Hoje é dia de dobradinha na seção de TV. Segredos e Mentiras é uma série bem legal, que mistura investigação policial com novelão. Tem na Netflix. Mas, o original é uma minissérie australiana, sabia? Bem legal também e com enfoque mais no caso policial. Leia sobre as duas.
Roberto Rillo Bíscaro
Quem diria, Juliete Lewis se esforçou tanto pra ser cult no início dos anos 90 e terminou fazendo soap pra ABC! Nada contra, amo novelões norte-americanos (ou inspirados neles), mas não pude escapar de pensar nisso enquanto via as 2 temporadas de Segredos e Mentiras (2015-6), disponíveis na Netflix. Será que a já quarentona toparia fazer esses roteiros fracos (mas deliciosos), nos anos 90? Ou é porque os papeis pra cine estão minguando por causa da idade? Hollywood é implacável com a mulherada.
Quem diria, Juliete Lewis se esforçou tanto pra ser cult no início dos anos 90 e terminou fazendo soap pra ABC! Nada contra, amo novelões norte-americanos (ou inspirados neles), mas não pude escapar de pensar nisso enquanto via as 2 temporadas de Segredos e Mentiras (2015-6), disponíveis na Netflix. Será que a já quarentona toparia fazer esses roteiros fracos (mas deliciosos), nos anos 90? Ou é porque os papeis pra cine estão minguando por causa da idade? Hollywood é implacável com a mulherada.
O que quer que tenha sido a razão pro aceite, Segredos
e Mentiras já diz tudo o que é pelo título. Baseado numa minissérie
australiana, a série começou pretendendo ser de investigação policial, mas sua
alma sempre foi de soap opera. Na
segunda temporada então, alucina, até com gentchy ryka sofrendo (amo!). Como
Secrets and Lies é centrada nas investigações da detetive Andrea Cornell, a ABC
pensou em dedicar cada temporada a um caso, mas a audiência não deve ter rolado
a contento, porque só houve duas. Damn!
Na primeira dezena de capítulos temos a história da
família de classe-média, os Crawford. Papai Ben sai pra fazer jogging perto do Natal e descobre o
corpo do filhinho de sua vizinha no meio da floresta. Não demora pra situação
virar contra ele, porque a Detetive Cornell suspeita-o como assassino, e quando
Andrea encana, encarna como sarna. Pra tentar se livrar da acusação, Ben começa
também sua investigação. A dele e a da polícia combinadas resultarão na
destruição de várias vidas e famílias, porque o título é SEGREDOS e MENTIRAS, né? É tudo rotina, as
interpretações são algo ruins ou mornas, mas tem coisa divertida pra quem curte
soap e mesmo quem gosta de histórias
de investigação mais americanizadas, não no padrão europeu deprê do Celtic ou
Nordic Noir. É bem consumo, com aquelas revelações tiradas do fundo do bolso do
colete e aquelas deliciosas improbalidades de soap: o prédio da polícia é gigantesco (vemos cenas gravadas de
drone), Ben tem que falar com Cornell, ele abre a porta do elevador e ela está
na frente. Aliás, ela parece assombração, está em tudo quanto é canto a
qualquer hora.
Até que gostei de uma detetive sem vida própria, como
em produções mais antigas. Todas as series “sérias” de policiais duns tempos
pra cá têm que lidar com os casos e as vidas pessoais horríveis dos detetives.
Em Segredos e Mentiras, Andrea quase vive pro caso; aprendemos um fato de sua
filha, mas é apenas pra compor melhor o sentido de justiça da detetive. Ela é
uma pedra de gelo e vive pra prender assassinos.
