segunda-feira, 21 de agosto de 2017

CAIXA DE MÚSICA 279


Roberto Rillo Bíscaro

LeToya Nicole Luckett foge um pouco do padrão da maioria das divas negras resenhadas nesta seção, porque priorizo as iniciantes ou mais distantes da parada da Billboard. LeToya foi do Destiny’s Child, ou seja, conheceu bem o que é jogar na primeira divisão, embora não fosse da parte nobre do megamilionário grupo, por não ser da família de Bioncê. A maioria desses combos musicais não é uma democracia participativa igualitária. Tanto é que depois de despedida, Luckett processou a facção Knowles mais de uma vez.   
Em 2006 lançou álbum-solo, que atingiu o topo do Top 200. Em 2009, novo álbum, que encabeçou a parada R’n’B, significando que vendeu menos. A partir daí, priorizou a carreira de atriz, em filmes e séries. Dia 12 de maio, LeToya lançou seu terceiro LP, Back 2 Life, que a qualifica pro padrão prevalente de divas negras protegidinhas deste blog: o trabalho é bom, mas falhou comercialmente, não passando da posição 91 na Hot Hundred. Como aqui defecamos e andamos pra aprovação popular, resta pena pra quem não deu oportunidade prum álbum que poderia ter menos do que 13 faixas, mas que merece oportunidade.
Escolada no mainstream, Luckett sabe como usar os ruídos da moda trap pra produzir baladas R’n’B de sabor contemporâneo, mas acessíveis, como em Used To e Weekend. Nem todas são marcantes, e é dessa categoria que se poderiam ter deduzido alguma faixa pra encurtar Back 2 Life. Em época de reality show que finge mostrar a vida como ela é, a faixa-título (quem diabos entende que B2L significaria Back To Life?) discutivelmente começa com uma baixaria de casal, antes de virar balada doída, que cita o sucesso do Soul II Soul, daí o título.
I’m Ready abre o disco mostrando como esse povo que jogou nas ligas altas sabe (ou pensa que) fisgar: a bateria marc(h)ada, acoplada a um vocalize instantaneamente repetível, viciam. Show Me tem clima disco funk, que quando chega o refrão você já tá dançando de passinho na flash mob. Middle tem aquela austeridade de ameaça de mentira conferida pela influência hip hop. As cordas sintetizadas da abertura de My Love enganam: parece que será balada retrô tipo Natalie Cole anos 50, mas logo vira midtempo brejeira.
O cume de Back To Life é a baladaça R’n’B meio antiquada Worlds Apart, que tem violinos, muito grito, letra dolorida. Pra ouvir sofrendo muito, torcendo mãos, fazendo drama, encharcando lenços. Vale o álbum. Juntamente com a lenta pianosa Disconnected, fecho do LP, talvez seja uma das poucas faixas que não soarão datadas daqui a alguns anos. Esse é um dos perigos de se usar a última moda pra fazer arranjos comerciais. 

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