Entre 26 de agosto e primeiro de outubro de 2014, Kate
Bush fez 22 shows no Apollo Hammersmith, em Londres. Os ingressos – que
chegavam a custar 750 dólares – esgotaram-se em menos de 20 minutos. Um dos
motivos para tamanho assanhamento do público era que Bush não se apresentava ao
vivo desde sua única turnê de início de carreira, em 1978. Na manhã seguinte ao
primeiro espetáculo, o crítico musical da BBC não conseguia esconder a
estupefação de tê-la visto ao vivo.
Kate Bush é tesouro nacional britânico, então não foi
coincidência, que, às vésperas da estreia no Apollo, a estatal BBC4 tenha
exibido os 59 minutos do documentário The Kate Bush Story: Running Up That
Hill, que cobre competentemente sua carreira, desde sua gênese, até seu mais
recente álbum de inéditas de estúdio, 50 Words For Snow (2011). Ainda que não
saiba direito o que fazer com LPs pouco compreendidos ou populares, como o áspero
The Dreaming (1982) ou o lírico duplo Aerial (2005), o programa analisa faixas
e ensaia possíveis explicações inspiratórias e influências.
Tudo de modo a manter intacta a pristina imagem de
reclusa inacessível e autônoma, construída ao longo de décadas de carreira até
meio esparsa, mas influente de assombrar, conforme atesta a diversidade de
gente que topou comentar sobre o impacto de La Bush. Desde óbvios, como seu
incentivador na adolescência, David Gilmour, passando por quadrinistas como
Neil Gaiman; o punk de margarina, John Lydon e chegado ao rapper Boi Boi, do
Outkast. Elton John conta que na festa de seu casamento, os convidados estavam
mais interessados em conhecer Kate do que nos noivos. Tricky, um dos inventores
do trip hop, revela como a despeito de origens sociais diametralmente opostas,
um verso de Breathing lhe serve como lema a vida toda. Peter Gabriel relata
como seu dueto em Don’t Give Up tem sido reinterpretado para diversos contextos
e ajudado tanta gente na lona. O que não conta é que originalmente pensara em
Dolly Parton e Bush só entrou na jogada, quando a country norte-americana não
quis gravar com alguém que não conhecia.
Ao enfatizar a produção de algumas faixas, o
documentário ensina às novas gerações ou relembra os mais velhos sobre como
pioneiros no uso de softwares, como Peter Gabriel e Bush, ajudaram a inventar o
que hoje qualquer moleque faz com apps no celular. Preste atenção nos vidros estilhaçando-se
de Babooshka.
Kate Bush não contribuiu com qualquer material ou
depoimento para The Kate Bush Story: Running Up That Hill. Se a emissora pediu
ou não, vai saber, mas há interesse mútuo em manter a imagem distante. De Bush
para ter paz, da mídia para ter pauta que contraponha esse tipo de artista,
cada vez mais raro, às Spears, que arrotam perante câmeras.
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