Roberto Rilo Bíscaro
Geopoliticamente, a Austrália vive se equilibrando entre
sua histórica aliança com os Estados Unidos, com quem divide a pátria
colonizadora Inglaterra, idioma e supremacia caucasiana e sua interdependência
econômica com a muito mais próxima China, sua maior parceira comercial e não
muito amiga do Tio Sam. Essa tensão grita pra ser tematizada em produções de
suspense. Foi isso que os criadores da minissérie Secret City (2016) usaram
pros 6 capítulos, exibidos pela australiana Foxtel.
A jornalista política Harriet Dunkley inteira-se de trama
subterrânea, que colocará sua liberdade/vida em perigo e envolverá espiões,
políticos entreguistas querendo implantar medidas de cerceamento da liberdade
de expressão e, claro, mortes. Pra fomentar mais a discórdia, isso ocorre num
momento especialmente delicado entre as relações sino-ianques.
Secret City é passatempo decente pra quem curte thrillers políticos. Seu pecadilho não é
a falta de originalidade – se esse fosse o critério, quase não veríamos TV –
mas certa vagueza nos 2 episódios iniciais. Uma série de suspense obviamente
não pode entregar o jogo de início, senão não haveria porquê prosseguir vendo,
mas se pudéssemos entender alguma coisinha mais, teria sido mais eficiente. Não
duvido que certa sensação de “coisa muito no ar” dos capítulos iniciais tenha
custada a Secret City alguns telespectadores.
Depois que engata a marcha, é até bem legal ver a pouco
divulgada Camberra (vocês não têm a impressão, às vezes, que a continental
Austrália é só Sydney?) e perceber como a TV de lá segue o padrão da inclusão e
diversidade, como a de sua irmã estadunidense. Tem personagem asiática e até
transexual, plenamente incluída. Claro que é necessário atentar pras funções e
destinos dessas personagens em relação a seus pares caucasianos pra não cair no
simplista “apareceu já tá bom “.
Essa análise deixo aos leitores que decidirem dar chance
a essa produção que sai do eixo central EUA-Europa (leia-se Inglaterra).
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