Roberto Rillo Bíscaro
Amo música negra norte-americana em sentido bastante
amplo, mas inegável que meu xodó sejam as divas, basta checar o número de
resenhas de álbuns de cantoras. Deve ser por isso, que mesmo com relação a
vozes masculinas, meu período favorito da black
music são os anos 70, quando os falsetes do Phily Soul imperavam. Ai ai,
Stylistics...
Como o caráter desta página é inclusivo e meus gostos
(mais ou menos) amplos, homens não estão aprioristicamente exclusos.
Edificante. Mas essa não é toda a verdade. A curiosidade pra eu ouvir o segundo
álbum do neo-soul man independente Darien Dean veio, porque Avery Sunshine
participa em uma faixa.
Natural do estado de Nova York, Dean não faz sucesso de
massa – elegível pra muso deste blog, então! – mas tem despertado atenções e
críticas positivas no universo R’n’B. Compositor, produtor, engenheiro, o
norte-americano estreou em LP, com o álbum If These Walls Could Talk e demorou
8 anos pra lançar o segundo, Departures.
É um trabalho muito conciso: descontadas a Intro e 2
remixes, há apenas 6 canções, de exímia qualidade vocal e arranjos solares. A menos
marcante é a setentista Wonders e não porque seja ruim. Por Deus, não! É gostosura
deslizante, mas ouvida tantas vezes que acaba não se destacando em relação às
demais. Mas, nunca pulo, porque é delicinha e o nome lembra o cego Stevie,
patrono inspirador de muita coisa aqui. Experimente a soul ballad Find a Way e veja se não tem cheirinho de Stevie
Wonder.
Harmless tem jeitão de Southern Soul; devido à discreta
guitarra bluesada e piano gospel. E presta atenção nessa voz, que em Someone Is
You encontra par feito no Paraíso na potência modulada de Avery Sunshine. Há 2
versões: a primeira mais R’n’B spiritual e a segunda mais na praia da moçada acid jazz. Outra que aparece em dose
dupla é Pieces, ápice de Departures, de humilhar a concorrência de tão bem
cantada e arranjada: os violões latinos dão vontade de patinar com a cara
metade no Central Park num dia de primavera. O remix não agrada tanto a fãs old school, como este resenhista, mas
não está ruim.
All I Ask volta uns 17 anos na sonoridade black music, tem batida marcial e
teclado onipresente, embora confinado ao fundo da mixagem. Bem diferente do
resto e prova que Dean pode fazer coisa distinta. Provavelmente agradará a quem
cresceu com o “peso” da produção oitentista. Boa, mas todo esse trampo na produção
veio com um preço: os demais arranjos têm mais espaço pra "respirar”.
Escolhas implicam em perdas e ganhos. Mas isso prum show deve ser catártico!
Darien Dean tem mais pra agradar à galera old school, o que hoje significa algo
como “pessoal que curte soul anos 70, 80 e 90”. Não há rapper fazendo ‘uh hu,
uh, ho, yo” ao som de arranjo pseudo-trap (nada contra, nada contra, calma!),
embora na versão One Mo’ Piece, de Pieces, pareça que vai haver. Há granulados
modernos suficientes pra agradar ouvidos contemporâneos abertos pra lindas
harmonias e vocais.
E ainda por cima, não dá pra usar como desculpa o fato
dele ser independente pra não ouvir. Ambos LPs estão no Bandcamp:
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