Roberto Rillo Bíscaro
Após a explosão da internet, uma das diversões/paixões de
amantes de qualquer estilo é buscar pérolas e raridades. O objetivo pode ser
desde fazer bonito pra se mostrar ou mesmo descobrir obras-primas obscuras. Fãs
de rock progressivo há décadas vem desencavando sótãos, porões, baús e sites
especializados à cata de pepitas.
Difícil encontrar obras-primas, mas volta e meia topamos com álbum que
nos lembra algum grupo amado não mais existente, então, tal emulação assume
tons de novidade. É como se estivéssemos ouvindo LP “novo” de algum(ns) querido(s)
há tempos extinto(s).
Foi o que aconteceu, quando tropecei em Caverns Of Your
Brain, do obscuríssimo ianque Lift. Na verdade, era como se prenunciasse o que
décadas depois fariam grupos como o Glass Hammer, isto é, mesclar sonoridades
típicas de diversos grupos prog pra criar uma sua. O Lift não tinha maturidade
ou perícia pra sintetizar suas explícitas influências em novidade, mas o
resultado frankenstênico de seu único álbum é muito interessante pra quem se
amarra em prog sinfônico melódico.
Imagine uma banda no sul dos EUA, abrindo seus shows em
1973, com Watcher Of The Skies, do Genesis, quando os próprios britânicos não
passavam de excêntricos alternativos, conhecidos por poucos em seu país. Pois o
Lift, formado no ano anterior, em Nova Orleans, fazia isso e acrescentava
covers de ELP, Yes, Moody Blues, Led Zeppelin e outros.
Quando as quatro canções de Caverns Of Your Brain foram
gravadas, em 1974, os membros do Lift não tinham mais de 19 anos de idade. A
formação era Chip Gremillion (teclados), Cody Kelleher (baixo), Chip Grevemberg
(bateria e percussão), Richard Huxen (guitarras) e Courtenay Hilton-Green (vocais
e flauta). Só que o material não foi lançado até, 1977, quando a banda amargava
em Atlanta, já com formação bem distinta, inclusive, vocais femininos.
O Lift debandou em 1979 e os membros nem sabiam que em
1977 Caverns Of Your Brain fora lançado, porque o selo que o fez era pirata.
Parece que há uma reedição com material dos anos de Atlanta, mas não me
interessei em conhecer.
Em linhas bem gerais, pode-se descrever o Lift como cruza
entre Yes e Genesis. Os 10 minutos de Simplicity têm climão de teclado no
começo, meio Watcher..., mas o vocal é super-Jon Anderson. Entretanto, lá pelo
sétimo minuto, uma descarga de Hammond foge das texturas utilizadas por Tony
Banks e confere ao Lift um som mais original, mais perto do prog italiano. Uma
das diversões de ouvir versões mais genéricas de prog rock da época e brincar
de caçar influências. Trata-se de subgênero muito idiossincrático, então, fãs
mais devotados reconhecem guitarras Fripp, Hackett ou Howie; teclado Wakeman ou
Emerson; bateria Collins etc.
Embora mais indicado pra fãs de prog tecladista, Caverns
pode agradar guitarreiros, devido ao solo à David Gilmour nessa faixa de 9
minutos, que abre meio experimentosa, meio space rock, assume tom litúrgico pra
finalmente decidir-se por tom meio pastoral Floyd-genesiano.
Buttercup Boogie são 6 minutos de punhetação prog
adolescente. Teclados e bateria em corredeira célere com intervenção de
guitarra apimentada. Tipo, ELP encontra o baixo de Chris Squire e The Knife.
Trippin’ Over The Rainbow são quase dúzia de minutos de casamento de Yes com
Genesis (Banks em um dos movimentos de Supper’s Ready), intercalando as
texturas matinais do primeiro com teclados mais dramáticos e até algo lúgubres
de prog europeu continental.
Sabe-se lá se esses teens sulistas teriam desenvolvido
linguagem prog só deles. Nem compensa brincar de futurologia no condicional;
melhor curtir Caverns Of Yur Dreams.
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