Roberto Rillo Bíscaro
Que vergonha; o Orchestral Manoeuvres in the Dark lançou
álbum dia primeiro de setembro e sequer comentei sobre English Electric, o de
2013. Esse trabalho me escapara por entre os tímpanos até que Googuei sobre o
LP homônimo do Big Big Train, lançado no mesmo ano. Só dava texto sobre os
pioneiros do synthpop britânico; bati
na testa inconformado de ter deixado passar o segundo trabalho após o
reagrupamento, em 2006.
Formado em 1978 por Andy McCluskey e Paul Humphreys, o
OMD quase sempre teve mais membros, mas ouvintes mais casuais – como eu –
sempre se importaram com a dupla-fundadora. Junto com Gary Numan, Ultravox e o
Human League dos Primeiros Dias, o Orchestral foi um dos grandes responsáveis
pelo desenvolvimento da síntese synthpop entre punk music e música eletrônica.
O rigoroso álbum Architecture & Morality (1981) é fundamental pra se
entender isso. A primeira faixa, The New Stone Age, espetacularmente mistura
Kraftwerk com pós-punk; é uma aula pra década que se abria. Lá por 84, o OMD
viraria mais pop e antes do fim da década McCluskey e Humphreys ficariam de
mal, reatando a parceria apenas em 2006.
English Electric deve ter passado batido, porque nos 80s,
dançava Enola Gay e Electricity na boatinha do Clube Penapolense e amara a
hipnótica Souvenir, trilha da novela global Eu Prometo (1983), última de Janete
Clair/primeira de Glória Perez, mas nunca fui fã como de Sade, Pet Shop Boys,
Phil Collins. Na era da internet e visitando a genealogia de minha década mais
querida, desenvolvi amor pelos LPs iniciais, que ouço sempre, mas não segui de
perto o restante. De qualquer forma, não é tarde pra escrever sobre o
competente English Electric.
Quarenta anos depois do auge do movimento punk e do
Kraftwerk, pode-se afirmar com segurança que a Cromossomo K fixou-se
definitivamente no genoma do OMD: English Electric tem tudo de Kraft e nenhum
resquício audível do (pós)-punk. De modo geral, o LP tematiza certo desgosto
com a modernidade; prometida dum jeito, vivida d’outro não tão resplandecente
de neon e abundante de tempo livre. Quem lembra dum sociólogo desses de mídia,
nos 80’s, profetizando que no futuro a automação permitiria que as pessoas
trabalhassem menos? Precarização, insegurança na manutenção dos postos de
emprego e gente conectada ao escritório quase o tempo todo são algumas facetas
desse futuro não previsto pelo esquecido (Pollyann)acadêmico. E qual sonoridade
pra falar de perspectivas fracassadas de futuro idealizado do que o bom e velho
tecnopop oitentista? Apesar dum par de piscadas pralgum truque de produção mais
contemporânea, English Electric é pra ouvidos mais velhos ou pra moçada que
curte vintage.
É provável que o pendor de McCluskey e Humphreys por
lindas melodias explique a fixação no Kraftwerk e não no agressivo (pós-)punk. Ouça
a boniteza dos riffs de teclado de
Night Café e Stay With Me, esse capaz de fazer montanha se avalanchar em
lágrimas. Na veia de Enola e Electricity, Dresden traz memorável linha de
teclado pra dançar, sustentada e impulsionada por baixo potente e rebolável.
Não é à toa: Andy é baixista; Paul, tecladista. Daria tranquilamente pra tocar
na boatinha do Clube Penapolense, emendada com It’s a Sin, dos Pet Shop Boys,
lá por volta de 86-7.
Dresden é uma cidade alemã, pátria do Kraftwerk,
inspirador de German, digo, English Electric. Metroland é pura minissinfonia
fase Man Machine (1978), que aliás, tem faixa chamada Metroplis. Linda. Kissing
the Machine é regravação de uma canção de 1993, do Elektric Music, projeto de
Paul Humphreys com Karl Bartos, ex-percussionista adivinha de qual seminal
grupo eletrônico germânico? Pra completar o domínio teutônico, a faixa conta
com vocais de Claudia Brücken, do grupo synthpop alemão Propaganda, que fez
sucesso no Brasil, em 1985-6. Paul e Claudia foram casal por vários anos.
Embora expelindo Kraftwerk pelos poros mais minúsculos, o
álbum não soa como pastiche; é só que os caras amam Kraft desde os 70’s, a
música dos alemães está até nos movimentos involuntários. Mesmo assim, sobra
espaço pro synth-bolero de Final Song e pra The Future Will Be Silent, onde o
OMD mostra que pelo menos ouviu dubstep e trap. Mas, pra nós oitentistas que
enfrentamos a acid house, a faixa não soará alienígena.
Entremeado de vinhetas “experimentais”, o álbum não
assusta ninguém que passou pelos 80’s, afinal, os tais “experimentos
eletrônicos” vinhetados já foram todos feitos. Com os timbres de teclados
registrados do OMD, os vocais intocados pelo tempo (será efeito de estúdio?
Estão iguaizinhos desde sempre!) e até mesmo uma personagem feminina
inspiradora – Helena de Troia, no lugar de Joana D’Arc – English Electric
mostrou um Orchestral Manuevres in the Dark no topo de sua forma madura.
Quem não quer ficar defasado como eu, que ouça o novo LP,
puritanamente intitulado The Punishment Of Luxury. Já ouvi, mas ainda não me
encantou tanto, quanto English Electric; vamos ver se rolará resenha...
Nenhum comentário:
Postar um comentário