quinta-feira, 2 de novembro de 2017

TELONA QUENTE 209


Roberto Rillo Bíscaro
Em 1942, Irène Némirovsky morreu no campo de concentração de Auschwitz, privando o planeta de escritora. Escritos sobreviventes deixados com as filhas provaram conter 2 partes duma pretendida pentalogia, abortada pela torpeza nazista. No início deste milênio, as 2 novelas foram publicadas sob o nome Suíte Francesa e incensadas por meio mundo e meio. Ano passado saiu o filme homônimo, que fundiu ambas histórias numa trama passada na França rural ocupada pelos alemães.
A coprodução Inglaterra/França/Bélgica mostra como Lucille, que vive com sua sogra cúpida e dominadora, se envolve com o tenente alemão designado a viver sob seu teto, quando a aldeia é ocupada pelos invasores. A primeira parte de Suíte Francesa dá a impressão que vai seguir certo relativismo pós-moderno, ao apresentar alemães e franceses como defeituosos de caráter. Os alemães podiam estar invadindo, mas os invadidos franceses não se furtavam em escrever-lhes cartas incentivando caça às bruxas. Madame Angellier dominava Lucille como os germânicos a França, e o tenente Bruno era tão sensível e diferente do estereótipo nazista, compondo sua suíte romântica.
Mas, felizmente, uma injustiça coloca as coisas nos trilhos pra mostrar que a despeito de falhas humanas, os bastardos inglórios eram os invasores com sua ideologia de extermínio étnico, ideológico, de orientação sexual e religioso. Defeitos todo ser humano têm e esse tal de relativismo pode acabar pondo culpa em vítima. Isso não ocorre no filme de Saul Dibb. A segunda parte é bem menos ambígua e “rica”, no sentido de muitos modernetes, mas mostra que havia mal muito mais amplo a ser combatido, maior até que o amor individual.
A produção tem aquele tom de comercial de TV e às vezes esbarra em formulismos. Não que isso estrague Suíte Francesa, perfeitamente desfrutável pra discussões, pra quem curte drama, bela fotografia, clima “de época”, música melosa, cine “europeu” e todo o combo.
Tem na Netflix.

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