terça-feira, 5 de setembro de 2017

TELINHA QUENTE 275


Roberto Rillo Bíscaro

Como professor, raramente vejo algo sem pensar em supostos valores pedagógicos. Séries como Merlí ou Rita; filmes como 7 Años podem complementar aulas ou serem utilizados como iniciadores de discussões. O que jamais advoguei foi o puro e simples “ensinar História” através de vídeos. Sabe aquele lance de botar o DVD, alunato assistir e acriticamente achar que todo mundo na Idade Média tinha dentões simetricamente branquinhos e torsos sarados, além de lutar por seus amores e sonhos como hoje, só porque apareceu num filme? Ao longo de décadas de profissão, vi isso repetidas vezes e desprezo como puro a simples matar aula.
Lembrei disso ao ver os 3 divertidos, mas totalmente abilolados, capítulos da minissérie ianque-canadense Tut (2015), produzidos pelo canal Spike. Por ter morrido jovem demais e ter seu governo provavelmente quase todo ditado por tutores, Tutancâmon foi faraó menor na história egípcia, mas a espetacular descoberta de sua excelentemente-preservada tumba em 1922, seguida de hype duradouro sobre suposta maldição, catapultaram-no ao superestrelato no imaginário ocidental. Há poucos anos, exames de DNA revelaram que o faraó-menino tinha sérios problemas congênitos devido a sucessivos casamentos incestuosos entre irmãos na família imperial. Provavelmente nem ficar em pé sozinho, o adolescente conseguia.   
Tut, se assistido como biografia, não apenas manterá a inflação da importância do monarca, como deixará a impressão dum jovem forte, lindo e sábio estrategista pra muito além de sua mui tenra idade cronológica. Rebelando-se contra a influência de seu tutor-vizir e do clero, Tut prova ser valoroso comandante do exército egípcio, apaixona-se por moça de sangue misto com inimigo histórico, enfim, faz e acontece antes de falecer aos 19 anos.
Como História, Tut é caca. Aquele cara poderia se chamar Mut, Cut, Put e a trama na Basiléia do B ou na Botswana Meriodinal do Norte; há que ser muito crédulo pra achar que roteiro tão batido de intriga palaciana tenha se passado de verdade. Mas, tem gente que ainda crê na planície da Terra, não é mesmo?
Como estória, Tut é mais batida que bife de terceira, mas mantém o espectador entretido. E que bapho ver Sir Ben Kingsley usando delineador pesado??!! Super fim de carreira e paródia de título de música do Saint Etienne: Ghandi in Eyeliner!

Tem na Netflix; é só saber que não é pra se aprender nada e se jogar no thrash que é Tut!

Nenhum comentário:

Postar um comentário