quinta-feira, 5 de outubro de 2017

TELONA QUENTE 205


Roberto Rillo Bíscaro

Lassie, Rin Tin Tin, Benji, K9, Beethoven, Marley são apenas alguns nomes de cães que enternecem multidões ao longo da história do cinema. No mundo da animação Pluto e Scooby Doo repetem o sucesso canino, que não se repete com gatos. Em filmes e séries, gatos protagônicos são raridade – a não ser quando são do mal – e nas animações Frajola e Tom apanham de Piu Piu e Jerry apenas porque querem comê-los. Oras, gatos são carnívoros, isso não é índice de vileza, é biológico. Uma das exceções felinas é o gorducho preguiçoso Garfield, que, quando transposto pro cinema fiascou bonito.
Gateiro atualmente tutoreando 4 gatíneos lindos, interessei-me na hora quando vi Virei Um Gato (2016) no menu da Netflix. Não esperava obra-prima, mas resolvi prestigiar meus animais favoritos. Ao buscar dados pra compor esta resenha, aprendi que o filme foi merecidamente malhado pela crítica. Com roteiro escrito a dez mãos, não pude evitar maquinar metáfora maldosa: o computador armazenador dessa baboseira é o equivalente humano a uma caixa de areia felina. A diferença é que enquanto os asseados bigodudos enterram sua caca, os 5 roteiristas deixaram as deles expostas ao mundo.
Tom (seriously?) Brand é um magnata Trumposo, que não tem tempo pra família, porque se dedica à construção do edifício mais alto do hemisfério norte (como se o do sul tivesse grana pra ter um mais alto). Sua negligenciada, mas amorosa, filha quer um gato de presente de aniversário, mas Tom os detesta. Quando o pai cede ao desejo da menina e vai a obscuro pet shop comprar um animalzinho, cai no radar do dono com poderes mágicos, que, praticamente sem motivação alguma, faz uma mágica que transfere a alma de Tom pro corpo do gatinho, Mr. Fuzzypants. Em sua nova existência, Brand descobrirá quão importante é dedicar tempo a quem o ama de verdade.
Nem foi o clichê da trama que me incomodou. Duro é o roteiro ruim de doer, a direção sem personalidade e as atuações no piloto-automático (se bem que, com material tão insosso, como culpar o elenco?).
Cinco roteiristas não sabem que um triliárdário sem tempo pra nada mandaria algum assistente comprar o gatinho nalguma loja de grife? A ex-esposa de Tom deveria ser uma megera interesseira; mas qual qualidade redentora o ex-marido possui pra que eu tire a razão dela de ter lhe dado um chute no traseiro? Nenhuma personagem tem mais que uma dimensão, porque o roteiro é preguiçoso, dormente como típico felino, mas sem um átimo de sua graça.
Em várias das cenas, usam-se efeitos de computador pra emular Mr. Fuzzypants. Artificial e feio pra burro. Nem dá muito pra simpatizar com o pobre gatinho, que passa fazendo coisas nada fofas a maior parte do tempo. Nada, mas nada mesmo funciona em Nine Lives, que é sem vida alguma.

No epicentro do desastre, Kevin Spacey, o que me levou a cogitar se aceitou o papel pra garantir mais um gordo contracheque pra garantir a aposentadora ou se sua carreira no cinema já foi pro Spaço. 

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