Roberto Rillo Bíscaro
Outra forma de denominar o Nordic Noir – filmes, séries
e livros policiais produzidos nos países escandinavos – é Scandi Noir. Como
diversos países vem tirando casquinha desse estilo narrativo gélido, surgiram derivados,
como o Celtic Noir, quando as produções são na Escócia ou País de Gales, caso
das excelentes Shetland e Hinterland (esta última, disponível na Netflix).
Em janeiro deste ano, os seis capítulos da primeira
temporada de Cardinal, produzidos pela canadense CTV ensejaram a criação de
novo derivado, o Can Noir. Encenada no norte do país, neve é o que não falta
nessa adaptação dum romance de Giles Blunt, que tem uma série de livros
protagonizados pelo problemático e macambúzio detetive John Cardinal.
A descoberta dos restos mutilados e congelados duma
garotinha reabrem a investigação de seu desaparecimento e agora assassinato. O
calado e metódico Cardinal fora afastado do caso, quando do sumiço, mas a
descoberta do cadáver o traz de volta e reacende sua obsessão, que apenas
aumenta, quando se constata que há assassino serial agindo na pequena cidade
gelada. Como parceira, Cardinal ganha Lise Delorme, realocada do departamento
de crimes financeiros. O que John ainda não sabe, é que a moça tem agenda
própria.
Cardinal, a série, começa meio morna, apesar do gelo da
ambientação – como se não bastassem os capotes e toneladas de neve, a música
incidental é bloco de gelo ameaçador e triste, ainda que presente em cenas
desprovidas de suspense. Sabe aquela história de tentar criar clima onde não
tem, tipo na temporada primeira de Slasher? Mas, tudo melhora sensivelmente,
quando o serial killer entra em ação no
segundo episódio. Daí, o negócio engrena e a série fica bem tensa e doentia.
O romance original chama-se Forty Words For Snow,
enfatizando então a frialdade do local, sempre muito importante em Noirs
Nórdicos e nesse Can Noir também, óbvio. Como a ideia é adaptar outros livros
de Blunt, a série ganhou o nome do detetive e aí reside o maior pecadilho de
Cardinal. Por mais que tenha se esforçado, o roteiro não consegue fazer com que
nos importemos com John e seus problemas, como acontece em qualquer versão
de Wallander ou na modelar River
(disponível na Netflix). Billy Campbell – da fraca adaptação ianque pra
Forbrydelsen – é apenas um meganha calado com problemas, tão frio quanto a
paisagem. Isso não elimina Cardinal como série assistível, mas não justifica
que leve o nome do detetive. Fãs de Revenge amarão ver Karine Vanasse como
parceira de John e mais interessante que ele, aliás. Karine era a Margaux
LeMarchal (nome chiquérrimo!) da novelona de vingança de Emily Thorne.
Se você tem Netflix e quer série que te dê frio na
espinha pela ambientação e depressão, veja primeira a islandesa Trapped,
recentemente adicionada ao serviço de streaming. Caso já a tenha visto, vá pra
Cardinal com segurança, vale a pena. Mas, veja as duas.
Cardinal foi renovada pra
mais 2 temporadas. Seguro que verei a segunda.
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