#perseguidos. Albino não morre, só desaparece
O cunhado de Electerio João, então com 22 anos, ligou-lhe numa manhã de outubro de 2015. Tinha um trabalho para ele, podia ganhar algum dinheiro. O jovem, então, com 22 anos, não hesitou. O dinheiro fazia-lhe falta, vivia com a mãe numa casa de argila em Namina, uma pequena aldeia no norte de Moçambique. Quando se encontrou com o cunhado naquele dia, Electerio foi amarrado por este e por três cúmplices, que pretendiam vendê-lo a traficantes que lucram com o comércio de órgãos humanos.
Electerio teve sorte. Depois dos captores esperarem várias horas com ele na berma da estrada, os alegados traficantes chegaram. Eram da polícia. O jovem foi libertado, o cunhado e o cúmplice acabaram presos. Elidia, a irmã de Ricardo Carlitos, um professor primário em Nampula, não teve a mesma sorte: foi raptada e assassinada um mês antes. Um dos seus sequestradores foi detido três dias mais tarde com uma parte de um osso dela. Ricardo acredita que o cunhado está por trás do crime. Chimwemwe Austin, quatro anos, vive com os pais em Lilongwe, a capital do Malawi. Desde que um vizinho sugeriu que a vendessem, a família não quer mandá-la para a escola.
O azar de Electerio, Elidia, Chimwemwe e milhares de outras pessoas em Moçambique, Malawi e Tanzânia é serem albinos. São perseguidos porque se acredita que um pedaço de albinismo – seja um osso ou um pouco de pele – pode trazer sorte e dinheiro à pessoa quem o tenha consigo. Desde o final de 2014, dezenas de albinos em Moçambique foram raptados ou assassinados, muitas vezes por familiares, para que os seus órgãos e partes dos seus corpos fossem vendidos. Em alguns casos, são profanados cadáveres para se retirarem restos mortais para rituais de curandeiros.
"Somos perseguidos como animais", contou Ricardo ao fotógrafo português Daniel Rodrigues, que no outono de 2015 partiu para África para contar estas histórias. O trabalho deu origem à reportagem "The Hunted", publicada este ano no prestigiado diário "The New York Times", e já lhe valeu várias distinções internacionais. Depois, tornou-se uma exposição que está patente até ao dia 20 de janeiro na Galeria Colorfoto no Porto, com o apoio da Fuji. Vale a pena visitá-la, para que o problema dos albinos não seja esquecido.
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