Roberto Rillo Bíscaro
Fazia tempo que vira o nome The Principal, enquanto
vasculhava online por séries. Como isso significa O Diretor de Escola, relutava
em dar oportunidade. Por mais fofos e divertidos que tenha achado Merlí e Rita,
não tenciono ver algo similar tão cedo. Quase me ofendem essas séries de
professor que luta contra um sistema sem que esse seja sequer questionado e que
detona outros professores pra tornar a “missão” do protagonista possível. Não
se espera que uma andorinha faça verão, mas acredita-se que um docente possa,
desde que se invista do papel de santo amalucado; depende apenas de nós (sou
professor, lembram-se?) Bem, não é assim que funciona na vida real de aluninhas
dando comprimidos misturados à água pra professora dormir.
Mas, felizmente apertei The Principal (2015) no menu da
Netflix e não me arrependi. A produção australiana é uma espécie de Merlí desce
aos infernos. O começo é típico: Matt Bashir, de origem “árabe”, é um professor
de História que consegue posto como diretor na problemática escola púbica
apenas pra garotos onde estudara. Lá, começa a implantar seus métodos
integracionistas, que pregam tolerância mais que louvável aos alunos, muitos
deles vindos de situações traumáticas de guerras como a da Síria. Como eles
sofreram e sofrem horrores com a pobreza australiana, podem chamar o professor
de culinária de viado sem repreensão alguma. Por ser docente, ele tem que ser
estoico e compreensivo. Lindo, né? Culpado é o resto do staff, que não entende os estudantes. Que o enorme êxodo mundial
está juntando culturas que não gostariam que isso ocorresse, pra começo de
conversa, não importa.
Dai, ocorre reviravolta que singulariza os 4 capítulos da
minissérie. Um aluno é encontrado morto e a perspectiva vira mais de
investigação policialesca, o que implica na descoberta de esqueletos no armário
de todo mundo, inclusive de Bashir. Ele é um bom homem, mas não a última
bolacha do pacote, ou até é, pensando melhor, afinal, bem frequentemente esse
biscoito se parte, quando a retiramos.
The Principal é inteligente, porque consegue ser
eficiente suspense policial ao mesmo tempo que mostra que ações individuais
podem fazer a diferença, mas não mudarão o desempenho e interesse de todos os
alunos (se bem que Merlí e Rita são pura mistificação; eles se envolvem com um
punhadinho de estudantes apenas) num passe de mágica. Aliás a resolução do
assassinato subverte essa falaciosa narrativa de salvação universal pela
educação a partir dum indivíduo-mártir-sacerdote-palhaço-melhor-amigo-figura
paterna/materna-confidente dos alunos.
Em termos de produção, The Principal também tem seu
diferencial: é encharcada numa bela cinematografia amarelada, que mostra que
ali o negócio é mais bem feito e “artístico”, além de conferir característica
algo outro-mundista, o que não deixa de ser perigosinho: vamos lá, The
Principal se passa, sim, numa Sidney forçadamente multicultural, que tem
bairros pobres.
Nós, professores,
brasileiros, não deixamos de sorrir, quando vemos a “pobreza” dos alunos
australianos, pelo menos a ali demonstrada. Ah, se aqui fosse assim, já seria
progresso!
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