quinta-feira, 7 de setembro de 2017

TELONA QUENTE 201


Roberto Rillo Bíscaro

Road Movies (ou filmes de estrada, na pouco usada tradução pra português) é um subgênero em que a história se desenrola durante uma viagem. Na maioria das vezes, o filme não é regido por uma única situação-problema como é convencional, mas por várias que surgem e são resolvidas conforme e história transcorre. Em termos simbólicos é um dos tipos mais explícitos de metaforizar as mudanças passadas por um indivíduo ou grupo. O deslocamento geográfico, a mudança de um espaço a outro, com seus contratempos equivalem à alteração no arco comportamental da(s) personagem(ns).
A Netflix disponibiliza um exemplo natalino francês, chamado 10 Jours En Or (2012), dramédia escrita e dirigida por Nicolas Brossette. Bajau Marc é caixeiro-viajante bon-vivant, que superfatura suas notas de despesas e vive apenas pra si, porque não possui laço familiar algum. Depois de acobertar e dormir com uma imigrante ilegal, o elegante senhor de meia-idade se descobre cuidador dum garoto de 6 anos, que tem que levar prum endereço no sul do país.
Nessa jornada pseudo-dickensiana, à medida que Marc vai se despojando de seus confortos e comportamentos egoístas, aparecem acompanhantes que cumprem papeis similares aos fantasmas natalinos do escritor inglês. Pierre é o ancião que mostra a Marc, como é horrível ser solitário na velhice e a jovem Julie vê nos 2 homens que ainda é tempo de consertar seu futuro e ter uma família.
Com personagens improváveis e essa ênfase quase patológica na valorização da família, que no fundo, é vista como "investimento" pra garantir companhia na velhice (mas, tá cheio de idosos sozinhos, apesar de terem constituído família), 10 Jours En Or é facilmente detonável, mas escolho perceber e anotar isso e ainda assim curtir esse passatempo simpático.
Num planeta superlotado de notícias horrendas de garotinhos afogados em praias, o destino do pequeno Lucas amornou o coração numa fresca noite invernal.

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