Roberto Rillo Bíscaro
LeToya Nicole Luckett foge um pouco do padrão da maioria
das divas negras resenhadas nesta seção, porque priorizo as iniciantes ou mais
distantes da parada da Billboard. LeToya foi do Destiny’s Child, ou seja,
conheceu bem o que é jogar na primeira divisão, embora não fosse da parte nobre
do megamilionário grupo, por não ser da família de Bioncê. A maioria desses
combos musicais não é uma democracia participativa igualitária. Tanto é que
depois de despedida, Luckett processou a facção Knowles mais de uma vez.
Em 2006 lançou álbum-solo, que atingiu o topo do Top 200.
Em 2009, novo álbum, que encabeçou a parada R’n’B, significando que vendeu
menos. A partir daí, priorizou a carreira de atriz, em filmes e séries. Dia 12
de maio, LeToya lançou seu terceiro LP, Back 2 Life, que a qualifica pro padrão
prevalente de divas negras protegidinhas deste blog: o trabalho é bom, mas
falhou comercialmente, não passando da posição 91 na Hot Hundred. Como aqui
defecamos e andamos pra aprovação popular, resta pena pra quem não deu
oportunidade prum álbum que poderia ter menos do que 13 faixas, mas que merece
oportunidade.
Escolada no mainstream,
Luckett sabe como usar os ruídos da moda trap
pra produzir baladas R’n’B de sabor contemporâneo, mas acessíveis, como em
Used To e Weekend. Nem todas são marcantes, e é dessa categoria que se poderiam
ter deduzido alguma faixa pra encurtar Back 2 Life. Em época de reality show que finge mostrar a vida
como ela é, a faixa-título (quem diabos entende que B2L significaria Back To
Life?) discutivelmente começa com uma baixaria de casal, antes de virar balada
doída, que cita o sucesso do Soul II Soul, daí o título.
I’m Ready abre o disco mostrando como esse povo que jogou
nas ligas altas sabe (ou pensa que) fisgar: a bateria marc(h)ada, acoplada a um
vocalize instantaneamente repetível, viciam.
Show Me tem clima disco funk, que
quando chega o refrão você já tá dançando de passinho na flash mob. Middle tem aquela austeridade de ameaça de mentira
conferida pela influência hip hop. As
cordas sintetizadas da abertura de My Love enganam: parece que será balada
retrô tipo Natalie Cole anos 50, mas logo vira midtempo brejeira.
O cume de Back To Life é a
baladaça R’n’B meio antiquada Worlds Apart, que tem violinos, muito grito,
letra dolorida. Pra ouvir sofrendo muito, torcendo mãos, fazendo drama,
encharcando lenços. Vale o álbum. Juntamente com a lenta pianosa Disconnected,
fecho do LP, talvez seja uma das poucas faixas que não soarão datadas daqui a
alguns anos. Esse é um dos perigos de se usar a última moda pra fazer arranjos
comerciais.
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