Roberto Rillo Bíscaro
Forbrydelsen abriu o caminho pra popularização do Nordic Noir na TV inglesa, mas foi A Ponte que eletrizou o subgênero. Desde 2007,
Inglaterra, EUA, França, Espanha, Nova Zelândia têm produzido thrillers com forte gosto escandinavo. O
Reino Unido é o que tem se inspirado mais e melhor nos suecos e dinamarqueses.
Shetland, Broadchurch, Y Gwill são policiais imperdíveis pra quem curte
histórias e ambientação deprês. Fortitude trouxe até Sofie Gråbøl pro elenco,
além de se passar numa fictícia base polar norueguesa. O amor britânico por
tudo Scandi não arrefeceu em 2016. A
ITV contratou Hans Rosenfeldt – o criador de BronIBroen – pra conceber e
escrever os 8 capítulos de Marcella, exibidos a partir de abril e ora
disponíveis na Netflix.
Marcella Backland é uma ex-policial atordoada, porque seu
marido acaba de abandoná-la. Justamente então, um colega a procura pra
informar-se sobre assassinatos em série, que a detetive-sargento investigara.
Suspeita-se que o maníaco está atuando novamente. Ainda obcecada pelo caso
não-resolvido e desesperada pra preencher seu tempo e cabeça, Marcella pede seu
emprego de volta e mergulha num mundo de prostituição online, falcatruas
corporativas, traição extraconjugal e psicopatia. Há um agravante, porém: ela
vem experimentando episódios de amnésia, então, às vezes ficamos na dúvida de
se alguns dos malfeitos não foram cometidos por ela mesma. Isso a liga com a já
clássica Saga Norén, de The Bridge, e seu possível Asperger jamais mencionado.
Mas física e indumentariamente, Marcella é parente de Sarah Lund, de Forbrydelsen. A atriz Anna Friel está meio caracterizada como sua colega
dinamarquesa, até mesmo num casaco que sempre veste, que aliás, me lembrou o
usado por uma detetive francesa da chinfrim Virage Nord (2015), outra cria do
Nordic Noir.
Como no caso dos problemáticos Norén e John River, a
tarefa primeira é acreditar que a polícia inglesa aceite a DS Backland de
volta, sem recapacitação ou avaliação físico-psicológica, só porque ela pede.
Numa cena ela diz que quer retornar e na próxima já está com os novos colegas,
uns 15 minutos primeiro capítulo adentro. Mas, sem suspensão da descrença
praticamente não assistiríamos a nada.
Em Marcella, Rosenfeldt usa a mesma técnica de apresentar
subtramas aparentemente do nada, como em BronIBroen. Ficamos desorientados, mas
logo entendemos ou supomos a conexão. No caso desta série, isso liga-se à
própria desintegração da personalidade da detetive, então o embaralhamento é
bastante interessante. Não se trata de nada muito complexo; o show é bem assistível. Só há que ter
paciência, porque os procedimentos são meio lentos.
Fãs de The Bridge não
deixarão de comparar as 2 séries, então é bom avisar que aquele padrão de
excelência não é alcançado e algumas das subtramas não são resolvidas a
contento. Marcella nunca atinge as alturas da produção sueco-dinamarquesa, mas
também é importante lembrar que o mundo de Saga Norén é ponto fora da curva.
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