Roberto Rillo Bíscaro
Não faz muito, declarei meu apreço por filmes de suspense espanhol com tramas exageradas. Na imprensa de lá, é comum a complexo de
vira-lata com gente detonando as produções, mas elas geralmente me divertem
deveras e isso me basta. Não foi o caso com O Guardião Invisível (2017), que
escolhi no menu da Netflix, numa tarde friazinha.
Trata-se da adaptação do primeiro romance duma trilogia
de sucesso duma tal Dolores Redondo. Depois da perda de tempo e desperdício de
minha já baixa visão com parte do primeiro volume de Game Of Thrones, nem
informação sobre tais produtos procuro, portanto, ater-me-ei (baba Temer!) à
adaptação do diretor Fernando González Molina, seguindo roteiro de Luiso
Berdejo.
Uma série de assassinatos de garotas desponta numa região
florestal, perto da fronteira francesa, e a policial Amaia é enviada a sua
aldeia natal, que guarda lembranças traumáticas de sua infância, além duma
criatura mitológica da floresta, provavelmente o guardião do título (que não
guarda nada, vide as garotas mortas). Com 3 níveis narrativos pra lidar, O
Guardião Invisível fracassa em todos. Nenhum decola ou gera interesse, porque
nenhuma das histórias é forte e desenvolvida; pelo contrário, é tudo clichê,
mas se tivessem tido tempo de fermentar talvez divertissem.
O noir do século XXI foi revitalizado pela frente fria escandinava, com suas
mulheres-protagonistas e ambientes sombrios. Aqui temos uma inspetora, mas como empatizar
com a sofredora-sem-graça Amaia? Na verdade, como se importar com qualquer
personagem nesse universo de papelão? O Guardião Invisível não é a primeira
produção espanhola que usa o norte do país pra fugir da luminosidade
incandescente do sol meridional. Bajo Sospecha, a minissérie, fizera isso, leia resenha aqui. A província de Navarra é representada como sob perpétua
escuridão, névoa e chuva, traindo a predominância do puramente estético em
detrimento de qualquer consistência.
Quando o suspense é envolvente, estamos dispostos a
aceitar inconsistências e até algum absurdozinho maior. Como O Guardião
Invisível não emociona, o racional fica alerta pra detectar cenas inúteis como
os papos entre Amaia e seu “mentor”, que não servem pra nada, ou melhor, apenas
ao propósito “estético” de contrapor a escuridão de Navarra com o jorro de luz
tropical donde quer que essa personagem inútil esteja. Eu ri. Parte do ritual
do serial killer é deixar um biscoito
local no meio das pernas da vítima. Pois não é que mesmo com a descomunal
umidade, a bolacha mantém-se seca e crocante? E você não vai acreditar, como
constatamos isso!
A precipitação
pluviométrica em O Guardião Invisível é tão grande que aguou ou mofou o
roteiro, a direção, a atuação e, sobretudo, a emoção. Há suspense espanhol bem
melhor pra ver.
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