Roberto Rillo Bíscaro
Durante 8 temporadas, o especialista forense Dexter Morgan teve que dar conta de seu trampo, compromissos familiares e ainda
esconder/escamotear sua identidade de assassino em série. Nos 16 episódios da
série que leva seu sobrenome, DCI John Luther não tem tantos afazeres quanto
Dex, porque não possui envolvimento familiar, mas divide sua atenção entre a
resolução de seus casos e tentar esquivar-se dos que o perseguem por crê-lo
amoral, desonesto, assassino mesmo.
As quatro temporadas exibidas pela BBC entre 2010-15 são
bem menos complexas do que o propagandeado por distribuidoras, tipo Netflix
(inclusive a brasileira). Os casos são brutais e a resolução vem quase sempre
num piscar de olhos dedutivo do supostamente genial Luther. Ocorre que quase
sempre o policial está às voltas em salvar sua própria pele ou distintivo,
então, a trama detetivesca tem que ser resolvida mais rapidamente. Nada muito
contra, porque a ambiguidade e o relativismo moral meio Charles Bronson,
contrastado com genuína preocupação pelo próximo, tornam Luther um show acima
da média. Só não é essa Fossa de Mindanau de profundidade psicológica de que
tentaram me convencer. As estripulias são tão malucas quanto as de Whitechapel,
embora este seja mais divertido, porque menos pretensioso.
Mas, como não gostar de Luther, que é fã de David Bowie e
sabe que Siouxsie And The Banshees não era “gótico”, mas pós-punk? Que bom que
cada vez mais policiais gostem de pop e não de jazz e ópera. Deixo pros
estudiosos de representação afro na TV, a problematização de se ter um
protagonista policial negro, que embora racional ao extremo na dedução,
animalescamente não consiga reprimir seus instintos agressivos e esmurre portas
e objetos ao redor. Por si, não há problema nisso, porque há afros assim, o possível
estorvo é a frequência nos tipos de representação. Sabe aquela coisa do albino
maluco ou com superpoderes? Nada errado se fosse outro ou um, mas
esmagadoramente descritos assim, isso se torna prejudicial formador de opinião
sobre nós.
A ambiguidade de Luther está até na única pessoa que o
compreende e vice-versa, uma psicopata, que semi-clona Hannibal Lector, mas tem
o mesmo sobrenome que Dexter. Alice Morgan rouba todas as cenas e ansiamos pra
que apareça, o que é um problema pruma série nomeada a partir da personagem
central.
Apesar dos defeitozinhos e
do exagero na divulgação, Luther fez sucesso e ganhou até refilmagem russa,
intitulada Klim. Se você procura policial mais profundo, vá de Happy Valley ou
River, mas se já viu Whtechapel e quer mais diversão, Luther é a série.
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