Roberto Rillo Bíscaro
Sem entrar no mérito da gratuidade da farpa, o jornalista
escrevia sobre Hostages, série israelense, então exibida pela BBC4. É certo que
o pequenino país asiático tem oferecido excelentes produtos, que os
norte-americanos não param de adaptar, como In Treatment, Homeland e a própria
Hostages. Esse encanto novo da nuvem cultural gafanhota pela nação judia é que
levou Boyd a sugerir a troca da Dinamarca por Israel.
As 2 temporadas de Hostages – disponíveis até dubladas na
Netflix brasileira (foi assim que vi, não tenho fetiche por legendas) – estavam
na minha mira há meses, então, esperei o feriadão da Independência, pra mim
acrescido de mais um dia devido à extração dos últimos sisos, para dedicar-me
aos mais de 20 episódios. Fiz bem em ter assistido em época possível de fazer
maratona. Hostages prende e, lá pelo capítulo 5 em diante da segunda temporada,
se você não tiver bastante tempo, terá que recorrer a ansiolítico até poder ver
a prestação seguinte.
A competente, competitiva e linda Dra. Yael Danon está
prestes a atingir o cume da carreira: no dia seguinte operará ninguém menos que
o amado Primeiro-Ministro Shmuel Netzer, mas na véspera, encapuzados invadem
sua casa e mantém a família refém (hostage, em inglês). A exigência é que a
médica mate o político na mesa de cirurgia. Como ela tem que ter liberdade de
ir e vir pra não levantar suspeita e, óbvio, poder operar, Hostages não é de
longe um drama estático. Além disso, segredos emergem; relacionamentos entre os
sequestradores e entre estes e os reféns se desenrolam, tornando a série muito
dinâmica. A segunda temporada é outra situação de cerco entre polícia e reféns,
decorrente das ações da primeira, mas não com todas as personagens.
Hostages é como um longo longa-metragem de horas e horas,
porque realmente entendemos algumas das motivações apenas no decorrer da
segunda temporada. Ao contrário de
tantos filmes e mesmo séries, como Fauda, Hostages não aborda a problemática
relação entre árabes e judeus; tudo se passa em Jerusalém, mas as motivações
são mais pessoais do que políticas. É ótimo ver abordagens do conflito étnico
entre árabes e judeus, mas também é salutar demais termos noção de que a
cultura israelense não apenas vive e respira isso. Hostages é problema intrajudeus.
A dimensão pessoal preponderando foi escolha sábia do roteiro,
porque Hostages é thriller pra diversão e não elucubração. São revelações e
reviravoltas mirabolantes pra quem está atrás de emoções, sem se importar se a
trama é plausível. Advertência: se você é do tipo que preza “realismo”, essa
série não é indicada. A delícia de Hostages é ser tão despirocada quanto
Scandal ou Whitechapel. Totalmente viciante em seu redemoinho implausível.
Fazia tempo que corridas contra o relógio – há repetidas, especialmente na
eletrizante segunda temporada – não me deixavam tão tenso e sem forças pra sair
da Netflix.
Não sei se Israel é a nova Dinamarca televisiva, mas o
rico país europeu ainda está com a bola toda e influenciando. Mais pro final da
temporada 2, Kim Bodnia – o Martin Rohde, da cultuada Bron/Broen – aparece pra
adicionar ainda mais complicação à vida das personagens israelenses.
Se eu não puser Hostages na
minha lista de melhores do segundo semestre, podem enviar e-mails com vírus
fatais!
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