ela vem experimentando episódios de amnésia, então, às vezes ficamos na dúvida de se alguns dos malfeitos não foram cometidos por ela mesma. Isso a liga com a já clássica Saga Norén, de The Bridge, e seu possível Asperger jamais mencionado. Mas física e indumentariamente, Marcella é parente de Sarah Lund, de Forbrydelsen. A atriz Anna Friel está meio caracterizada como sua colega dinamarquesa, até mesmo num casaco que sempre veste, que aliás, me lembrou o usado por uma detetive francesa da chinfrim Virage Nord (2015), outra cria do Nordic Noir.
Como no caso dos problemáticos Norén e John River, a tarefa primeira é acreditar que a polícia inglesa aceite a DS Backland de volta, sem recapacitação ou avaliação físico-psicológica, só porque ela pede. Numa cena ela diz que quer retornar e na próxima já está com os novos colegas, uns 15 minutos primeiro capítulo adentro. Mas, sem suspensão da descrença praticamente não assistiríamos a nada. 
Em Marcella, Rosenfeldt usa a mesma técnica de apresentar subtramas aparentemente do nada, como em BronIBroen. Ficamos desorientados, mas logo entendemos ou supomos a conexão. No caso desta série, isso liga-se à própria desintegração da personalidade da detetive, então o embaralhamento é bastante interessante. Não se trata de nada muito complexo; o show é bem assistível. Só há que ter paciência, porque os procedimentos são meio lentos.
Fãs de The Bridge não deixarão de comparar as 2 séries, então é bom avisar que aquele padrão de excelência não é alcançado e algumas das subtramas não são resolvidas a contento. Marcella nunca atinge as alturas da produção sueco-dinamarquesa, mas também é importante lembrar que o mundo de Saga Norén é ponto fora da curva.