Na segunda temporada, somos introduzidos mais a seus
dilemas pessoais, mas não me importaram tanto quanto a investigação policial,
ou antes, a história de revelações bombásticas de uma família rica,
aparentemente perfeitinha, mas que se desintegra ao longo dos dez episódios. E
olha que moderno, o clã rico é afrodescendente, embora o papaisão seja caucasiano - mas o legal aí é o casamento birracial
(pode dizer assim ainda ou é bi-étnico agora?). Moderno nada, deu certo
protagonista negra em Scandal e família negra rica em Empire (parei de ver,
enjoei) e Greenleaf (tentei 2 ou 3 capítulos, mas não curti o contexto), então
a ABC botou uma em Segredos e Mentiras também.
No dia em que o macho Alfa ébano Eric Warner assumirá o
controle da companhia fundada por seu pai, sua esposa despenca da cobertura e a
robótica Andrea Cornell encasqueta que ele seja o culpado. No processo de
buscar evidências de inocência e também pelo assassino da mulher, Eric
desmantelará a família. Como o planejado era uma história por temporada, os
roteiristas destruíram MESMO a família Warner. Do capítulo 5 ou 6 em diante, é
porrada atrás da outra. Tipo, estava eu reclamando sobre como Terry O’Quinn (o
diabão de 666 Park Avenue) era sub-aproveitado, quando uma daquelas reviravoltas
malucas de soap me atingiu no estômago. Nossa, a-may! Pena que tem a história
paralela do policial que quer encontrar sua filha piranha desaparecida. Who the fuck cares?
Segredos & Mentiras
serve pra matar fome de quem tá com jejum de soap. Daqueles shows pra você ver só mesmo pra fugir da
rotina. E pra descobrir os assassinos nem é difícil, mas quem se importa? Fã de
soap quer emoções e isso os 20 capítulos me deram. Não é um Scandal ou Revenge
do início, mas serve, porque casa 2 subgêneros que amo.
A minissérie australiana, exibida em 2014 pela Network
Ten, é mais concisa que sua cópia ianque. Os 6 capítulos dispensam vários dos
elementos de soap opera e
desnecessidades pra concentrarem-se no drama provocado pelo assassinato de Tom,
afinal, todo caso policial tem por trás e por diante um vale de lágrimas.
Certamente inspirado em Broadchurch, mas longe de ter
seu clima lúgubre, Secrets and Lies apoia-se mais nos efeitos da suspeita em
Ben e no consequente efeito cascata de infortúnios provocados pelas suas
tentativas de provar a inocência. Como o roteiro não tem que lidar com nome tão
graúdo como Juliete Lewis, o policial (na Austrália é homem) é tenaz, mas não
precisa ser onipresente, potente e ciente, tanto é que Ben descobre a pessoa
que perpetrou o crime juntamente com o Detetive Ian Cornielle. É a mesma que da
releitura estadunidense, mas seu destino é distinto, porque a mini tem final
fechado.
Bem atuada, roteirizada e produzida, Secrets and Lies
não escapa dos atalhos televisivos pra prender audiências. Ben Gundelach é
eficientemente interpretado pelo neo-zelandês Martin Henderson. Como ele é
gostosão – já foi até médico de Grey’s Anatomy e todos sabem que lá é preciso
ser bonito mais do que bom profissional – em 70% do tempo, aparece:
a)
sem camisa;
b)
de camisa aberta mostrando todo o peito;
c)
de camiseta bem apertada delineando os
mamilos
d)
de camiseta regata suada, porque fazia
jogging. Repararam que em filmes e séries todo mundo só faz jogging com
camisa/camiseta/abrigo acinzentado pra realçar melhor as marcas de suor? Acho
nojento, mas aparentemente muita gente goza galões com essas imagens.
Nos restantes 30% ele não está na cena. É uma verdade
universalmente aceita que um ator mostrando o físico interpreta melhor a
“essência” da personagem, né? Correto que o clima australiano requer pouca
roupa, mas os demais homens não aparecem sempre em trajes tão minimalistas...
Ironias a parte, o Secrets
& Lies australiano é pra quem gosta de mistérios policiais e histórias de
detetives. Sem imitar Noir algum, a Network Ten mandou muito bem.
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