terça-feira, 17 de outubro de 2017

TELINHA QUENTE 281




Roberto Rillo Bíscaro

Ano passado, o articulista Brian Boyd, do The Irish Times, escreveu que Israel era a nova Dinamarca, quando se tratava de sériesexcitantes. O pequeno país escandinavo foi a locomotiva da invasão de shows estrangeiras na TV britânica, depois do sucesso da legendada Forbrydelsen. Suécia, Itália, Noruega, Islândia, Bélgica já tiveram produções cultuadas por uma geração, que meio ironicamente, Boyd diz passar as noites de sábado em frente à TV, com seu Chardonnay, sentindo-se especial, porque lê legenda.
Sem entrar no mérito da gratuidade da farpa, o jornalista escrevia sobre Hostages, série israelense, então exibida pela BBC4. É certo que o pequenino país asiático tem oferecido excelentes produtos, que os norte-americanos não param de adaptar, como In Treatment, Homeland e a própria Hostages. Esse encanto novo da nuvem cultural gafanhota pela nação judia é que levou Boyd a sugerir a troca da Dinamarca por Israel.
As 2 temporadas de Hostages – disponíveis até dubladas na Netflix brasileira (foi assim que vi, não tenho fetiche por legendas) – estavam na minha mira há meses, então, esperei o feriadão da Independência, pra mim acrescido de mais um dia devido à extração dos últimos sisos, para dedicar-me aos mais de 20 episódios. Fiz bem em ter assistido em época possível de fazer maratona. Hostages prende e, lá pelo capítulo 5 em diante da segunda temporada, se você não tiver bastante tempo, terá que recorrer a ansiolítico até poder ver a prestação seguinte.
A competente, competitiva e linda Dra. Yael Danon está prestes a atingir o cume da carreira: no dia seguinte operará ninguém menos que o amado Primeiro-Ministro Shmuel Netzer, mas na véspera, encapuzados invadem sua casa e mantém a família refém (hostage, em inglês). A exigência é que a médica mate o político na mesa de cirurgia. Como ela tem que ter liberdade de ir e vir pra não levantar suspeita e, óbvio, poder operar, Hostages não é de longe um drama estático. Além disso, segredos emergem; relacionamentos entre os sequestradores e entre estes e os reféns se desenrolam, tornando a série muito dinâmica. A segunda temporada é outra situação de cerco entre polícia e reféns, decorrente das ações da primeira, mas não com todas as personagens.
Hostages é como um longo longa-metragem de horas e horas, porque realmente entendemos algumas das motivações apenas no decorrer da segunda temporada.  Ao contrário de tantos filmes e mesmo séries, como Fauda, Hostages não aborda a problemática relação entre árabes e judeus; tudo se passa em Jerusalém, mas as motivações são mais pessoais do que políticas. É ótimo ver abordagens do conflito étnico entre árabes e judeus, mas também é salutar demais termos noção de que a cultura israelense não apenas vive e respira isso. Hostages é problema intrajudeus.
A dimensão pessoal preponderando foi escolha sábia do roteiro, porque Hostages é thriller pra diversão e não elucubração. São revelações e reviravoltas mirabolantes pra quem está atrás de emoções, sem se importar se a trama é plausível. Advertência: se você é do tipo que preza “realismo”, essa série não é indicada. A delícia de Hostages é ser tão despirocada quanto Scandal ou Whitechapel. Totalmente viciante em seu redemoinho implausível. Fazia tempo que corridas contra o relógio – há repetidas, especialmente na eletrizante segunda temporada – não me deixavam tão tenso e sem forças pra sair da Netflix.
Não sei se Israel é a nova Dinamarca televisiva, mas o rico país europeu ainda está com a bola toda e influenciando. Mais pro final da temporada 2, Kim Bodnia – o Martin Rohde, da cultuada Bron/Broen – aparece pra adicionar ainda mais complicação à vida das personagens israelenses.
Se eu não puser Hostages na minha lista de melhores do segundo semestre, podem enviar e-mails com vírus fatais!

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