Roberto Rillo Bíscaro
Como professor, raramente vejo algo sem pensar em
supostos valores pedagógicos. Séries como Merlí ou Rita; filmes como 7 Años
podem complementar aulas ou serem utilizados como iniciadores de discussões. O
que jamais advoguei foi o puro e simples “ensinar História” através de vídeos.
Sabe aquele lance de botar o DVD, alunato assistir e acriticamente achar que
todo mundo na Idade Média tinha dentões simetricamente branquinhos e torsos
sarados, além de lutar por seus amores e sonhos como hoje, só porque apareceu
num filme? Ao longo de décadas de profissão, vi isso repetidas vezes e desprezo
como puro a simples matar aula.
Lembrei disso ao ver os 3 divertidos, mas totalmente
abilolados, capítulos da minissérie ianque-canadense Tut (2015), produzidos
pelo canal Spike. Por ter morrido jovem demais e ter seu governo provavelmente
quase todo ditado por tutores, Tutancâmon foi faraó menor na história egípcia,
mas a espetacular descoberta de sua excelentemente-preservada tumba em 1922,
seguida de hype duradouro sobre
suposta maldição, catapultaram-no ao superestrelato no imaginário ocidental. Há
poucos anos, exames de DNA revelaram que o faraó-menino tinha sérios problemas
congênitos devido a sucessivos casamentos incestuosos entre irmãos na família
imperial. Provavelmente nem ficar em pé sozinho, o adolescente conseguia.
Tut, se assistido como biografia, não apenas manterá a
inflação da importância do monarca, como deixará a impressão dum jovem forte,
lindo e sábio estrategista pra muito além de sua mui tenra idade cronológica.
Rebelando-se contra a influência de seu tutor-vizir e do clero, Tut prova ser
valoroso comandante do exército egípcio, apaixona-se por moça de sangue misto
com inimigo histórico, enfim, faz e acontece antes de falecer aos 19 anos.
Como História, Tut é caca. Aquele cara poderia se chamar
Mut, Cut, Put e a trama na Basiléia do B ou na Botswana Meriodinal do Norte; há
que ser muito crédulo pra achar que roteiro tão batido de intriga palaciana
tenha se passado de verdade. Mas, tem gente que ainda crê na planície da Terra,
não é mesmo?
Como estória, Tut é mais batida que bife de terceira, mas
mantém o espectador entretido. E que bapho ver Sir Ben Kingsley usando
delineador pesado??!! Super fim de carreira e paródia de título de música do
Saint Etienne: Ghandi in Eyeliner!
Tem na Netflix; é só saber que não é pra se aprender nada
e se jogar no thrash que é Tut!
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