REDES SOCIAIS: velhos e jovens.
José
Carlos Sebe Bom Meihy
Diria que em termos de calendário, o ano corrente (que envelheceu
sem dar mostras que há de cair de podre), lentamente mudará em ideias,
assinalando apenas a variação cronológica de 2017 para 2018. As expectativas
são sombreadas de pessimismos, e não convém afastar os gravames de um ano
eleitoral que não se enxuga de falcatruas, escândalos, e lances escusos.
Certamente, teremos expostas diferenças assustadoras que, infelizmente,
dimensionam ódios incontidos, recalques arraigados, achaques agressivos, porque
não conseguem se renovar em essência. Não basta, contudo, identificar os
sintomas em suas planuras reveladas por manifestações que percorrem redes
sociais, notícias de jornais e até afetam convívios íntimos. Qualquer
diagnóstico mais consequente demanda combinar causas arcaicas com novos modos
de expressão. Ainda não assimilamos o impacto das tecnologias e, quase sempre,
aproveitando facilidades, consagramos enfermidades incrustradas em insatisfações
que, sinceramente, não dizem muito de projetos que precisam nascer. E a voz no
coletivo, o tal semianonimato, sem mostrar o rosto ou a responsabilidade da
interlocução argumentativa, faz amanhecer o pão nutritivo da troca de ideias,
da ventilação de opiniões e mobilidades. E como é resistente, petulante,
inflexível a firmeza da raiva política! Dói muito dizer, mas o mundo está
dividido e o que é pior, sob o fado de extremar-se ainda mais.
E não vale apenas dizer que a corrupção é sistêmica,
que os maus políticos são históricos, ou que as eleições resolverão o problema
se votarmos “certo” (entendendo como “certo” os nossos candidatos). Junto com a
resistência dos problemas, há recursos que merecem cuidados conceituais que, se
compreendidos, podem favorecer entendimentos. Por lógico, não se almeja saudar
consensos, mas é desejável o favorecimento de diálogos mais inteligentes do que
o ataque cego e polarizado. Partamos do suposto que reza virtudes na alteração
de posicionamentos. Por que não mudar? Por que não pensar nos argumentos
contrários, se expostos de maneira outra que não o ataque? Ah! que saudade da
metamorfose ambulante. Ambulante, porque variada, conformada com as demandas do
mundo moderno.
O discurso racional está saturado e não mais se sustenta.
A lógica construída em argumentos esticados do passado padece de furos
consequentes e ocasiona vazios. É exatamente aí que se abrigam os argumentos
carcomidos pelo passadismo. Sem admitir mudanças nos meios de comunicação, por
exemplo, corre-se o risco de se manterem binarismos que não mais se explicam. A
sociedade é dinâmica e reclama por consciência disso. O mundo se organiza, com
os novos modelos de comunicação, em redes, mas, de que elas valem se
insistirmos nos mesmos pregões? O plural é o desejo maior da democracia que
precisa trocar ideias e permitir pertencimentos, integração, participação
amplíssima. Não vale mais o “certo/errado”, “bonito/feio”, “bom/mau”. Basta um
giro rápido pelas redes sociais para ver como, sob o jugo da modernização, se
colocam em causas velhas proclamações que, aliás, assumem os fatigados supostos
passados como critérios para futuros. A velocidade alucinante permitida pelos
trilhos da internet (e agora da realidade ampliada) ainda conduzem as cargas azaradas
pelos argumentos pretéritos. O mundo mudou e precisamos mudar com ele. E que
sejam o diálogo e a instrução livre os ponteiros de bússolas navegantes. Chega
de dogmas e fundamentalismos.
Mas, haveria esperança? Pode-se admitir algum otimismo?
Ou, pelo contrário, há de prevalecer a eletrônica atualizada em uso nas mãos de
velhos que não se renovam e não a entendem, por embrutecidos que se tornaram?
Creio no porvir. Com força, acredito que a nova geração saberá lidar com o
mundo em rede e promoverá os avanços necessários para uma vida social mais
justa. A noção de “novo mundo” se anuncia por meio de concepções libertárias da
padronagem que ainda insiste em grassar nos segmentos que não aprenderam com a
realidade horrível que nos cerca. Que fiquem avisados, diga-se, que alguns
direitos humanos são irreversíveis. As mulheres, os racialmente segregados, os
gêneros sexualmente reconhecidos, são arautos de um novo tempo, melhor, porque
mais tolerante e flexível. Democrático. Em conjunto, grupos silenciados emergem
e, tomara, que eles saibam lidar com o atraso e resistência da grande parte da
“ velha” classe média brasileira. E que as redes sociais se constituam em reais
teias de solidariedade e respeito.
Vivemos uma era de
mudanças. Tudo parece ruir. Caem os tais “valores” antes fixos, estáveis e
acomodados em cinismos e hipocrisias. Paradoxo das mudanças, é bom que assim
seja. É bom que tenhamos ciência de que por mais insistentes que sejam os
teores odientos, na medida da inexorável conexão do mundo, aprenderemos a lição
fatal: os jovens estão em rede. Bem-vindos os não jovens que fiam nessa trama.
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