Roberto Rillo Bíscaro
Em 1942, Irène Némirovsky morreu no campo de concentração
de Auschwitz, privando o planeta de escritora. Escritos sobreviventes deixados
com as filhas provaram conter 2 partes duma pretendida pentalogia, abortada
pela torpeza nazista. No início deste milênio, as 2 novelas foram publicadas
sob o nome Suíte Francesa e incensadas por meio mundo e meio. Ano passado saiu
o filme homônimo, que fundiu ambas histórias numa trama passada na França rural
ocupada pelos alemães.
A coprodução Inglaterra/França/Bélgica mostra como Lucille,
que vive com sua sogra cúpida e dominadora, se envolve com o tenente alemão
designado a viver sob seu teto, quando a aldeia é ocupada pelos invasores. A
primeira parte de Suíte Francesa dá a impressão que vai seguir certo
relativismo pós-moderno, ao apresentar alemães e franceses como defeituosos de
caráter. Os alemães podiam estar invadindo, mas os invadidos franceses não se
furtavam em escrever-lhes cartas incentivando caça às bruxas. Madame Angellier
dominava Lucille como os germânicos a França, e o tenente Bruno era tão
sensível e diferente do estereótipo nazista, compondo sua suíte romântica.
Mas, felizmente, uma injustiça coloca as coisas nos
trilhos pra mostrar que a despeito de falhas humanas, os bastardos inglórios
eram os invasores com sua ideologia de extermínio étnico, ideológico, de
orientação sexual e religioso. Defeitos todo ser humano têm e esse tal de
relativismo pode acabar pondo culpa em vítima. Isso não ocorre no filme de Saul
Dibb. A segunda parte é bem menos ambígua e “rica”, no sentido de muitos modernetes,
mas mostra que havia mal muito mais amplo a ser combatido, maior até que o amor
individual.
A produção tem aquele tom de comercial de TV e às vezes
esbarra em formulismos. Não que isso estrague Suíte Francesa, perfeitamente desfrutável
pra discussões, pra quem curte drama, bela fotografia, clima “de época”, música
melosa, cine “europeu” e todo o combo.
Tem na Netflix.
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