A dupla formada pelo diretor israelense Eran Riklis e
pelo roteirista de origem árabe Sayed Kashua já foi bastante elogiada no blog
por produzir excelências como A Noiva Síria e The Lemmon Tree. De The Human Resources Manager gostei menos, embora não seja ruim. Mas, parece que o forte do
duo bicultural é tematizar o imbróglio permanente entre árabes e judeus.
Outra prova disso é Os Árabes Também Dançam (2015), que
mostra como é duro ser minoria étnica numa nação sempre envolvida em conflitos.
O filme começa com a informação de que 20% da população israelense é de origem
árabe. Se já é difícil em época “de paz”, imagine nos anos 80 e primeira metade
dos 90, quando as rusgas viraram guerras declaradas, contra o Líbano e o
Iraque. É esse o período da infância e juventude de Eyad, brilhante menino
árabe, que cresce em Israel, em meio a sua família e comunidade árabe torcendo
pra que os judeus sejam trucidados. Na hora de ir pra universidade, Eyad
consegue vaga na mais prestigiosa de Jerusalém, onde os judeus não acertam
pronunciar seu nome, a polícia o para a 3 por 2 pedindo documentos, é confrontado
por racismo e desconfiança em toda parte e se dá conta de que sendo árabe terá
dificuldade até pra conseguir um simples emprego como garçom. Lavador de prato,
tudo bem, afinal, fica escondido da freguesia, mas a coisa muda de figura se
for pra atender o público. Numa situação dessas, seria viável um relacionamento
amoroso bi-étnico? Porque Eyad se apaixona – e é correspondido por Naomi, uma
judia. Mas, Os Árabes Também Dançam não é um Romeu e Julieta transportado pro
Oriente Médio.
Eyad desenvolve sólida amizade com Yonatan, jovem
condenado a morrer cedo, porque tem a degenerativa distrofia muscular. Em vista
de tantos obstáculos pra desenvolver suas muitas potencialidades, Eyad aos
poucos transforma sua identidade e aí reside o foco da película. Antes de
proferir julgamento moral sobre se o que o jovem faz é certo ou errado, Riklis
e Kashua montam minucioso panorama da atmosfera opressiva circundando Eyad pra
que entendamos porque ele toma a decisão. Subjugado por uma condição
sócio-histórica que existe há séculos e envolve tantos atores poderosos e
armados até os dentes, dá pra culpar o indivíduo Eyad por tentar levar
existência mais tranquila e capaz de fazer com que suas potencialidades possam
desabrochar ao máximo?
O preço da minúcia em nos mostrar a pressão sofrida por
um membro da minoria étnica é que tudo o mais no roteiro fique esgarçado.
Jamais aprenderemos as consequências da escolha de Eyad, seja em nível pessoal,
seja familiar. Mas, o recorte a que o roteiro se propôs é tão bem-feito, que a
narrativa já vale pela exploração dos caminhos conducentes à decisão do jovem.
Embora não conduzidas de modo melodramático, as histórias
de Os Árabes Também Dançam são de uma tristeza descomunal. Atente pra
insistência no clássico deprê da Joy Division, Love Will Tear Us Apart, que
pontua alguns momentos das vidas dessas personagens obrigadas a abrirem mão de
partes essenciais de suas vidas, por causa de fatalidades ou irredutivismos
sociais. Além disso, o fato de um cineasta judeu representar a dureza prum
árabe crescer em Israel fala volumes sobre a situação.
Parabéns! Suas dicas e resenhas de filmes são sempre excelentes!
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