Roberto Rillo Bíscaro
Nem o fuá cercando a versão fílmica da Mulher Maravilha –
seu sucesso de bilheteria e parece que até entre críticos, além do suposto
baixo salário recebido pela atriz que interpreta a empoderada – me atiçou a
curiosidade em vê-lo. Sequer chequei se as alegações monetárias são verdadeiras
ou se a crítica gostou; não sei o nome da atriz. Não me interessa nem em mais
remoto âmbito.
Houve época em que o garotinho Roberto Rillo Bíscaro era
fã da Mulher Maravilha, porém. Isso por volta de 1977-8, quando a Globo exibia
a série, cuja primeira temporada foi originalmente mostrada pela ABC e as
segunda e terceira, pela CBS (essa inconstância marca toda a produção). Saber
que a super-heroína criada em 1941 por Charles Moulton retornara, deu vontade
de rechecar a série.
Os anos 1970 eram propícios pra levar personagem feminina
protagônica pras telinhas. Representar/lucrar com o ascendente feminismo estava
em alta e a Woman’s Lib felizmente trouxe mulheres fortes e ativas pro cinema e
TV. Sitcoms como The Mary Tyler Moore Show, mas também programas de ação como
Mulher Biônica, As Panteras e Police Woman. Fenecia a época em que os machos
tentavam impedir o poder feminino, como nas sessentistas A Feiticeira e Jeannie é um Gênio. Os 70’s eram a época do não provoque, porque é cor de rosa-choque.
O seriado da Mulher Maravilha, que durou de 1975 a 79,
legou atriz eternamente estereotipada como a personagem – a ex-Miss Mundo e
futura alcoólatra Lynda Carter – e fez muito sucesso, gerando ícones da cultura
pop como a canção-tema (executada com letra apenas na primeira temporada) e o
giro pra se transformar de Diana Prince em Wonder Woman (a versão que grudou no
imaginário também é a da temporada de estreia).
No Brasil, o sucesso foi
tanto que rendeu até paródia no programa Brasil Pandeiro, que Betty Faria
comandava, em 1978. Maria Maravilha era a versão pobre da norte-americana.
Maria trabalhava numa lanchonete e quando girava e gritava saravá, se
metamorfoseava na super-heroína. Eu lembrava de Maria Maravilha, mas não do
Brasil Pandeiro, mas pra quem nem faz ideia do que escrevo, veja trecho:
Não dá pra caçoar muito do mambembismo da produção
global, que afinal, era sátira. O original norte-americano, que se queria
sério, é difícil de recomendar pra jovens e crianças atuais: mambembice de
primeiro mundo, mas gambiarra pura na maioria das vezes. Claro que não revisito
esses shows em busca de reproduzir
emoções vividas na época da exibição – eu tinha 10 anos, se conseguisse tê-las
de novo, precisaria recorrer a um terapeuta urgentemente. Vejo-os, porque me
interessam programas antigos, que podem ser bons, veja o caso de The Streets Of San Francisco. Mas, Mulher-Maravilha não era a não ser pela temporada inicial,
que ainda tentava ser mais quadrinhos e tem o charme de ser durante a Segunda
Guerra. Faltava grana pra produção – continua irrecomendável pra jovens – mas
tinha seu charme. As outras 2 são bem pobres.
A temporada 1 chamou-se Wonder Woman e nela vemos a partida
da super-heroína da Ilha Paraíso, sua chegada a e adaptação em Washington e sua
parceria protetiva com Steve Trevor pra lutar contra o perigo nazista. Não é à
toa que o giro e a canção-tema lembrados sejam os dessa época; eu mesmo não
recordava de nada das demais temporadas, mas lembrava até do nome duma
coadjuvante, chamada Beatrice Colen. Sabe aquele lance de ver a imagem e
pensar, “nossa, é mesmo!”? Assim que aconteceu, quando vi seu nome dentro da
estrelinha da animação na introdução.
O it (lembram
quando isso era sinônimo pra charme?) é que os episódios não escondem que são
quadrinescos; tem até aquelas legendas amarelas, tipo “mais tarde, no QG de não
sei onde”. A interação entre Diana e Steve é bem mais fluida, de vez em quando
aparece o Jato Invisível, cujo teto é tão baixo que quase bate na cabeça da
Mulher-Maravilha e tem música de elevador como trilha-sonora e em um par de
episódios as Amazonas, inclusive sua irmã Drusilla, a hoje esquecida, mas então
estreante Debra Winger. É bem cult,
mas as audiências de hoje provavelmente se suicidariam por tédio, porque a
heroína aparece por uns 10 minutos num episódio de mais de 40. O resto é tudo
falação e quando chegam as cenas de ação, amador pra cacete. As coreografias de
lutas com Carter ou seu dublê eram pobres de doer.TV há 40 anos não era Netflix
ou HBO: geralmente era pra fins de carreira, inícios a serem “esquecidos” ou
relembrados com ironia divertida, ou pra quem não tinha talento/contatos pra
entrar em Hollywood. Então, orçamentos eram parcos, porque a visão dos canais e
produtoras era mesmo produzir entretenimento barato pra ser exibido entre o que
realmente interessava, os anúncios.
As 2 temporadas seguintes chamaram-se The New Adventures
Of Wonder Woman, porque o estúdio decidiu remaquiar o show por completo, que
agora se passava na contemporaneidade e tinha Diana Prince trabalhando como
agente governamental da IADC, que supostamente tinha a função de resolver casos
de alta prioridade. Más (será?) línguas dizem que o estrelato subiu demais à
cabecinha linda de Lynda Carter, que exigiu menos espaço a seu colega Lyle
Waggoner. Ele nunca confirmou o rumor, mas num documentário que acompanha o DVD
da série completa, Linda lamenta não o ter “conhecido melhor”, por falta de tempo
(ô dó!). Ele não aparece em nenhuma das featuretes
que bonificaram a box-set da Mulher Maravilha. Fato é que depois da
temporada primeira, Steve Trevor aparece e faz cada vez menos. Pra explicar a
presença do mesmo rosto 30 anos após a Segunda Guerra, improvisaram que esse
Steve Trevor era o Júnior. Será que se filmada hoje, dariam o papel de galã
prum ator de 40 anos não-bombado?
À falta de recursos e pobreza coreográfica somou-se total
ausência de rumo. As temporadas são amostras públicas de produtores procurando
um tom pro show, ou antes, tentando erraticamente adaptar a Mulher Maravilha à
alguma fórmula ou trejeito de sucesso. Tem grupo de episódios, onde Diana e
Steve se reúnem numa sala com um chefe invisível, à moda das Panteras; em
outros há um robozinho engraçadinho (poooooodre!) à Guerra Nas Estrelas; há um
em que parece que nova roupagem será vestida, porque Diana se muda pra Los
Angeles e novo chefe é apresentado (o ator é gordinho, nada galã como Waggoner;
más línguas, dona Lynda Carter?) e um garotinho negro desponta como alívio
cômico, tudo pra que no episódio seguinte ela siga vivendo na capital
estadunidense.
A despeito das tramas fracas e mediocridade geral, Mulher
Maravilha tem na simpatia de Lynda Carter seu trunfo pra nós que aprendemos a
amá-la na meninice. Desindicado pra juventude atual, mas como viagem memorial
pra 50tões, episódios da Wonder Woman ainda valem a pena. Mas, tem que ser aos
poucos.
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