Roberto Rillo Bíscaro
Esporte algum jamais conseguiu despertar o mais remoto
interesse em mim, por isso evito até mesmo filmes e séries nesse universo; se
bem que é prático ir ao banheiro ou pegar algo pra comer sem precisar pausar
durante as cenas de jogos, quando é impossível deixar de ver produção do
subgênero esportivo, porque algum querido(a) trabalha.
Os 13 episódios de Twenty Twelve (2011-12) encaixavam-se
na categoria “não posso deixar de ver, porque tem amados no elenco”, mas como é
sobre esporte demorei. Olha o sonho: a produção da BBC tem Lord Grantham
contracenando com a DS Miller numa sitcom
narrada pelo DI Hardy! Se você não entendeu nada e não saca muito de TV e
cultura britânica, Twenty Twelve não é indicado.
Aos que não se interessam por esporte, alívio: a série é
sobre os preparativos para os Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, então há
muita menção a esportes, mas sem jogos e aquela chatice toda.
Aos que amam sitcom,
cuidado: Twenty Twelve é em forma de mockumentary,
ou seja, parodia um documentário (mock significa simular, zombar, imitar), por
isso o narrador. Mas, ao contrário das sitcoms
ianques, não tem claque gargalhando a cada piada, até porque a mordacidade
de Twenty Twelve é tão fina, que arranca poucas risadas, mais sorrisos irônicos.
Os episódios de pouco mais de vinte minutos acompanham o
trabalho da ficcional Olympic Deliverance Comission, liderada por Ian Fletcher,
que sempre chega ao edifício numa minúscula bicicleta dobrável e
invariavelmente machuca o dedo ao fechá-la, enquanto fala ao celular. Fletcher
parece ser um gestor competente e é do tipo que “enxerga o lado cheio do copo”,
mas tem que lidar com um desastre após outro, a maioria nascidos porque os
membros de cada subcomissão não têm a menor ideia do que fazem. O humor irônico
e discreto de Twenty Twelve escorre da fleuma autodepreciativa britânica.
Volta e meia vemos noticiários brasileiros comparando a
extrema eficiência, sustentabilidade e legado dos equipamentos montados para os
jogos britânicos e a descartabilidade, sucateamento e precariedade dos nossos.
Por não seguir o mundo-atleta não sei quanto de verdade e quanto de complexo de
vira-lata intencional há nisso, mas Twenty Twelve trabalha justamente com uma
hipotética incapacidade britânica de fazer algo funcional.
Como se estivesse filmando reuniões, depoimentos dos
envolvidos, conversas no fumódromo improvisado, Twenty Twelve debocha de
fetiches conceituais pós-modernos como sustentabilidade, legado, inclusão,
diversidade, correção política, gestão, identidade e toda tralha palavrória que
surge a cada dia como infestação de piolho e não passa de blábláblá. O otimismo
gestor de Fletcher é sempre minado pelos fracassos; a hipocrisia da
sustentabilidade é debochada por meio da rivalidade com a comissão do legado.
Aliás, ninguém sabe qual a diferença entres as duas.
Tudo é dito em tom sério, porque é um “documentário”.
Isso deixa Twenty Twelve ainda mais mordaz, porque as personagens realmente
emulam tantas autoridades em diversas áreas que vem à mídia e falam um monte de
platitudes estúpidas, despidas de conteúdo. Por isso, quem rouba a cena é
Siobhan Sharpe, responsável pelo registro dos produtos relacionados aos Jogos.
Sem a menor noção de nada, Sharpe fala um monte de nonsense em voz pseudo-gutural e abunda em expressões como “shut
up”, “totally”, “holly shit” para expressar aprovação, surpresa, concordância,
em assuntos em que não sacou nada.
Siobhan e Ian agradaram tanto, que há um spin off, também em forma de mockumentary, apenas sobre os dois,
parece que tentando conseguir um emprego na BBC ou lá trabalhando, ainda não
pesquisei direito, mas assim que puder, verei.
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