segunda-feira, 7 de agosto de 2017

CAIXA DE MÚSICA 277


Roberto Rillo Bíscaro

Após a explosão da internet, uma das diversões/paixões de amantes de qualquer estilo é buscar pérolas e raridades. O objetivo pode ser desde fazer bonito pra se mostrar ou mesmo descobrir obras-primas obscuras. Fãs de rock progressivo há décadas vem desencavando sótãos, porões, baús e sites especializados à cata de pepitas.  Difícil encontrar obras-primas, mas volta e meia topamos com álbum que nos lembra algum grupo amado não mais existente, então, tal emulação assume tons de novidade. É como se estivéssemos ouvindo LP “novo” de algum(ns) querido(s) há tempos extinto(s).
Foi o que aconteceu, quando tropecei em Caverns Of Your Brain, do obscuríssimo ianque Lift. Na verdade, era como se prenunciasse o que décadas depois fariam grupos como o Glass Hammer, isto é, mesclar sonoridades típicas de diversos grupos prog pra criar uma sua. O Lift não tinha maturidade ou perícia pra sintetizar suas explícitas influências em novidade, mas o resultado frankenstênico de seu único álbum é muito interessante pra quem se amarra em prog sinfônico melódico.   
Imagine uma banda no sul dos EUA, abrindo seus shows em 1973, com Watcher Of The Skies, do Genesis, quando os próprios britânicos não passavam de excêntricos alternativos, conhecidos por poucos em seu país. Pois o Lift, formado no ano anterior, em Nova Orleans, fazia isso e acrescentava covers de ELP, Yes, Moody Blues, Led Zeppelin e outros.
Quando as quatro canções de Caverns Of Your Brain foram gravadas, em 1974, os membros do Lift não tinham mais de 19 anos de idade. A formação era Chip Gremillion (teclados), Cody Kelleher (baixo), Chip Grevemberg (bateria e percussão), Richard Huxen (guitarras) e Courtenay Hilton-Green (vocais e flauta). Só que o material não foi lançado até, 1977, quando a banda amargava em Atlanta, já com formação bem distinta, inclusive, vocais femininos.
O Lift debandou em 1979 e os membros nem sabiam que em 1977 Caverns Of Your Brain fora lançado, porque o selo que o fez era pirata. Parece que há uma reedição com material dos anos de Atlanta, mas não me interessei em conhecer.
Em linhas bem gerais, pode-se descrever o Lift como cruza entre Yes e Genesis. Os 10 minutos de Simplicity têm climão de teclado no começo, meio Watcher..., mas o vocal é super-Jon Anderson. Entretanto, lá pelo sétimo minuto, uma descarga de Hammond foge das texturas utilizadas por Tony Banks e confere ao Lift um som mais original, mais perto do prog italiano. Uma das diversões de ouvir versões mais genéricas de prog rock da época e brincar de caçar influências. Trata-se de subgênero muito idiossincrático, então, fãs mais devotados reconhecem guitarras Fripp, Hackett ou Howie; teclado Wakeman ou Emerson; bateria Collins etc.
Embora mais indicado pra fãs de prog tecladista, Caverns pode agradar guitarreiros, devido ao solo à David Gilmour nessa faixa de 9 minutos, que abre meio experimentosa, meio space rock, assume tom litúrgico pra finalmente decidir-se por tom meio pastoral Floyd-genesiano.
Buttercup Boogie são 6 minutos de punhetação prog adolescente. Teclados e bateria em corredeira célere com intervenção de guitarra apimentada. Tipo, ELP encontra o baixo de Chris Squire e The Knife. Trippin’ Over The Rainbow são quase dúzia de minutos de casamento de Yes com Genesis (Banks em um dos movimentos de Supper’s Ready), intercalando as texturas matinais do primeiro com teclados mais dramáticos e até algo lúgubres de prog europeu continental.
Sabe-se lá se esses teens sulistas teriam desenvolvido linguagem prog só deles. Nem compensa brincar de futurologia no condicional; melhor curtir Caverns Of Yur Dreams. 

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